Testemunho do ex-protestante Marcos J. Siqueira
Eu era
presbiteriano, até me converter ao Catolicismo em 2004. Claro que esta é uma
longa história… Não sei se conseguiria contar tudo aqui. Na verdade meu
interesse pelo Catolicismo começou quase na mesma época em que comecei a
considerar a hipótese de entrar para o seminário (presbiteriano). Sempre gostei
muito de teologia, de estudar as Sagradas Escrituras, a História da Igreja e
via nisso um sinal, uma espécie de chamado/vocação. Amava com sinceridade minha
denominação e lá eu tive contato com muita literatura teológica e a cada dia eu
tomava mais gosto pelo estudo, pelo conhecimento e é claro, pela oração.
O Presbiterianismo é basicamente nas doutrinas
formuladas por João Calvino, que junto com Martinho Lutero é um dos maiores
expoentes da chamada Reforma Protestante. Calvino era virulentamente
anti-católico e seus escritos são quase todos voltados ao ataque à Igreja
Católica. Eu gostava muito desses escritos, principalmente pelo fato de que, a
príncipio, eram todos fielmente baseados na Bíblia, o que mais tarde descobri
não ser verdade. Apesar de gostar muito destas leituras, o ataque quase
obsessivo ao Catolicismo me incomodava embora nesta época eu ainda nem sonhasse
em um dia me tornar católico. Incomodava-me mais, pela obsessão, pela tentativa
contumaz de (tentar) destruir as bases sob as quais se assentam a Igreja
Católica.
Lembro que mais ou
menos nesta época (2002/2003) recebi, vindos da Espanha, dezenas de livros para
a formação de pastores, todos obviamente escritos em espanhol, o que de certa
forma foi ótimo, pois neste período pude aperfeiçoar meus estudos desta língua
o que me é extremamente útil hoje em dia. Fiquei encantado, comecei a ler muito
e a cada dia crescia em mim a vontade de servir mais e melhor a Deus. Sempre
que podia eu dirigia os cultos, pregava, ensinava e tudo isso convencido de que
fazia a vontade de Deus. Confesso que eu diferia um pouco dos demais membros do
chamado “Conselho de presbíteros”, primeiro porque eu era um simples leigo, nem
diácono, nem “presbítero’, era apenas um aspirante ao seminário que estudava
muito e que na verdade, modéstia a parte, se interessava mais do que o próprio
pastor pelo bem-estar da igreja. Nem preciso dizer que isso começou a gerar um
certo desconforto, ciúmes talvez ou talvez inveja, na verdade não sei, nem
posso afirmar, já que intenção só quem pode julgar é Deus Nosso Senhor. De
qualquer forma dei uma recuada e tentei passar mais desapercebido, mas não
consegui. Fomos convidados ( eu e minha família) a ocuparmos o apartamento
pertencente à igreja e como na época eu tinha que arcar comas despesas de um
aluguel nada barato eu acabei concordando e nos mudamos em seguida. Creio que
este episódio foi o começo da grande reviravolta que minha vida sofreria, em
todos os aspectos.
No começo tudo
correu bem e eu tinha pedido muito a Deus que isso acontecesse, era m novo
começo e uma ótima oportunidade de conseguir o que eu mais queria:ingressar no
seminário.
Mas as coisas não
correram bem como eu esperava, eu faço os planos, mas a palavra final pertence
à Deus certo?
Posso afirmar que meus primeiros contatos, ainda
muito tímidos, com o Catolicismo começaram depois da Semana Santa do ano de
2003, aliás, o ano de 2003 foi um tanto conturbado para mim em todos os
sentidos.
Aos poucos fui percebendo o que não posso deixar de qualificar como certa “má-vontade” por parte do Conselho em relação à minha entrada para o seminário, a alegação era que a igreja não podia arcar com as despesas ( de fato muito altas), mas a verdade era outra e eu a descobriria posteriormente.
Aos poucos fui percebendo o que não posso deixar de qualificar como certa “má-vontade” por parte do Conselho em relação à minha entrada para o seminário, a alegação era que a igreja não podia arcar com as despesas ( de fato muito altas), mas a verdade era outra e eu a descobriria posteriormente.
