"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica.
Um me distingue, o outro me designa.
É por este sobrenome que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos".
São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, ano 375 D.C.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

SÃO DAVID GALVÁN BERMÚDEZ, rogai por nós!

Hoje é dia de São David Galván Bermúdez!

Filho do senhor. J. Trinidad Galván Trejo e da senhora Mariana Bermúdez Rodríguez, nasceu no dia 29 de janeiro de 1881 em Guadalajara e recebeu o batismo em 2 de fevereiro na Igreja de Nossa Senhora do Pilar.

Quando tinha apenas 3 anos de idade, sua mãe faleceu e David ficou aos cuidados de seu pai e seus irmãos. Mais tarde tendo seu pai casado novamente, passou a ser cuidado também por sua madrasta Victoriana Medina. Recebeu o sacramento da Crisma em 19 de setembro de 1886 na Igreja chamada "da Universidade", ou seja, na Igreja de São Tomás, que pertencia em sua época ao Colégio dos Jesuítas; anos depois o Colégio foi transformado em escritório de Telégrafos e atualmente funciona como Biblioteca-Museu. Ainda criança David Galván participou como coroinha e também no coral de Infantes da Catedral de Guadalajara.

Logo manifestou a seu pai o desejo de ingressar no Seminário, tendo ele aceitado levá-lo para matricular-se em outubro de 1895. Alí cursou como aluno aplicado e sempre obtendo boas notas os cinco anos de latín e humanidades. Terminados os estudos, saiu do Seminário.

Os três años em que esteve fora do Seminário, trabalhou numa sapataria, além de dar aulas como professor de escola primária. Teve uma conduta um tanto desregrada nesse tempo, ao ponto de ter sido detido numa briga com sua namorada.
Passada essa experiência, o jovem David, contando vinte e um anos de idade, sentiu novamente o intenso desejo de voltar ao Seminário, porque ouvia em seu interior o chamado de Deus; tornou-se muito devoto, piedoso e assíduo à oração e aos atos de culto; visitava o Santíssimo Sacramento e a Virgem de Zapopan e a invocava dizendo-lhe:
 
"Minha Mãe, dai-me um norte para que eu conheça minha vocação"
Antes de admití-lo, o Reitor do Seminário, Miguel de la Mora (São Miguel de la Mora, também mártir cristero), o submeteu durante um ano a provas rigorosas que ele superou de maneira admirável, demonstrando vivo desejo em ser admitido. Já novamente seminarista, apresentou excelente conduta como aluno exemplar, piedoso e aplicado, ocupando quase sempre o primeiro lugar nas aulas.

No sábado, 7 de novembro de 1903 o senhor Arcebispo José de Jesús Ortiz lhe conferiu a Primeira tonsura Clerical e no dia 23 de dezembro de 1905 as Ordens Menores.
Em outubre de 1907, no ínicio do ano escolar, foi nomeado professor do 2º. Curso de Latín no Seminário de Guadalajara; nesse curso e nos seis anos em que foi professor do Seminário desempenhou tais funções com grande estima por parte de seus superiores pelos bons resultados de suas aulas e o aproveitamento dos alunos, que muito o admiravam por sua sabedoria.

No ano de 1909 pelo ministério do senhor Arcebispo José de Jesús Ortiz, na Igreja da Soledad, o jovem David Galván foi ordenado diácono e em 20 de maio, festa da Ascensão, recebeu a Ordenação Sacerdotal.

Em setembro de 1910, toda a República Mexicana celebrava o primeiro centenário da proclamação de sua independência.
Juan Robles Hurtado, prefeito municipal de Mascota - Jalisco, assistiu às festas centenárias na capital do México, e quis levar consigo seu irmão José Maria Robles (São José Maria Robles, também mártir de Cristo), que por sua vez convidou ao Padre David Galván, então seu professor de Lógica.
O Padre Ramiro Camacho assim descreve a São David Galván Bermúdez:

"Índio de musculatura forte e robusta, um de seus olhos enxerga com dificuldade, puro de alma e corpo, admirado por seus discípulos por sua coragem e bravura".
No diário deixado por São José María Robles, dentre os diversos relatos interesantes sobre a viagem que fez acompanhado de São David Galván Bermúdez, encontramos a seguinte informação que nos dá uma idéia do anticlericalismo vigente na época:

Día 27: "Comemos e em seguida visitamos Veracruz... O Padre Galván e eu, temos andado "à paisana" como laicos, porque aqui há muito anticlericalismo; quase não há piedade... A tonsura tivemos de deixar crescer (refere-se ao cabelo da região superior-traseira da cabeça que é raspada nos clerigos quando são tonsurados); sendo notada somente se observada com atenção; é certo que nem por mal pensamento se deve supor que somos eclesiásticos"....
No Informe do Seminário de 1911 o Reitor, presbítero Dr. José Mercedes Esparza, fez um público reconhecimento do Padre Galván por seu meritório trabalho como diretor da revista do Seminário, "Voz que dá Fôlego", que publicou dezesete números de dezembro de 1910 a março de 1912 com vinte páginas cada exemplar.

Nos anos de 1909 a 1914 o Padre Galván também foi Capelão do Orfanato da Luz e do Hospital de São José, situados no bairro da Capilla de Jesús; com extrema caridade e atenção tratou aos enfermos, às meninas órfãs e às religiosas encarregadas destas casas.
O Sacerdote Mártir de Cristo, David Galván Bermúdez
Os testemunhos declaram que o Padre Galván celebrava com grande devoção a Santa Missa, para a qual se preparava com uma hora de oração, e depois dava graças com grande fervor. Passava longos momentos em oração diante do Santíssimo, todos os dias, pela manhã e pela noite, na Igreja de Santa Mônica, anexa ao Seminário. Em sua vida sacerdotal deu exemplo de muitas virtudes porque foi sensível, humilde, obediente e serviçal; nutria grande devoção pela Santíssima Virgem Maria, honrando-a diariamente com a reza do Santo Rosário e transmitia essa devoção às crianças.

Esforçava-se por mortificar seus sentidos para evitar as ocasiões de pecado e ter pureza em todos seus atos.

Procurou sempre ajudar aos necessitados proporcionando instrução aos ignorantes, remédios aos enfermos e auxílios espirituais aos moribundos, sem que o impedisse a chuva, o frio, o sol, os barrancos ou quaisquer outras dificuldades.

No mês de julho de 1914 entrou em Guadalajara tropas do exército do general Venustiano Carranza, dissolvendo templos, conventos, seminaristas, religiosos e sacerdotes. Por esses dias os alunos e os professores do Seminário foram dispersados pelas forças do exército.
Por essa razão o Padre Galván foi designado nesse ano, como vigário, a Amatitlán - Jalisco. Neste lugar uma jovem lhe pediu um conselho, já que Enrique Vera, militar carrancista, queria seduzí-la, sendo que era casado. O Padre Galván lhe aconselhou que se escondesse e que seus pais fizessem o mesmo. A jovem cometeu a imprudência de dizê-lo a Vera, despertando neste militar um verdadeiro ódio ao sacerdote, fazendo-o desejar uma vingança contra o Padre.
No fim do ano de 1914 chegaram para prendê-lo duas escoltas militares do tenente Enrique Vera, alegando ouvir rumores de que o Padre planejava levantar-se em armas. Ao detê-lo, São David pediu aos soldados permissão para consumir o Sagrado Depósito do Sacrário, pedido este concedido; no entanto, os soldados adentraram a Igreja, aproximándo-se do altar, com os chapéus nas cabeças e fumando, postura que para o Padre Galván causou grande indignação.

Os soldados o levaram preso a Tequila - Jalisco.
Também o mantiveram preso em Ameca - Jalisco, e depois em Guadalajara, na prisão de Escobedo. No mês de dezembro o deixaram em liberdade e os superiores da cúria Diocesana tiveram a idéia de enviá-lo a El Salvador e Atemanica - Jalisco, inclusive ele estava disposto a ir, porém nunca lhe entregaram a nomeação.

