"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica.
Um me distingue, o outro me designa.
É por este sobrenome que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos".
São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, ano 375 D.C.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

SÃO PIO X, rogai por nós! Rogai pela Igreja!

Hoje é dia do Grande Santo PAPA SÃO PIO X!

(Celebrado no novo calendário litúrgico a 23 de agosto)


Há um século subia ao Trono pontifício um Papa santo. Em 4 de agosto de 1903, o Cardeal Giuseppe Sarto foi eleito para o Sumo Pontificado, como sucessor de São Pedro, sendo coroado a 9 do mesmo mês. São Pio X, um dos maiores Pontífices de todos os tempos, foi o único Papa canonizado no século XX.

Vida de SÃO PIO X descrita pelo Papa Pio XII


BREVE APOSTÓLICO DA BEATIFICAÇÃO

 

1- Porque "Cristo amo a Igreja e se entregou a si mesmo para a santificar" (Ef V, 25), nunca faltaram nem poderão faltar, entre os fiéis, os que se avantajem aos outros em virtude, de modo que os seus exemplos sejam propostos à imitação. Por isso em todos os tempos, uma nobilíssima falange de Santos e de Bem-aventurados, ingente multidão "que ninguém pode contar, de todas as nações e tribos e línguas" (Apoc VII, 9), homens e mulheres de todas as idades e condições, não cessarão de acrescer a beleza e multiplicar a alegria da Esposa de Cristo, até à consumação dos séculos.
2- A esta fulgidíssima falange até a nós, que, embora sem méritos, estamos ao leme da barca de Pedro em tempos tão procelosos, concedeu o benigníssimo Senhor que, especialmente no passado Ano Santo, acrescentássemos muitos ilustres heróis, cujo triunfo celebramos com grande alegria do nosso espírito. Mas aprouve a suavíssima clemência de Deus conceder hoje ao Vigário de Cristo na terra uma graça que, há mais de dois séculos, isto é, desde o ano de 1712 em que Pio V foi inscrito no cânone dos Santos por Clemente XI, não foi concedida a nenhum dos Nossos Predecessores: poder agregar ao número dos Bem-aventurados outro Sumo Pontífice, um Pontífice que nós próprio conhecemos, cujas exímias virtudes admiramos de perto, ao qual prestamos dedicada e devotamente a nossa colaboração - Pio X.
 
Ainda menino (reconstituição)
3- Nasceu ele na humilde aldeia de Riese, na diocese de Treviso, a 2 de junho de 1835, filho de João Batista Sarto e Margarida Sanson, ambos de condição humilde mas ilustres pela honestidade e virtude antiga, aos quais Deus circundou de uma coroa de dez filhos. Batizado no dia seguinte, recebeu o nome de José Melchior. Menino de índole vivaz e alegre, sob a direção da sua piedosíssima mãe distinguiu-se de tal modo na piedade que o pároco da freguesia não duvidou proclamá-lo "a mais nobre alma" da paróquia. Depois de completar os estudos elementares na escola local, levado pelo seu grande desejo de estudar mais, freqüentou os estudos secundários, dirigindo-se para isso todos os dias, durante quatro anos, muitas vezes de pés descalços, à próxima povoação de Castelfranco. Recebeu o Sacramento da Confirmação em 1º de setembro de 1845 e fez a Primeira Comunhão em 6 de abril de 1847 e, como mostrasse constante vontade de abraçar o estado eclesiástico, em setembro de 1850 mereceu ver satisfeito o seu ardente desejo de receber as vestes talares e em novembro seguinte, mercê do interesse do Cardeal Tiago Mônico, Patriarca de Veneza e seu patrício, entrou, radiante de alegria, no prestigioso Seminário de Pádua. Quanto aí progrediu em piedade e doutrina pode facilmente deduzir-se do seguinte testemunho dos superiores daquele Seminário: "a nenhum inferior em disciplina, de grandíssima inteligência, de suma memória, de máxima esperança" ( Arquivo do Seminário de Pádua). Os fatos confirmaram plenamente a previsão.
Ainda jovem seminarista