Em 18 de janeiro de 1915, doze dias antes de sua morte, passou mas de seis horas auxiliando os feridos na linha de fuego em um terrível combate entre "villistas" e "carrancistas" em Las Juntas - Jalisco.


Na madrugada do sábado - 30 de janeiro - os soldados villistas de Julián Medina atacaram os carrancistas que mantinham dominada a cidade de Guadalajara e muitos caíram mortalmente feridos. O Padre Galván estava hospedado em uma casa do bairro do Santuário, na Rua Pedro Loza, onde, ao ouvir os ruídos do confronto, levantou pronto para ir auxiliar os feridos. Enquanto lhe pediam que não saísse porque o matariam, Padre Galván lhes respondeu:
"Não haverá maior glória do que morrer salvando uma alma que eu consiga absolver!"



Pediu ao Padre Rafael Zepeda Monraz que o acompanhasse para confessar os feridos, porém este sacerdote não quis acompanhá-lo devido ao grande perigo e lhe disse que não estavam obrigados a ir porque não eram os párocos ou ministros dequela região, ao que o Padre Galván lhe respondeu:
"Não por obrigação, mas sim por caridade".
Pediu a ampola dos Santos Óleos e foi ao templo da Soledad, próximo à Catedral, chamando o Padre José María Araiza para auxiliar aos que seriam fusilados, porque tinha permissão do general. Em seguida os dois caminharam em direção ao Jardim Botânico quando ao passar em frente ao quartel, os soldados lhes perguntaram se eles eram religiosos e eles responderam que sim, eram sacerdotes, pelo que os soldados os detiveram.

O tenente coronel Enrique Vera odiava o Padre Galván porque antes este mesmo padre lhe havia impedido de seduzir e raptar a uma senhorita. Neste mesmo dia Vera ordenou que os sacerdotes fossem encarcerados em um quarto do quartel. Assim o fez por seu ódio à Fé e para se vingar do sacerdote.

Estando presos há duas horas, os dois sacerdotes fizeram sua confissão sacramental e se deram mutuamente a absolvissão. Às palavras do Padre Araiza, que lamentava por não ter sequer tomado o café da manhã, o Padre Galván lhe respondeu:



"Não importa, nós vamos comer com Deus".


Rosalío Lozano, uma das testemunhas do martírio de São David, perguntou aos villistas a razão de tal aglomeração de soldados e lhe responderam que haviam levado presos a dois sacerdotes, o Padre Galván e o Padre Araiza.


Com autorização do general Manuel M. Diéguez, governador do Estado, o militar carrancista Enrique Vera ordenou ao pelotão de soldados que levassem os dois sacerdotes para a Rua Coronel Calderón junto à parede oriente do Hospital Civil e que alí os fuzilassem.

Quando os retiraram, Petra - filha de Rosalío Lozano - e seu irmão menor se puseram a observar pelas "frestas" das portas de sua casa: o Padre David - recorda Petra - trazia as mãos atadas às costas e mantinha sua cabeça baixa; de seu pescoço pendia um longo cachecol branco.


Eram doze horas do dia 30 de janeiro de 1915; o Padre Galván, percebendo que sua morte era iminente, entregou aos soldados as moedas e outros objetos pessoais e a ampola com os Santos Óleos.

Em seguida, retirou seu chapéu, e sem permitir que le cubrissem os olhos, apontando para o próprio peito, disse aos algozes:


"Atirem aqui".

O subtenente Martín Ocampo ordenou a execução, os soldados dispararam as armas e o Padre caiu fusilado, vítima do ódio à religião de Jesus Cristo.

Petra nos conta que, depois destes acontecimentos, ela e muitas outras pessoas começaram a venerá-lo e a levar ao local de sua morte, pedrinhas e velas que com o tempo acabou formando uma espécie de altar, até que "tal gesto passou a desagradar o governo que por fim acabou com essa devoção".

Os familiares e amigos pediram às autoridades civís e militares a liberdade para os dois sacerdotes, mas quando chegaram com a ordem de indulto os soldados já haviam fuzilado o Padre Galván, servindo o indulto somente ao Padre José María Araiza, a quem mesmo assim mantiveram preso por mais cinco dias soltando-o somente quando lhes pagaram grande quantia em dinheiro.
Os restos mortais de Padre Galván, foram recolhidos pelas professoras María Dolores Alcaraz e María Soledad Dueñas que os colocaram num caixão e os conduziram em meio de uma silenciosa marcha e de uma grande multidão, até o colégio do Menino Jesus, localizado na Rua de Pedro Loza, onde foram velados por toda a noite por gente piedosa e por seus discípulos, amigos e companheiros.

O impressionante sepultamento ocorreu na tarde do domingo, 31 de janeiro de 1915. O cortejo fúnebre foi apoteótico, formado pela multidão de pessoas de todas as classes sociais, não obstante o temor que reinava nesse momento de perseguição.



Relíquias de São David Galván Bermúdez


Desde esse dia, os fiéis consideraram mártir o Padre David Galván; logo essa veneração se extendeu por todo o México.
Em junho de 1922 os restos do Padre David Galván foram depositados em um templo construído próximo ao lugar do martírio, a atual Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no bairro de El Retiro, na cidade de Guadalajara - Jalisco.

O Padre David Galván foi declarado Beato pelo Papa João Paulo II no dia 22 de novembro de 1992 em cerimônia celebrada na Basílica de São Pedro em Roma, junto com seus 24 Companheiros Mártires Mexicanos.
No grande Jubileu do ano 2000 da Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Papa João Paulo II celebrou a Canonização deste Santo Mexicano.

SÃO DAVID GALVÁN BERMÚDEZ, rogai por nós!
Tradução e adaptação: Morro por Cristo

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

11º PAPA: Santo Aniceto - ano 155 a 166

Papa Santo Aniceto (11º Papa)
Pontificado: do ano 155 ao ano 166


Natural da Síria, era Aniceto o Sucessor de São Pio I na cadeira de São Pedro. O governo deste Pontífice coincide com o tempo do imperador romano Antônio. Não é certo se morreu mártir pela fé; é, porém, fora de dúvida, que tanto lhe foram os sofrimentos e aflições pela causa de Cristo que a Igreja lhe conferiu o título honroso de mártir.
 
Padre Murad, decapitado na Síria, terra de Santo Aniceto
Além das perseguições oficiais por parte do governo romano, existiam perigosas heresias, que faziam periclitar a existência da Igreja. Embora fosse ela edificada sobre rochedo, contra o qual o inferno em vão dirige os ataques, grande número dos fiéis abandonou a fé, correndo atrás do fogo fátuo de seitas errôneas. Grande foram os estragos que o herege Valentim causou ao rebanho de Cristo.
                                                  
A essa obra perniciosa associou-se uma adepta da seita imoralíssima dos Carpocratitas, Marcelina, a qual levou muitas pessoas a apostasia. Ainda um tal Marción, herege e propagandista temível, propalava o veneno da heresia entre os cristãos, havia tempo.

O Papa Aniceto envidou todos os esforços para impedir o progresso da obra de Satanás e reconduzir ao seio da Igreja os pobres transviados.

Deus lhe enviou um auxiliar de grande valor, na pessoa de São Policarpo. Este discípulo de São João Evangelista, veio a Roma, e em demonstrações públicas, provou que a Igreja de Roma, na doutrina, era idêntica a de Jerusalém. Esta declaração causou a conversão de muitos hereges.

Num ponto, aliás, de ordem secundária, houve divergência entre Policarpo e Aniceto, quanto ao tempo da celebração da Páscoa. Os cristãos do Oriente comemoravam a Páscoa com os Judeus, quando na Igreja Romana não existia este uso. Policarpo, desejoso de ver Roma adotar o uso da Igreja asiática, não conseguiu esta uniformização. Aniceto opinava e com razão, que não devia abolir um costume introduzido e aprovado pelo príncipe dos Apóstolos. Entretanto, deixou aos cristãos orientais toda a liberdade na celebração da Festa da Páscoa, como eram acostumados desde os dias de São João Evangelista.

 
 

Santo Hegesipo era outro auxiliar estimável, que eficazmente dirigiu forte campanha contra as heresias. Num livro que escreveu, sobre a tradição, provou que a doutrina passou, pura e inalterada, dos Apóstolos ao Papa Aniceto e demonstrou que a mesma doutrina era conservada e ensinada, sem a mínima alteração.

 
Considerado de perfeita inteligência e santidade de vida, o Papa Aniceto destacou-se por ter sido o primeiro papa a condenar oficialmente uma doutrina como heresia, em concreto e o montanismo.
 
Foi sepultado nas catacumbas de São Calisto. Sua comemoração litúrgica se dá a 17 de abril.

O martírio do Papa Santo Aniceto

Santo Aniceto Papa, rogai por nós! Rogai pela Igreja da qual fostes o Pastor!
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

O "Bofe da Igreja"

Autor: Paulo Roberto Campos


Segundo Leonardo Boff, a Igreja deveria ser destituída de todo poder. Seria uma "igreja ecológica" (sic) e que vivesse "fora dos palácios e dos símbolos do poder"
No último post tratamos de quanto é contrária à da Igreja Católica a visão de Frei Beto (A concepção de Frei Beto sobre a Igreja é diametralmente oposta à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo). No mesmo sentido, recebi ontem um artigo de outro “teólogo” da libertação. Trata-se de Leonardo Bof, cujo sobrenome — como fiz em relação ao pseudônimo de Frei Beto — grafo com um só “f”, pois ambos são miserabilistas e contrários ao supérfluo, devendo, portanto, ser “simples” em tudo...


Leonardo Boff e sua atual companheira
Aliás, Bof também deveria, em razão da “pobreza” e da “simplicidade” que defende, desapegar-se do prenome “Leonardo”, pois este é seu nome religioso, ao qual só tinha direito enquanto foi franciscano. Desde que abandonou sua Ordem religiosa, em 1992, e juntou-se à madame aí do lado, voltou de fato a ser o Genézio Boff constante de seu registro civil.

Mas, voltando ao mencionado artigo, trata-se de uma matéria do Sr. Genézio Bof para o “Jornal do Brasil (on-line), do dia 17 último, intitulada “O papa Francisco chamado a restaurar a Igreja”. Nela não transparece a humildade franciscana — a cujo chamado ele voltou as costas —, mas sim a pretensão de querer dar lições de “Teologia da Libertação” ao próprio Papa. Imaginem só! Vejamos um trecho do artigo:

“Francisco não é um nome. É um projeto de Igreja, pobre, simples, evangélica e destituída de todo o poder. É uma Igreja que anda pelos caminhos, junto com os últimos; que cria as primeiras comunidades de irmãos que rezam o breviário debaixo de árvores junto com os passarinhos. É uma Igreja ecológica (sic) que chama a todos os seres com a doce palavra de ‘irmãos e irmãs’. Francisco se mostrou obediente à Igreja dos papas e, ao mesmo tempo, seguiu seu próprio caminho com o evangelho da pobreza na mão. Escreveu o então teólogo Joseph Ratzinger: ‘O não de São Francisco àquele tipo imperial de Igreja não poderia ser mais radical, é o que chamaríamos de protesto profético’ (em “Zeit Jesu”, Herder 1970, 269). Ele não fala, simplesmente inaugura o novo. Creio que o papa Francisco tem em mente uma Igreja assim, fora dos palácios e dos símbolos do poder”.
Ao ler tal sofisma, uma “bofada”, recordei-me de Joãozinho Trinta. Lembram-se? Com muito conhecimento de causa, o carnavalesco afirmara em 1978: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria e intelectual”. É por isso que se vê no carnaval o povo vestido de príncipes, princesas, reis e rainhas, com seus coloridos mantos e coroas douradas.

Por isso também é que se costuma dizer que “a Igreja é o palácio dos pobres”. O povo gosta de pompa e circunstância, de esplendor, de coisas maravilhosas que lembrem o Céu, de belas e ricas cerimônias religiosas como as de antigamente, que faziam superlotar praças e igrejas — hoje esvaziadas por causa das pregações da doutrina miserabilista da “Teologia da Libertação”.

E por que o povo gosta de tudo isso? Simplesmente porque, conforme disse Tertuliano, “a alma humana é naturalmente cristã”, feita à imagem e semelhança de Deus, que é Soberano Todo-Poderoso, Senhor do Céu e da Terra, dos Anjos e dos Homens.

A fim de nos mostrar a verdadeira doutrina católica, segundo a qual não existe contradição entre as grandezas esplendorosas da Igreja e o autêntico espírito de pobreza — refutando assim o sofisma do Sr. Genézio Bof —, recorro novamente ao líder católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira, de quem reproduzo uma matéria publicada na revista Catolicismo em dezembro/1958. Mais de meio século depois, a mesma se mostra hoje mais atual do que nunca.


Pobreza e fausto: extremos harmônicos no firmamento da Igreja 


Plinio Corrêa de Oliveira (*)


Um aspecto da Santa Igreja


Numa cela cheia de penumbra, ante um crucifixo que relembra a morte mais dolorosa que jamais houve, um monge cartuxo [foto] folheia um devocionário. Revestido de um simples e pobre burel, com uma longa barba, esse Religioso parece a personificação de todos os elementos que impregnam o ambiente que o rodeia: gravidade extrema, resolução varonil de só viver para o que é profundo, verdadeiro, eterno, nobre simplicidade, espírito de renúncia a tudo quanto é da Terra, pobreza material enfim, iluminada pelos reflexos sobrenaturais da mais alta riqueza espiritual.

Outro aspecto da Santa Igreja

Na imensa nave central da Basílica de São Pedro, movimenta-se majestoso o cortejo papal. Na fotografia, percebe-se apenas uma parte dele, isto é, alguns Cardeais e os dignitários eclesiásticos e leigos que precedem imediatamente a sedia gestatória. Nesta, o Sumo Pontífice, ladeado dos famosos flabelli e seguido da Guarda Nobre. Ao fundo, ergue-se o Altar da Confissão, com suas elegantíssimas colunas e seu esplêndido dossel. E bem mais atrás a célebre Glória de Bernini. As altas paredes recobertas de mármores admiráveis e adornadas de relevos, os arcos a um tempo leves e imensos, as luzes que resplandecem como se fossem estrelas ou fulgidíssimos brilhantes, tudo enfim se reveste de uma grandeza, de uma riqueza que é bem o supra-sumo do que a Terra pode apresentar de mais belo. É a maior pompa de que o homem seja capaz, realçada pela magnificência da arte e pelo esplendor dos recursos naturais da pedra.

* * *
O que em um quadro é gravidade recolhida, no outro é glória irradiante. O que em um é pobreza, no outro é fausto. O que em um é simplicidade, no outro é requinte. O que em um é renúncia às criaturas, no outro é a superabundância das mais esplêndidas dentre elas. Contradição? É o que muitos diriam: pode-se, então, amar a um tempo a riqueza e a pobreza, a simplicidade e a pompa, a ostentação e o recolhimento? Pode-se a um tempo louvar o abandono de todas as coisas da Terra, e a reunião de todas elas para a constituição de um quadro em que reluzem os mais altos valores terrenos?

O problema é muito atual, no momento em que Sua Santidade o Papa João XXIII se mostra tão edificantemente zeloso das esplêndidas tradições vaticanas, com manifesto desconcerto de elementos que têm uma mentalidade à Aneurin Bevan (o líder trabalhista que foi paladino na luta contra todas as pompas, e assistiu de costas a uma parte da cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II).