Ordenado sacerdote na igreja principal de Castelfranco em 18 de setembro de 1858, alguns dias depois celebrou solenemente a Missa-Nova na terra natal, em meio da maior alegria dos seus, sobretudo da sua digníssima mãe, bem como de todos os conterrâneos. No mês de novembro de 1858 foi nomeado coadjutor do piodoso pároco de Tômbolo, cuja saúde era bastante precária. Imediatamente aquele venerando sacerdote e os paroquianos, quase todos agricultores, experimentaram e admiraram os egrégios dotes do jovem coadjutor, a sua humildade, pobreza, jovialidade, zelo assíduo em auxiliar de todos os modos o próximo e, além disso, a sua invulgar perícia na pregação. O Bispo de Treviso, ao conhecer estas excelentes qualidades, em 1867 escolheu José Sarto para reger a paróquia mais importante de Salzano. E aí se revelou cada vez mais em quanto amor de Deus e do próximo ele se distinguia pela suavidade de caráter, mansidão, modéstia, amor da pobreza, especialmente durante a terrível peste do ano de 1873.
 
Jovem Padre Giuseppe Sarto
4- Passados nove anos em Salzano, foi nomeado Cônego da Catedral de Treviso, Chanceler da Cúria Episcopal e ainda Diretor espiritual do Seminário. Estes cargos tão honrosos como cheios de responsabilidade, e só aceitos por obediência, pois detestava honrarias e dignidades, exerceu-os com a costumada diligência e perícia, ele que sempre foi inimigo declarado da ociosidade. Em 1879, ficando vaga a Sé de Treviso, foi eleito por unanimidade de sufrágios Vigário Capitular. E também neste ofício deu tais provas de prudência e competência que, em 1884, com aplauso universal, embora contra sua própria vontade e vã relutância, foi nomeado Bispo de Mântua.
 
 
 
Sempre atrás das ovelhas perdidas
 

Padre Guiseppe Sarto, em pé (lado direito)
5- Sagrado nesta cidade de Roma, na igreja de Santo Apolinário, a 16 de novembro, entrou na diocese em abril do ano seguinte, para logo começar a difundir com maior profusão os tesouros de generosidade da sua alma a favor do novo rebanho místico confiado aos seus cuidados,"fazendo-se tudo para todos"(1 Cor IX, 22), a fim de conquistar a todos para Cristo e prover às muitas e graves necessidades da Igreja Mantuana. Deve recordar-se, antes de mais, o seu ardentíssimo xelo para que os Seminaristas, como o requeriam os tempos e as circunstâncias, fossem convenientemente educados, para que as associações católicas fossem verdedeiramente ativas e fosse acrescido o decoro da Sagrada Liturgia. Desde então, desapareceram desconfianças e inimizades, arrrancaram-se vícios muito inveterados, suprimiram-se escândalos, restaurou-se o cumprimento dos mandamentos de Deus, cresceu maravilhosamente a fé, reforçou-se a honestidade dos costumes. Que admira, pois, que entre os Mantuanos o Bispo José Sarto gozasse fama da santidade, ele que, movido unicamente pela ardentíssima caridade cristã,costumava não só distribuir aos numerosíssimos pobres dinheiro, alimentos e vestuário, mas até beijar-lhes de joelhos os pés?
 
Bispo de Mântua
 
6- Leão XIII, de gloriosa memória, que tinha grande estima e singular afeto ao Bispo de Mântua, no Consistório de 12 de junho de 1893 alistou-o entre os Cardeais e, três dias depois, nomeiou-o Patriarca de importante Igreja de São Marcos de Veneza, a fim de que se visse claramente que a honra da Púrpura Cardinalícia, mais do que a Sé, embora digníssima, se conferia ao homem de méritos excepcionais.
 