Não, entre uma e outra ordem de valores não existe contradição, senão na mente dos igualitários, servos da Revolução. Pelo contrário, a Igreja se mostra santa, precisamente porque com igual perfeição, com a mesma sobrenatural genialidade, sabe organizar e estimular a prática das virtudes que esplendem na vida obscura do Monge, e das que refulgem no cerimonial sublime do Papado. Mais ainda. Uma coisa se equilibra com a outra. Quase poderíamos dizer que um extremo (no sentido bom da palavra) compensa a outro e com ele se concilia.

O fundo doutrinário no qual estes dois santos extremos se encontram e se harmonizam é muito claro. Deus Nosso Senhor deu-nos as criaturas, a fim de que estas nos sirvam para chegarmos até Ele. Assim, cumpre que a cultura e a arte, inspiradas pela Fé, ponham em evidência todas as belezas da criação irracional e os esplendores de talento e virtude da alma humana. É o que se chama cultura e civilização cristã. Com isto, os homens se formam na verdade e na beleza, no amor da sublimidade, da hierarquia e da ordem que no universo espelham a perfeição d’Aquele que o fez. E assim as criaturas servem, de fato, para a nossa salvação e a glória divina. Mas, de outro lado, elas são contingentes, passageiras; só Deus é absoluto e eterno. Cumpre lembrá-lo. E por isto é bom afastar-se dos seres criados, para no desprezo de todos eles pensar só no Senhor.

Do segundo modo, considerando tudo o que as criaturas são, se sobe até Deus; e do outro modo, se vai até Ele considerando o que elas não são. A Igreja convida seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente, pelo espetáculo sublime de suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar efetivamente.

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(*) Catolicismo, Nº 96 – Dezembro/1958.


FONTE

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Martires de Cristo HOJE! Jovem Sírio é decapitado e tem a Cruz cravada no coração


Militantes islamistas mataram e decapitaram um jovem cristão, ferindo gravemente outro. O episódio, que ocorreu no último dia 8 de janeiro, foi informado à Fides somente agora por um padre da diocese de Homs.
Os dois homens, Firas Nader (29 anos) e Fadi Matanius Mattah (34 anos), iam de carro de Homs ao vilarejo cristão de Marmatira, quando um grupo de cinco jihadistas armados interceptou o veículo e abriu fogo. Uma vez chegando ao carro, os milicianos, constatando que o mais velho portava uma cruz no pescoço, o decapitaram, cravando a cruz em seu coração.
 
Em seguida eles se apoderaram do dinheiro e dos documentos, deixando o mais jovem jogado no chão, ferido, crendo que ele estava morto. Esse último, testemunha ocular da cena, conseguiu em seguida se colocar a salvo, chegando a pé à pequena cidade de Almshtaeih, antes de ser levado para o hospital de Tartus.

Uns fiéis conseguiram recuperar o corpo de Fadi Matanius Mattah, levando-no para Marmatira, onde a comunidade cristã local em luto exprimiu sua profunda indignação. De acordo com um comunicado enviado à Fides pela Fundação de direito pontifical Ajuda à Igreja que sofre, a violência contra os cristãos da Síria, seguida da deterioração da situação em campo, conspurcado pela presença de milhares (de membros) de facções islamistas, se tornou atualmente “uma das piores perseguições sofridas pelos cristãos nesse início do terceiro milênio”.





De acordo com os últimos relatórios, mais de 600.000 cristãos – ou um terço do total dos fiéis sírios – abandonaram suas casas ou encontraram refúgio nos países limítrofes. Os responsáveis cristãos confirmam o êxodo em massa dos cristãos da Síria, o que poderia comprometer seriamente o futuro dos cristãos no seio da nação. Assim como indica a AIS, em Homs, Marmarita e Hamat, a população síria, cuja numerosos cristãos, vive em uma situação de grave desconforto e necessita urgentemente de alimentos, calefação, abrigos e medicamentos por causa do frio que agrava a crise humanitária criada pelo conflito.

Fonte: L’Observatoire de la Christianophobie – Tradução: Dominus Est.


VISTO EM: http://catolicosribeiraopreto.wordpress.com/2014/01/16/jovem-sirio-e-decapitado-e-tem-a-cruz-cravada-no-coracao/.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Hereges ontem: EXCOMUNHÃO! Hereges hoje: TELEVISÃO!

Caros leitores, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Como nos informa o próprio título desta postagem, trataremos de um tema polêmico, que desperta curiosidade, dúvidas e mesmo constrangimento entre aqueles que se propõem a discutí-lo: os HEREGES.

Como muitas pessoas possuem uma noção equivocada ou mesmo desconhecem por completo o significado desse termo, antes de mas nada definiremos o conceito, o significado dessa palavra para melhor compreensão:

HEREGE: Algo ou alguém que professa uma heresia ou pratica doutrinas contrárias aos dogmas concebidos pela igreja. Diz-se do cristão que pratica o catolicismo, mas, que de forma velada, se contradiz ao questionar certas verdades estabelecidas pela doutrina católica.

Como se refere àquele que pratica alguma heresia, vejamos também a definição de heresia:

HERESIA:  O CDC (751) define-a como negação ou dúvida pertinaz de uma verdade que se deve crer com fé divina e católica, por quem rece­beu o baptismo.

Resumindo, HEREGE é todo aquele cristão batizado que professa uma HERESIA, ou seja, que crê em alguma doutrina condenada pela Igreja, assim como aquele que contradiz ou nega algum dogma ou verdade de Fé revelada na doutrina Católica e Apostólica.

Todo cristão católico deve buscar conhecer a Verdade Revelada presente na doutrina da Igreja para que assim evite cair em alguma das diversas heresias surgidas (e que continuam a surgir) no decorrer da história. Isso se torna ainda mais importante quando se trata de um Sacerdote, Bispo, ou qualquer outro cristão que possua o encargo de transmitir a Religião à terceiros. Quando algum cristão passa a crer ou defender alguma heresia, a Igreja tomando ciência disso, deve orientá-lo sobre o erro em que se encontra, exortando-o a emendar-se para que assim se mantenha no rebanho de Cristo, isto é, na Igreja.

Quando essa pessoa ignora a exortação da Igreja e continua a manter-se no erro, isto é, na heresia, podemos considera-lo verdadeiro herege, visto que essa pessoa voluntariamente se auto exclui da Igreja e passa a estar fora dEla e de sua comunhão. Visando alertar aos demais fiéis para que se afastem dessa pessoa (o herege) e de suas nocivas e perigosas ideias (que podem colocar em risco a salvação de quem as segue) a Igreja aplica a pena denominada EXCOMUNHÃO. Além de tratar-se de uma punição (e de uma ação preventiva como já foi explicado), a excomunhão também serve como uma ação medicinal, pois também visa "chacoalhar" o excomungado, fazendo com que o mesmo reflita sobre o que vêm fazendo, se arrependa e regresse ao seio da Igreja. Portanto, ao contrário do que a grande maioria pensa, a excomunhão não é um ato definitivo (como se o excomungado estivesse condenado para sempre) mas antes visa trazê-lo de volta à comunhão da Igreja.

Tendo isso bem explicado, vamos aos fatos que explicam o título da presente postagem:

Padre Alfred Loisy, herege e excomungado
O Padre Alfred Loisy, teólogo e professor de hebraico e exegese bíblica do Instituto Católico de Paris entre os anos de 1881 e 1889, empreendeu diversas pesquisas e por fim iniciou o pensamento de que a Igreja deveria modernizar-se e acompanhar a "evolução" e os "novos tempos".

Em 1903 teve seu trabalho publicado, entretanto, a Santa Sé, que mantinha um apertado controle doutrinário dos estabelecimentos católicos, após constatar as "novidades" de seu pensamento, suspendeu Loisy e colocou suas obras no Index dos livros proibidos. Loisy, no entanto, manteve a postura e as ideias que lhe custaram essas punições. Em 1908, perdeu sua cátedra de filosofia na Universidade de Paris. Por fim, foi ele quem pronunciou a seguinte frase:

“Cristo anunciou o Reino, porém o que veio foi a Igreja”.