7- A maravilhosa cidade, Rainha do Adriático, que há tanto esperava um novo Patriarca, recebeu-o
Cardeal Patriarca de Veneza
com enorme júbilo e universal aplauso em 24 de novembro de 1894, e logo os venezianos de todas as condições foram conquistados pela sua afabilidade e virtude. Realmente, excetuadas as vestes e os distintivos próprios da dignidade cardinalícia, nada mudou na vida íntima e nos usos do Servo de Deus. A mesma humildade e desprezo de si próprio, o mesmo amor à pobreza e ao trabalho, o mesmo ardentíssimo e constante zelo pela glória de Deus e salvação das almas.
 
8- Como em Mântua, assim em Veneza se preocupou antes de mais com restaurar a disciplina e promover a santidade do Clero, renovar e fomentar a piedade do povo e a prática das virtudes cristãs, restaurar a dignidade das sagradas cerimônias e do canto eclesiástico, reformar os costumes, abolir abusos, reivindicar com suavidade e fortaleza os direitos da Igreja.
 
9- Falecido Leão XIII em 1903, o cardeal José Sarto, a 4 de agosto do mesmo ano, foi elevado ao fastígio do Sumo Pontificado que aceitou, com relutância e com lágrimas, "como uma cruz", tomando o nome de Pio X. Estabelecido na Cadeira de São Pedro, vendo o que exigia o bem da Religião e o que reclamavam os tempos, tomou como lema do seu pontificado esta sublime e insigne divisa: instaurare omnia in Christo. O Servo de Deus, tendo experimentado que nada poderia contribuir mais eficazmente para a renovação dos homens em Cristo do que a vida do Clero, esforçou-se com particular empenho por que todos os chamados para o serviço do Senhor se distinguissem pela piedade, ciência e obediência.
   
Santo Padre o Papa Pio X
10- Por isso é que na primeira Carta Encíclica "E supremi" quis abrir a sua alma ao Clero, exortando-o vivamente a só se compenetrar das coisas celestes e só a estas procurar. Volvendo particulares cuidados para os Seminários da Itália, deu-lhes nova organização e favoreceu neles muitíssimo o estudo das ciências sagradas e profanas; excitou os cultores da filosofia cristã a pugnarem pela verdade tomando por guia Santo Tomás de Aquino; erigiu em Roma o Instituto Bíblico e, por ocasião de seu cinqüentenário sacerdotal, numa suavíssima exortação, estimulou todo o Clero a observar diligentemente os deveres do próprio ministério. Mandou reunir as leis da Igreja, até então dispersas por muitos volumes, em um corpo adaptado às condições do tempo e reorganizou a Cúria Romana para que se tornasse mais rápido o expediente dos serviços.
 
11- Preocupado ao máximo com a eterna salvação das almas, providenciou para que fosse devidamente ensinado o catecismo às crianças e adultos; estabeleceu sábias normas para a pregação; ordenou que a música sacra se conformasse com a majestade das sagradas funções. Fautor da santidade e da inocência, inspiriado pelo amor divino, introduziu o uso da Comunhão freqüente e até cotidiana e estabeleceu que as crianças se aproximassem da Primeira Comunhão desde os mais tenros anos; além disso, alimentou a acendeu em todos os filhos da Igreja maior amor ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Mestre infalível da fé, na memorável Encíclica "Pascendi" denunciou e reprimiu com o necessário rigor doutrinas que formavam uma triste síntese de todos os erros.
12- Acérrimo defensor da Religião e fortíssimo guarda da liberdade da Igreja de Cristo, cônscio do seu ofício pastoral, aboliu o chamado Veto civil na eleição do Pontífice Romano; repudiou impavidamente as leis da separação do Estado da Igreja; à França afligida pela perseguição, deu novos Bispos, e resistiu à audaciosa erupção da malícia dos homens. Para defesa da Religião, restaurou a disciplina da Ação Católica e tornou-a mais sólida; deu novo desenvolvimento à ação social dos católicos: conduziu com sapientíssimas leis as associações operárias para o caminho religioso; reforçou as Ordens Religiosas com mais oportunas normas jurídicas.
 