Por fim, em 1908 foi excomungado pelo Papa São Pio X. Foi excomungado Vitandus, isto é, devendo ser " terminantemente evitado pelos católicos, sendo proibido inclusive dirigir-lhe a palavra".

Agora vejamos o que foi dito por um outro padre, não de antigamente, mas sim um padre "atual", um "padre moderno", famoso, galã, um padre da televisão:

“Jesus não queria a Igreja, queria o Reino de Deus, mas a Igreja foi o que conseguimos dar a Ele”.

Padre Fábio de Melo, Cantor, Galã, Herege e apresentador de TV
A frase acima foi dita em programa de televisão, portanto, se trata de uma afirmação pública. Seu autor é o Padre Fábio de Melo. É evidente a semelhança entre a frase do excomungado padre Loisy e a do "moderno" padre Fábio de Melo. O que não é semelhante é a forma como são tratados após externarem tal pensamento herético: enquanto ao primeiro a frase lhe rendeu a Excomunhão, ao segundo lhe mantém apresentando  um programa de televisão. Isso mesmo, além de suas participações em diversas emissoras cantando, sendo entrevistado ou discutindo os mais variados temas, padre Fábio de Melo apresenta na TV Canção Nova um programa chamado "Direção Espiritual". Dá para imaginar o tipo de "direção espiritual" dada pelo referido sacerdote. Decerto, muito distante da Fé Católica.
 
Como a afirmação herética do Padre se deu de maneira pública, nada mais justo e correto do que alguém lhe corrigir também de maneira pública. E foi o que fez o sábio e piedoso sacerdote Padre Demétrio Gomes via facebook. Sem faltar com respeito - em momento algum - ao pe. Fábio de Melo , Padre Demétrio demonstra como tal afirmação é errônea e contrária ao ensinamento e doutrina da Igreja. Mesmo assim, apareceram aqueles que se "escandalizam" com a atitude de Padre Demétrio por corrigir fraternamente (e publicamente) um erro proferido também publicamente por Fábio de Melo. Para eles, mais grave seria contradizer ao "cantor galã e padre" do que contradizer o ensinamento da Igreja de Cristo e colocar as almas em perigo. Percebe-se como anda o nível de formação do católico atual.
 
Deve-se salientar que não é a primeira vez que Padre Fábio de Melo externa um pensamento herético. Há alguns anos o referido padre, também em programa de televisão, disse ser a Santíssima Eucaristia não a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo no que antes da consagração era somente pão e vinho. Para Padre Fábio de Melo a Santíssima Eucaristia significa não a presença real mas sim a AUSÊNCIA. Essa verdadeira HERESIA pode ser vista AQUI.
 
Grande Santo defensor da Igreja, Papa São Pio X
Na época, o falecido professor Orlando Fedeli demonstrou por A mais B como essa afirmação constitui verdadeira HERESIA. Padre Fábio de Melo jamais se retratou, o que formalmente o constitui verdadeiro HEREGE.
 
Agora, novamente exprime nova heresia, ainda que tal heresia não seja tão nova assim: como vimos, trata-se da mesma heresia defendida pelo herege Alfred Loisy. A diferença entre ambos, é que Loisy acabou EXCOMUNGADO pelo Papa Santo São Pio X.
 
Já padre Fábio de Melo... bem, ainda que saibamos tratar-se de verdadeiro herege que, por conta própria, já se encontra excomungado, oficialmente continua "em comunhão" com a Igreja, participando de programas como convidado "representando" a Igreja Católica (vide o programa "Altas Horas" exibido ontem, dia 18/01) ou apresentando seu próprio programa, "Direção Espiritual".
 
Espero sinceramente que alguém o dirija espiritualmente, para que abandone seus erros e deixe de dirigir tantas almas para a perdição. Que padre Fábio de Melo se converta e assim retorne ao seio daquEla Igreja que foi querida por Cristo, fundada por Cristo, o Corpo Místico de Cristo: a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.

¡Viva Cristo Rey!

José Santiago Lima

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

SAN JENARO SÁNCHEZ DELGADILLO, rogai por nós!

Hoje é dia de São Jenaro Sánchez Delgadillo, mártir Cristero.

Jenaro, filho de Cristóbal Sánchez e Julia Delgadillo, de condição humilde e cristãos fervorosos, nasceu em 19 de setembro de 1886 em Agualele, Paróquia de Zapopan, estado de Jalisco.

San Jenaro Sánchez Delgadillo
Estudou no Colégio do Espírito Santo, na cidade de Guadalajara, também Jalisco. Ali cursou a educação primária. Trabalhava forjando metais na Oficina de Artes e Ofícios, onde ganhava algum dinheiro com a finalidade de ajudar no sustento de seu lar.

Terminados os estudos primários ingressou no Semi­nário de Guadalajara. Re­cebeu o Sacramento da Ordem em 20 de agosto de 1911. Exerceu seu ministério sacerdotal nas seguintes paróquias: Nochistlán (estado de Zacatecas) e Zacoalco de Torres, San Marcos, Cocula, Tecolotlán e por fim na Capelania de Tamazulita, pertencente à mesma Paróquia de Tecolotlán, todas no estado de Jalisco.

Exerceu seu ministério com extremo zelo apostólico e com boa organização. Seu pároco de Cocula, sempre o elogiava e se mostrava bastante satisfeito com sua conduta e seu tra­balho. Gostava de pregar e seus sermões eram eloquentes e comoventes. Era assíduo ao confessionário, desprendido das coisas materiais e compassivo com os necessitados; atendia a todos, mas especialmente aos enfermos, onde exerceu este apostolado em numerosos ranchos e fazendas.

Movido por seu amor à Deus, o padre Jenaro se preocupava com a salvação de todos. Se esmerava pela formação cristã das crianças e ele mesmo lhes ensinava o catecismo. Chegou a Tamazulita no ano de 1923, acompanhado de seus pais. Neste lugar exerceu seu ministé­rio até seu martírio.

Diante do ambiente persecutório que havia sido imposto pelo Governo, especialmente contra os sacerdotes, Padre Jenaro sentiu em seu coração a impotência de desempenhar convenientemente seu ministério e chorou quando foi dada a ordem para que fechassem as igrejas.

Quando o culto público foi suspenso, exerceu seu ministério sacerdotal às escondidas, em casas particulares e nos arredores do povoado. Guardava o Santíssimo Sacra­mento em uma casa e ele mesmo o vigiava de perto. Era consciente do perigo de morte que corria mas, para atender espiritualmente a seus fiéis, decidiu não abandoná-los. Em várias ocasiões comentou com alguns fiéis:

Nessa perseguição muitos sacerdotes morrerão e talvez eu seja um dos primeiros”.

E asim foi. Em 17 de janeiro de 1927, Padre Jenaro andava no campo laçando alguns cervos com um grupo de vizinhos: Herculino, Crescenciano e Crescendo Castillo, Lucio Camacho, Ricardo Brambila, Agustín Chavarín e Juan Barajas. Nessa época vivia em um rancho chamado “La Cañada”, na casa da família Castillo. Pela tarde, ao retornar ao rancho, aquele homem de Deus e seus companheiros se deram conta que havia alguns soldados buscando-os. Os companheiros insistiram ao sacerdote para que fugisse, no entanto São Jenaro lhes disse:

“Vamos descendo todos. Se não me conhecem, estou salvo; Agora se me conhecem, com certeza me enforcarão, porém nada acontecerá com vocês além de um susto. Eu tenho confiança em Deus que assim será”.

Ao chegar no rancho, todos foram presos. Ao padre o amarraram junto com Agustín Chavarín, costas com costas e assim os levaram a Tecolotlán. Depois, o Capitão federal Arnulfo, ordenou que todos fossem libertados, exceto o sacerdote.

No mesmo dia em que foi detido, por volta das onze da noite, levaram o sacerdote aos arredores de Tecolotlán, a um pequeno monte chamado “La Loma” ou “Cruz Verde”, onde havia uma árvore mexicana chamada Mezquite. A aproximadamente dez metros do mezquite havia uma casinha, on­de vivia a senhora Jovita García, mãe de Victoria Santos García, aquela que pôde presenciar os acontecimentos. A senhora Jovita ouviu muita algazarra, ofensas e palavrões, quando pelos buracos das paredes de sua casa pôde ver muitos soldados, que ao chegarem a aquele lugar formaram um círculo e no meio empurraram o futuro Mártir. Viu que lhe puseram uma corda em seu pescoço e podê ouvi-lo, em alto e bom som, dizer:

"Bom, meus conterrâneos, vocês vão me enforcar; eu lhes perdoo e que meu Pai Deus Nosso Senhor também vos perdoe... e que sempre viva Cristo Rei!”.

Em seguida os soldados suspenderam a corda com tamanha brutalidade que a cabeça do padre bateu violentamente no galho do mezquite onde haviam pendurado a corda. Ali o deixaram pendurado e se foram.

Assim permaneceu seu corpo até a madrugada, e antes que amanhecesse os soldados retornaram. Talvez ainda vivo lhe deram um tiro acertando seu ombro esquerdo. Desceram o cadáver e ao ser colocado no chão, um sol­dado o traspassou com um tiro de baioneta. O corpo do sacerdote permaneceu ali estendido por toda a manha. Estava próximo ao mezquite e cheio de formigas; a pessoas que por ali passavam lhe improvisaram uma pequena sombra. Nem a família de Jovita, que havia presenciado o crime, nem os que ali passavam, sabiam que se tratava do corpo do sacerdote de Tamazulita.

Em 18 de janeiro, por volta das onze da manhã, passou por ali a professora Angelita Fernández Lepe, que reconheceu o cadáver e disse que era o padre de Tamazulita. Avisaram então a mãe do Padre Jenaro.

Dona Julia chegou e, abraçando o cadáver de seu filho, chorou amargamente. Os ha­bitantes do lugar conseguiram permissão do chefe militar por meio do presidente munici­pal, Amado Lepe, para levar o cadáver a Tecolotlán, à casa da professora Angelita Fernández Lepe, e ali o velaram, porque as autoridades não permitiram que levassem seu corpo à Igreja.

Em “La Loma” ou “Cruz Verde”, lugar de seu martírio, os fiéis erigiram um monumento para recordar o sacrifício do sacerdote Mártir, aquele que entregou sua vida por Cristo Rei e Santa Maria de Guadalupe.

SAN JENARO SÁNCHEZ DELGADILLO, rogai por nós!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dois Sermões, Duas Missas, Duas Igrejas

O excelente texto - em forma de conto - que reproduzimos abaixo nos possibilita fazer uma importante reflexão: Não há como negar que a Igreja passou por uma verdadeira "revolução" nos últimos cinquenta anos. Quanto aos resultados dessa "mudança revolucionária" (se são ou não positivos), ao se ler o texto certamente se é possível chegar a uma conclusão. Ainda que não muito agradável...
 
Alguns, antes de ler o texto, dirão: "Mas é claro que a mudança foi positiva, quem disso discorda é porque é velho e saudosista, gente que gostaria de reviver os tempos em que era jovem!".
 
Nada mais falso! Os que chegam a essa conclusão, em sua grande maioria são jovens que, assim como eu, não viveram estes outros tempos da igreja (tenho apenas 27 anos).
 
Ao fazer a comparação entre o Sermão, a Missa e a postura do sacerdote e dos fiéis de uma paróquia do interior de décadas atrás e o Sermão, a Missa e a postura do sacerdote e dos fiéis da mesma paróquia nos dias atuais, não há como não concluir que estamos diante de Dois Sermões, Duas Missas e, infelizmente, Duas Igrejas diferentes...

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Dois Sermões, Duas Missas, Duas Igrejas

Lá na vila, quando eu era menino, o domingo era uma festa. O sino da "nossa igreja" - era assim que tia Ermelinda se referia à nossa paróquia - chamava o povo com seu bimbalhar alegre e sonoro. Monsenhor se orgulhava do sino, e explicava que o fizera vir lá da Itália, pagando muitos contos de réis. O sino da Igreja marcava o ritmo calmo da vida pacata e repetida de nossa vila, em que o tempo escorria suas horas lentas e compassadas.

Domingo de manhã era diferente. Até o sino repicava vibrante para a Missa das oito que, oficialmente, era a das crianças, mas à qual ia todo o povo, se amontoando nas laterais e no fundo do velho templo, enquanto os bancos da frente eram ocupados pela meninada irriquieta.

Eu subia a íngreme ladeira de pedra, passando pela barbearia, pela quitanda de seu Jorge e pelo açougue de seu Antônio, para afinal passar pela funerária, antes de chegar à praça da igreja. Barbearia, quitanda e açougue ficavam fechados aos domingos. A funerária não: todo dia podia ter freguês. Eu passava rápido por ela sem olhar os caixões roxos e pretos encostados às paredes. Cruz credo!

Na Missa das oito, nos primeiros bancos da esquerda - do lado do Evangelho - ficavam os meninos da cruzada, de camisas brancas e fitas amarelas, comandados por seu Benedito. Atrás deles ficavam os rapazes da congregação mariana, com suas fitas azuis. Do lado direito se ajoelhavam as meninas, e, atrás delas, as filhas de Maria, dirigidas por Dona Bentinha. Por fim, lá atrás se ajoelhavam as mulheres e os homens do Apostolado da Oração, de fita vermelha, e os homens da Confraria de S. Benedito e da Ordem Terceira com suas opas e escapulários.
Crianças da Cruzada
 
A Missa das oito era solene, mesmo quando era comum. Monsenhor fazia questão de que a cerimônia se realizasse em clima de respeito e ordem sagrada. Ele entrava, de barrete à cabeça, precedido por uns oito coroinhas de batinas vermelhas e sobrepelizes brancas. Pareciam cardeaizinhos. Todos em ordem com turíbulo, tocheiros e Missal.

Começava a Missa com a aspersão de água benta. Monsenhor, com larga capa dourada, empunhava o hissope e ia benzendo o povo, enquanto os fiéis, atrás, cantavam o "Asperges me", rogando a Monsenhor e a Deus que abençoasse e purificasse.

Depois, Monsenhor, com rica e vistosa casula, começava a Missa dizendo em voz rouca o seu latim, meio italiano meio mineiro: Introibo ad altare Dei... Logo vinha o Confiteor, o povo confessando seus pecados e contritamente batendo no peito o mea culpa. Depois, cantava-se um hino, enquanto Monsenhor subia ao Altar para ler as misteriosas e sagradas letras do Missal.

Ao chegar ao Evangelho, o povo se punha de pé e Monsenhor subia ao púlpito para falar. Todos o olhavam, lá em cima, a dar os avisos paroquiais e depois a nos dizer palavras que vinham de tão alto que pareciam descer do céu.

O tom variava conforme o Evangelho explicado. Às vezes eram palavras de consolo. Outras, admoestando e criticando os novos costumes que vinham da cidade grande, do que se chamava "civilização". Sempre eram palavras de esperança. Sempre palavras de sabedoria na rude linguagem de um velho vigário de uma velha igreja. Sempre comentando as mesmas parábolas de Jesus. Há séculos. Sempre fecundas.

Num certo domingo - eu me lembro - ele explicara ao povo a parábola do Reino dos Céus comparado com um homem que deu cinco talentos a um servo, dois a um outro e um talento ao terceiro.