13- A fim de promover e preservar a fé cristã, erigiu em Roma novas paróquias e fomentou por todas as formas a vida paroquial; proveu às múltiplas necessidades das Dioceses; difundiu no mundo a palavra de Deus com a missão de arautos do Evangelho; empregou todos os esforços para reconduzir à unidade da Igreja os Orientais dissidentes e, como verdadeiro Pai amantíssimo dos pobres e dos órfãos, nunca deixou de atender a quaisquer desgraças do seu povo.
 
    
14- Não vencido pelo trabalho, mas esmagado de acerbíssima dor por causa da infeliz e cruel guerra européia declarada nesses dias, começou a sentir-se mal em 15 de agosto de 1914 e, tendo-se agravado rapidamente a doença, no dia 19 chegou ao extremo. Confortado com todos os Sacramentos da Igreja, a 20 do mesmo mês trocou placidamente a vida mortal pela eterna, chorado por todo o mundo católico e logo proclamado Santo, como a primeira e a mais nobre vítima da guerra que já alastrava com furor. Celebradas solenes exéquias na Basílica de São Pedro a 23 de agosto, foi sepultado nas Grutas Vaticanas, no lugar que em vida tinha escolhido para o seu túmulo. O povo católico considerava-o imediatamente, à conta das exímias virtudes que lhe tinham adornado a vida, como intercessor junto da Majestade Divina.

 


SÃO PIO X, rogai por nós!
 
*                *                *                *                *
 

Nos primórdios do século XX, no mundo inteiro pipocavam revoluções de cunho anarquista, visando abalar as últimas colunas que restavam da Civilização Cristã.
 
E na Santa Igreja a situação não era menos grave. Verdadeiras heresias, infiltradas nos meios católicos, minavam os fundamentos da Igreja  duas vezes milenar. Compelida a combater os inimigos externos, a Igreja estava sendo corroída também por inimigos internos, principalmente pela conspiração organizada pelo movimento então denominado modernista — precursor do progressismo católico de nossos dias.

Nessa terrificante encruzilhada, morre o Papa Leão XIII, a 20 de julho de 1903.

Urgia, em vista desse quadro, o aparecimento de um providencial defensor da Igreja e da Cristandade. A Divina Providência suscitou então um Papa Santo, dotado de extraordinária grandeza de alma.

Eleição e coroação de São Pio X

Transcorridos os 11 dias de orações, prescritos para sufrágio da alma do Papa Leão XIII, recém-falecido, os cardeais da Santa Igreja (em número de 62, na época) iniciaram o Conclave — reunião do Colégio cardinalício com o objetivo de eleger o novo Papa.

Os primeiros escrutínios indicavam a escolha do Cardeal Rampolla — que fora colaborador direto de Leão XIII. Mas no dia 1º de agosto foi comunicado aos cardeais, no Conclave, o veto do Imperador da Áustria, Francisco José. Veto que, segundo uma tradição, poderia ser exercido pelo Imperador austríaco.
 
Devido a isso, o Cardeal Giuseppe Sarto, de Veneza, passou a ser o preferido. Entretanto, num exercício de autêntica humildade, pedia aos cardeais que nele não votassem. Mas ele era o escolhido também pela Divina Providência. No sétimo turno da votação, o Cardeal Sarto, por insistência de vários de seus pares no Sacro Colégio, acabou aceitando(1) e foi eleito o 259º sucessor de São Pedro, por 50 votos a seu favor, no dia 4 de agosto de 1903.

O Cardeal Sarto, de cabeça baixa, ouviu o resultado do sufrágio. Segundo o costume, aproximou-se dele o Cardeal Decano e perguntou-lhe se aceitaria ou não a eleição à Sede Pontifícia.

Com os olhos banhados em lágrimas, e a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, respondeu: “Se não for possível afastar de mim esse cálice, que se faça a vontade de Deus. Aceito o Pontificado como uma cruz”.(2)

Após cinco dias, teve lugar a grandiosa cerimônia de coroação do sucessor de São Pedro, para a glória da Santa Igreja.

Magníficas obras pela restauração da Cristandade


O Cardeal Sarto deixa Veneza rumo ao Conclave, onde será eleito Papa
O glorioso, árduo e fecundo pontificado desse Vigário de Cristo durou 11 anos. Nesse período, foram lançados mais de 3.000 documentos oficiais, com o objetivo de Instaurare omnia in Christo — conforme seu lema. E tem estreita analogia com esta sua afirmação: “Se alguém pedir uma palavra de ordem, sempre daremos esta e não outra: Restaurar todas as coisas em Cristo”.(3)

Nesse sentido de restaurar todas as coisas em Cristo, foram numerosas e admiráveis as obras empreendidas pelo Santo Pontífice para defender a Civilização Cristã gravemente ameaçada.

Em seu esplêndido livro de memórias, o Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado de São Pio X, enumera de passagem algumas dessas obras:

“A reforma da Cúria Romana; a fundação do Instituto Bíblico; a construção de seminários centrais e a promulgação de leis para a melhor disciplina do clero; a nova disciplina referente à primeira comunhão e à comunhão freqüente; o restabelecimento da música sacra; a vigorosa resistência movida contra os fatais erros do chamado modernismo e a corajosa defesa da liberdade da Igreja na França, Alemanha, Portugal, Rússia e outros países, sem aludir a outros atos de governo, justificam certamente que Pio X tenha sido destacado como um grande Pontífice e um diretor humano excepcional. Posso testemunhar que todo esse enorme trabalho foi devido principalmente e — muitas vezes — exclusivamente à sua própria idéia e iniciativa. A História haverá de proclamá-lo como algo mais que um Papa cuja bondade ninguém seria capaz de discutir.

Os limites que me impus ao traçar estas breves Memórias me impedem de entrar a fundo no estudo das diversas e importantes questões a que mais acima me referi; mas há uma delas cuja importância creio merecer especial atenção neste curto relato, e esta é a compilação do novo Código de Direito Canônico”.(4)

* * *
O Cardeal, fidelíssimo Secretário de Estado de São Pio X, passa a narrar o intenso trabalho do Santo Padre para reorganizar e aprimorar o novo Código, uma vez que o anterior era um emaranhando confuso, uma legislação que se prestava a diversas interpretações. Foram 11 anos de trabalho quase ininterrupto, mas ao cabo dos quais a admirável codificação ficou praticamente pronta nos últimos dias de São Pio X, em 1914. Seu sucessor, Bento XV, rendeu-lhe uma merecida homenagem, promulgando o novo Código elaborado por seu augusto predecessor.

Mansidão do cordeiro, força do leão
 
São Pio X na solenidade de Corpus Christi
 
Uma palavra a respeito de uma característica em que se destacou no mais alto grau São Pio X: sua extrema bondade, ao lado de uma indomável energia. Sobre isso, nada melhor que darmos a palavra a quem o conheceu mais de perto, e devotadamente o serviu por 11 anos — seu próprio Secretário de Estado, o Cardeal Merry del Val:

“Seria um grande erro crer que esta característica [a bondade] tão atraente de Pio X o retratasse plenamente ou resumisse seus dotes e qualidades; nada mais longe da verdade. Ao lado dessa bondade, e de modo feliz combinada com a ternura de seu coração paternal, possuía uma indomável energia de caráter e uma força de vontade que podiam testemunhar, sem vacilação, os que realmente o conheceram, embora em mais de uma ocasião surpreendesse, e até causasse estranheza àqueles que somente haviam tido ocasião de experimentar sua delicadeza e reserva habituais.

Mantinha um absoluto senhorio de si e dominava os impulsos de seu ardente temperamento. Não vacilava em ceder em assuntos que não considerava essenciais, e até estava disposto a considerar e aceitar a opinião de outros se isso não implicasse em risco para algum princípio; mas não havia nele nenhuma debilidade.
 