Monsenhor mostrava que esse senhor era Deus eterno, e seus empregados éramos nós, garotos peraltas daqueles morros verdes. Alguns de nós haviam recebido de Deus mais favores, mais talentos ou mais fortuna. Todos devíamos agradecer o que Deus nos dera, sem inveja dos irmãos que haviam recebido mais, nem desprezar o próximo que havia recebido menos. De todos o Senhor cobraria os contos no dia do juízo. Não ouvíramos as letras sagradas explicar que o Senhor voltaria para cobrar os juros dos seus servos? Não ouviram que Cristo mesmo chamara de servo mau aquele que não fizera seu talento render?

Explicava-nos, então, em linguagem simples, que Deus nos fizera como os dedos da mão: todos diferentes, mas todos úteis. Imaginem vocês se Deus tivesse feito todos os nossos dedos como os polegares? Como iríamos pegar o enxadão? Como se poderia segurar o lápis se todos os dedos fossem iguais?


Assim como gostamos de todos os nossos dedos, assim Deus nos ama. Mas uns dedos são mais importantes e úteis que os outros, embora todos sejam necessários. O indicador - e ele balançava então em riste o seu, cheio de autoridade e de ameaça - o indicador é o dedo principal. Mas o dedinho também é bom. Ninguém quer cortá-lo porque ele é menos usado.

Mostrava-nos, depois, que Deus fizera tudo com desigualdade. Cada terra tinha serventia diferente. As terras úmidas de várzea eram boas para arroz, enquanto as terras de serra, sem valor para a cultura, davam pedras para fazer as casas e, às vezes, uma pepita de ouro preciosa.

Que as plantas e animais eram diferentes. Com tantas flores de variados perfumes e variadas cores, Deus enfeitara o mundo. Com tantos animais diversos, Deus tornara a vida mais fácil para o homem. Imaginem se Deus tivesse feito todos os animais como a jararaca? Ou se todos fossem porcos. Ia sobrar lingüiça, mas seria difícil fazer os porcos puxar o arado. Se todos fossem burros, o transporte estaria garantido, mas não haveria leite nem queijo.

Monsenhor então nos mostrava - a nós pequenos, que encantados com sua fala e com a solenidade da Missa ficávamos uma hora quietos - que se no mundo havia beleza é porque em tudo havia desigualdade. Ele nos interrogava: "Viram o arco- íris, outro dia sobre a serra, naquela tarde com chuva e sol? Que beleza!" Tantas cores diversas. Todas em ordem".

Uma vez, contava, as cores se rebelaram contra o vermelho. Não estavam mais contentes com o tom que Deus lhes dera e, chefiadas pelo amarelo, resolveram pedir igualdade. Quando realizaram seu desejo se misturando todas, o que aconteceu? Todas perderam a sua cor e só existiu o branco.

Repetia-nos, no seu longo sermão, o velho apólogo de Agripa. O apólogo de revolta dos órgãos do corpo contra o estômago, querendo todos igualdade com ele, exigindo que o estômago também trabalhasse, em vez de só ficar esperando comida, sentado e de boca aberta. Acabaram todos sofrendo com a fome a que reduziram o coitado do estômago. Todos definharam.

A igualdade dos órgãos impede a vida. Cada órgão tem sua função. Todos diferentes. Todos necessários. Mas nunca iguais. Assim somos nós.

Mostrou-nos enfim que, também no coral da novena, a beleza do canto vinha da diferença das notas. Pois se as notas fossem todas iguais, não haveria canto, mas só um apito. Deus nos fez como as notas. Cada um deve tocar certinho em seu lugar, para que a grande sinfonia da humanidade louve o Criador.

E descia então, solene e majestoso, lá do alto do púlpito, para continuar a Missa que o povo seguia reverente e cheio de piedade.

Na Consagração havia um silêncio imponente. Podia-se apalpar a majestade, quase ver o mistério.
 
 
Quando Monsenhor erguia a sagrada hóstia, ao tilintar das campainhas cristalinas, todos se inclinavam reverentes ante o Santíssimo, exclamando como o Apóstolo São Tomé: "Meu senhor e meu Deus". O mesmo, depois, ocorria quando se erguia o cálice.

Depois da Consagração, a Missa se tornava mais festiva, na expectativa da hora da comunhão, em que longas filas de crianças, seguidas pelas pessoas do povo em trajes domingueiros, se aproximavam da mesa de comunhão. Lá, Monsenhor dava a cada pobre rude homem do campo o corpo do Filho de Deus Altíssimo, a Verdade que se fez homem e habitou entre nós.
 
 
Ao final da cerimônia, a despedida era com a benção. Com voz forte e com a autoridade dada por Deus, Monsenhor abençoava o povinho que saía, depois das três Ave-Marias finais, para a praça da Matriz, de onde se via, à distância, a serra azul, sob o sol ardente de Deus.

 
*    *    *

 
Muitos anos depois, voltei à vila, após longa ausência. Tantas coisas haviam mudado. Monsenhor havia morrido. O sino já não tocava na torre da igreja. O Concílio - dizia-se - e a civilização o tinham trocado por alto-falantes que berravam para a praça da Matriz um sambinha malandro.

Fui à Missa das oito, no domingo. Na ladeira íngreme, o açougue estava aberto. Como a funerária.

Na Matriz, moçoilas de mini-saia arranjavam a mesa onde ia ser celebrada - explicava o boletim paroquial - a "Ceia". Tal qual diziam os protestantes antes do Concílio. Na dita mesa, já não havia velas, nem os barrocos candelabros dourados de Monsenhor. Havia um esquisito objeto de metal niquelado com umas lampadazinhas imitando velas. O antigo altar-mor, todo em madeira trabalhada, estava vazio. Dele haviam sido retiradas as imagens de Nossa Senhora, de São José e de Santo Antônio. Todos exilados para a sacristia, de onde eu os via espiando por uma fresta da cortina entreaberta. Na parede, atrás do altar-mor, tinham pintado um Cristo caricato, mistura de hippie e de Che Guevara, com ar relaxado, os dentes espaçados, à mostra, num riso debochado, e erguendo os dedos num "V" de vitória cafajeste. Das outras paredes tinham sido expulsos, a pinceladas de caiação, os anjos e santos que tinham encantado meu olhar de menino. E, contudo, a igreja me parecia maior. Mais vazia, certo, porém maior. Por que?

Perto da mesa da ‘Ceia’, alguns rapazolas e meninotas, mastigando chicletes, afinavam - afinavam? - violões e guitarras, enquanto outros instalavam a parafernália eletrônica de conjunto roqueiro. Afinal, tudo pronto.


 
 
Quando entrou o novo vigário, precedido por duas meninas de roupas decotadíssimas, os rapazelhos, mascadores de chicletes, atacaram furiosamente seus instrumentos de ruído. Arranharam, com grande raiva, as cordas de suas guitarras elétricas. Espancaram, com força, seus pandeiros. Esbordoaram, com violência, seus tambores, tonitroando um rock cacofônico, histérico e caótico.

As mocinhas de mini-saia, balançando o corpo, esganiçaram um Aleluia infernal.

Lá entrou o novo vigário. Era moço, usava o cabelo comprido, descendo em desalinho sobre o rosto. Dependurado embaixo do nariz tinha um surpreendente bigode caído e desanimado. Calçava tênis, e, em lugar dos antigos paramentos solenes de Monsenhor, vestia uma espécie de camisolão, sob o qual se espichavam as pontas das calças blue-jeans. Cruzada ao peito, ele exibia uma estola onde lia-se em letras tortas ‘AXE’, a saudação dos macumbeiros. Era um padre ecumênico aquele que entrava, gingando levemente o corpo, ao som da bateria ritmada e tonitroante.