São Pio X em Santa Missa Pontifical Solene
 

Quando surgia alguma questão na qual se fazia necessário definir e manter os direitos e liberdade da Igreja, quando a pureza e integridade da verdade católica requeriam afirmação e defesa, ou era preciso sustentar a disciplina eclesiástica contra o relaxamento ou influência mundanas, Pio X revelava então toda a força e energia de seu caráter e o intrépido valor de um grande Pontífice consciente da responsabilidade de seu sagrado ministério e dos deveres que julgava ter que cumprir a todo custo.

Era inútil, em tais ocasiões, que alguém tratasse de dobrar sua constância; toda tentativa de intimidá-lo com ameaças, ou de afagá-lo com sedutores pretextos ou recursos meramente sentimentais, estava condenada ao fracasso”.(5)

A conjuração do movimento modernista
 
Esse santo varão, que derramava copiosas lágrimas considerando a paixão da Santa Igreja, era entretanto de uma severidade ímpar contra o mal. Depois de esgotar todos os recursos ao seu alcance para levar alguém à conversão, severamente condenava. Estava sempre disposto a perdoar, por assim dizer, maternalmente. Mas se a pessoa persistisse no erro e, pior, procurasse contaminar outros com seus desvios, o Santo Papa a reprovava energicamente. Foi o que ocorreu quando condenou o movimento modernista — “síntese de todas as heresias”, conforme o definiu —, que se infiltrara sub-repticiamente nas próprias fileiras católicas, com a finalidade de modernizar, adaptar e deturpar inteiramente o ensinamento tradicional da Igreja.
Assim, o Santo Padre lançou várias advertências aos mentores desse movimento, os quais não as levaram em consideração, pois se obstinavam no mal e procuravam corromper outros membros da Igreja e até mesmo da alta Hierarquia eclesiástica. Publicou então sua estupenda Encíclica Pascendi Dominici Gregis, de 8 de setembro de 1907, fulminando o modernismo [pequeno trecho abaixo destacado em amarelo]. Tal documento completava a condenação já expressa no Decreto Lamentabili Sane Exitu, de 3 de julho do mesmo ano.
O neomodernismo de nossos tempos

Como se pôde observar, vem de há muito a tentativa de infiltração no interior da Santa Igreja, por parte de inimigos velados ou declarados, a fim de “modernizar”, adaptar aos novos tempos e adulterar o Magistério tradicional e infalível da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Peçamos ao ínclito Papa São Pio X o discernimento, a argúcia, a energia e a combatividade que ele teve ao enfrentar destemidamente as raízes dos erros que, em nossos dias, professa o chamado progressismo católico, continuador do modernismo de sua época.
 
São Pio X celebrando Pontifical Solene
 
 
 São Pio X condena o modernismo
 
Os mais perigosos inimigos da Igreja
 
“Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos desígnios; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes, que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado. Batida pois esta raiz da imortalidade, continuam a derramar o vírus por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica, nenhuma verdade há que não intentem contaminar. E ainda vão mais longe; pois, pondo em obra o sem número de seus maléficos ardis, não há quem os vença em manhas e astúcias, porquanto fazem promiscuamente o papel ora de racionalistas, ora de católicos, e isto com tal dissimulação, que arrastam sem dificuldade ao erro qualquer incauto; e sendo ousados como os que mais o são, não há conseqüências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos (nº 3) [...].
Já não se trata aqui do velho erro, que à natureza humana atribuía um quase direito à ordem sobrenatural. Vai-se muito mais longe ainda; chega-se até a afirmar [na doutrina modernista] que a nossa santíssima religião, no homem Jesus Cristo assim como em nós, é fruto inteiramente da natureza. Nada pode vir mais a propósito para dar cabo de toda ordem sobrenatural” (nº 10). (Encíclica de São Pio X sobre as Doutrinas Modernistas, Pascendi Dominici Gregis, de 8-9-1907, Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 1948, pp. 4-5; 10-11).



Corpo incorrupto de São Pio X

SÃO PIO X,  rogai por nós! Rogai pela Igreja!
 
Fontes usadas para compor esse artigo: www.lepanto.com.br

                                                               Zelo Zelatus Sum

Encíclica completa: Pascendi Dominici Gregis de São Pio X sobre o modernismo: AQUI



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