Arrumou-se. Arrumou o cálice, o véu e a patena. Arrumou - com cuidado - o microfone no centro da mesa. Sorriu, debaixo do bigode desanimado, para o seu rebanho - ou platéia? - e saudou:

" Oi, gente! Vamos celebrar comunitariamente a eucaristia do Senhor deste domingo. Todos, - vamos lá - todos juntos vamos cantar o cântico da página 47 do folheto. Vamos! A comunidade precisa participar, gente! Vamos lá. Eu entôo. Ou melhor a Angélica entoa, tá, e todo mundo segue atrás. Pronto? Um...Dois ...Três!

A Angélica - aquela mocinha espremida dentro de calças apertadíssimas - começou com vozinha fanhosa:
 
"Nosso Deus é contra o patrão
Jesus é contra o explorador
Jesus Cristo é nosso irmão
Ele também foi trabalhador
"


Olhei em volta de mim. Na igreja quase não havia crianças. Havia velhotas que não tinham percebido as mudanças; moçoilas e rapazolas que não percebiam as diferenças. A Missa - perdão, a "Ceia" - era em português. Mas não em vernáculo. Era em gíria. Prá frente!

A Epístola foi lida por uma das mocinhas atrevidamente decotadas. Foi ela quem leu a carta do Apóstolo São Paulo aos Coríntios!!! O vigário, enquanto isso, permaneceu sentado numa cadeira posta de lado, sorrindo sob o bigode desanimado, e olhando para o seu auditório... Até que a mocinha de decote terminou de ler a carta de São Paulo! Imaginem o espanto dos Coríntios!

O padre levantou-se para ler o Evangelho. Ainda bem que não foi a Angélica a leitora, pensei eu. Quando ele ia começar o sermão, percebi que, na igreja, não havia mais púlpito. Nem confessionários. Ah! Era por isso que a igreja me parecera maior: não havia mais nem púlpito, nem confessionários! O jovem vigário mandara retirar o púlpito. Ficava alto demais para o seu nível.

O sermão começou com um... "Oi, gente!" e prosseguiu em prosa confusa a exposição de uma teologia moderninha. Caótica! Um aranzel em que se misturavam slogans marxistas, gíria de gangs roqueiras, piadas de telenovela. O pobre Demóstenes suburbano falava de tudo, dizendo nada. Sem perceber, sequer, que triste figura fazia. Qui habitat in coelis... plorabat eum!

Ele começou explicando a renovação conciliar arejadora do mofo que infectava a Igreja. Atacou de passagem todos os papas do passado. Elogiou João XXIII que, através do Concílio, fez vir um Novo Pentecostes para a Igreja. Tudo mudara. Havia uma NOVA IGREJA. João XXIII, Paulo VI e João Paulo II eram os Dantons, Robespierres e Marats do Povo de Deus, já que, segundo o Cardeal Suenens, o Concílio Vaticano II fora a Revolução Francesa da Igreja. Depois deles, tudo mudara. Agora, a comunidade já podia celebrar a "Ceia" na mesa, o padre virado para o povo, e não dando as costas para o povo, desprezando o povo. "Porque o povo tem que ter voz para decidir, tá? Nós não estamos mais naqueles tempos de opressão em que o povo não podia falar. Agora até a Toninha pode ler a epístola de São Paulo. Acabou o salameleque, tá?" (quase ele gritava "independência ou morte"). "Quem reza a Missa é o povo. A Missa também é festa do povo. Acabou aquela solenidade que afastava o padre do povo. Todos somos iguais. O padre também é um homem como outro qualquer, tá?" (O povo ouvia e olhava desconfiado...) "O Cristo veio para pregar a igualdade. A igualdade é a justiça, tá? Onde houver qualquer desigualdade não há o espírito do Cristo" (ele prosseguia, juntando um tema ao outro, sem fazer parágrafo, nem pontuação, tá?). Não só o padre era igual ao povo, mas devia acabar a opressão do coronel e do fazendeiro. "Por que uns têm um fazendão e outros nem um galpão? O povo deve ser conscientizado, tá? Cristo foi um revolucionário que queria a igualdade, e, por isso, foi morto pelos ricos e poderosos do tempo. Pelos coronéis do Império Romano lá na Palestina" (lá estavam Pilatos e Caifás feitos coronéis!). "É preciso derrubar as cercas que enjaulam a terra. É preciso acabar com as proibições. Antigamente tudo era pecado, né? João XXIII acabou com isso. Ele libertou o Homem. Cristo libertou o HOMEM da escravidão da Lei. Gente, é preciso ser aberto. Ainda ontem eu soube que falaram mal de mim na barbearia " (êta, seu José que não se emenda!) "porque eu fui ao baile de carnaval com a moçada. Que é que tem, pessoal? Eu sou jovem, tá? Fui ao baile sim, porque o carnaval é a festa do povo, como disse na TV a Dondinha. E tem mais. No sábado de aleluia vou patrocinar um grande baile no salão paroquial, preparando o povo pro ano que vem, quando teremos um sensacional "Carnaval com Cristo". E quem não gostar que se mude, tá? Eu também convido o povo" (de novo sem parágrafo, engatando um assunto no outro, como um trem bagunçado, sem ordem na seqüência dos vagões) "para a celebração ecumênica, quarta feira, no salão paroquial, quando nos trará a palavra do Senhor, nosso irmão em Cristo, o pastor Ezequias da Igreja do Evangelho Pentagonal. Estará também entre nós, nessa ocasião, falando-nos de sua experiência religiosa, Mãe Anastácia, do terreiro Oxum do Caboclo Harundino Apinajé. Vocês conhecem. Gente, aquela do terreiro depois da encruzilhada. Venham todos. Pois é. É preciso acabar com a idéia de que só na religião católica a gente se salva. Isso é papo furado, tá? Deixem de ser atrasados. Deus é um só. Em todas as religiões se louva a Deus. Precisamos acabar com esse passado rançoso que punha barreiras entre os irmãos, entre as igrejas, entre o rico e o pobre, e até entre o homem e a mulher! Essa igreja rançosa já era. Gente, vamos ser da igreja de nossos tempos. Vamos preparar o reino do Amor. A Civilização do Amor. O ano 2.000 tá aí. É o ano do Novo Advento, do Novo Pentecostes. Gente, vamos todos cooperar pra Civilização do Amor, lutando contra os exploradores do povo, contra essa estrutura de pecado que está aí, tá? Vamos construir a Civilização do Amor, na marra. Gente, a igreja do Povo de Deus conta com vocês, tá? Agora, todos juntos, vamos cantar "Ele é nosso amor", com aquela música do Roberto, tá? Vamos lá, gente. Pode começar, Toninha. Um... Dois... e... Três."

 
 
E lá foi a Toninha com sua voz fanhosa. E lá foi a Missa - aquela paródia sacrílega de Missa - de guitarra e pandeiro, ao som da melodia do Roberto.

Esqueci de dizer que a Angélica - aquela moçoila de injustíssima calça justíssima - monitorou a "Ceia" o tempo todo, desde o presbitério, irradiando o que acontecia lá na frente, e dando ordens ao povo: "Em pé" (sic). "De joelhos". "Em pé". Para ser programa de rádio, só faltavam os comerciais.

No ofertório, formou-se uma pequena procissão, carregando saquinhos de feijão, batatinha e roupas velhas para os pobres... do terreiro da Mãe Anastácia. Era uma contribuição ecumênica.

Após a consagração, ouvi um hino realmente profético, cantado por aquele coral esganiçado e fanhoso:


"Missa nova o povo vai cantar
Igualdade é o tema do sermão
No templo o órgão vai tocar
O hino da eterna Revolução"

 
 
Saí. Saí daquela "Missa"-algazarra. Que diria Monsenhor daquela "Missa"-comício? Que diria Monsenhor daquele sacerdote de tênis no pé, gíria grosseira na boca, sem gramática e sem respeito, com o baile no coração, a tolice e a heresia na alma?

Que diria Cristo Nosso Senhor desse novo sermão caótico e revolucionário? Que dirá Deus dessa Nova Igreja?
 

 
Autor: Pierre de Craon
 
Fonte: Montfort