Provavelmente não deve haver alguém mais
aficcionado em livros e em feiras de livros e “sebos’ do que eu. Na verdade,
uma das minhas diversões prediletas é fazer aquilo que eu apelidei de “garimpo
literário”, ou seja, procurar exaustivamente, em meio à dezenas, centenas de
livros, algo que me interesse. no ano de 2003 minha ‘garimpagem” foi
particularmente imensa, já que eu estava de certa forma “de pés e mãos
amarrados” aguardando a resposta do “Conselho” quanto à minha ida ou não ao
seminário. Aos poucos, fui perdendo a paciência e comecei a ponderar sobre a
possibilidade de estudar em outro seminário, não necessariamente ligado à
Igreja Presbiteriana, embora eu soubesse que não conseguiria ir muito longe, já
que a mesma só aceita (ou pelo menos só aceitava) pastores formados em seu
seminário. De qualquer forma, minhas leituras estavam me dando uma visão mais
aberta, mais livre do pensamento fechado de Calvino e isso se revelou à mim
como uma verdadeira primaverUM
CALVINISTA ECUMÊNICO?
Posso dizer, sem
medo de errar, que eu era um verdadeiro presbiteriano e que admirava e aderia
com toda a sinceridade às suas doutrinas, tanto que acabava me aborrecendo
constantemente na igreja que eu freqüentava, já que a mesma caminhava a passos
largos para o que eu posso definir como um “processo de pentecostalização”. eu
já freqüentei – por pouco tempo – a Assembléia de Deus e a Igreja Pentecostal
de Nova Vida, nas duas passei pouco tempo, não me acostumava com tantos “dons”
e para ser sincero não acreditava que todas aquelas manifestações pudessem
suportar uma crítica mais profunda, baseada nas Escrituras. Na verdade minha
ida para uma “igreja histórica” se deu justamente por estas razões. Eu
procurava algo mais fiel às Escrituras e não um festival de pirotecnia
pseudo-espiritual. Não era a toa que eu estava me aborrecendo com os rumos que
minha igreja ia tomando. Conversava com o pastor, mas este pouco me ouvia, não
me censurava, mas também não coibia os abusos que iam cada vez mais se
multiplicando. Aos poucos fui amadurecendo a idéia de entrar em outro
seminário. A inércia do “Conselho” e a minha sede de conhecimento de Deus me
fizeram tomar uma decisão e acabei me matriculando no seminário Peniel que na
época (não sei agora) era um seminário interdenominacional, ou seja, poderia
ser cursado por “crentes’ de qualquer denominação. Me empolguei mas fiquei um
dia só. Meu pastor interveio, primeiro mandou que eu desistisse ( deste e do
nosso seminário!) e me sugeriu que fizesse História já que eu havia manifesto à
ele este antigo desejo que eu nutria desde minha infância. nossa! que decepção!
foi terrível para mim, foi uma espécie de resposta não oficial do conselho e
caiu como um balde de água fria sobre a minha cabeça. chorei muito, muitos
dias.
Chegou enfim o dia
da reunião do Conselho. Aqueles senhores sentados diante de mim e eu meio
chateado, meio esperançoso aguardando uma resposta que fosse ela qual fosse,
seria para mim um grande alívio. Pois bem, chegou à hora, dentre os presentes:
cinco ou seis quase todos se posicionaram contrários à minha reivindicação,
sendo que um deles alegou que eu era “muito católico”. Ah! E sabe por que ele
disse isso? Bem, é justamente ai que entra a Semana Santa de 2003. na
sexta-feira santa deste ano, eu propus ao nosso pastor que realizássemos um
culto com “santa ceia” e que fizéssemos uma ‘liturgia’ mais sóbria,sem músicas
agitadas e só com o coral e pedi à ele que me deixasse dirigir o culto. ele á
princípio titubeou um pouco mas acabei convencendo-o. fiz isso por dois motivos,
em primeiro lugar para levar o povo à uma meditação mais profunda na dolorosa
Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e em segundo lugar porque lendo um livro
antiqüíssimo chamado “Peregrinação de Etéria”, descobri que a comemoração da
chamada Sexta-Feira da Paixão é uma prática que remonta aos primitivos
cristãos: séculos III e IV!!! Então, percebi que não era uma ‘invenção” da
Igreja Católica mas uma prática bi-milenar! Quem quiser conhecer este livro,
aqui está: http://www.veritatis.com.br/article/3805. pois bem, o culto foi
realizado. fiquei muito feliz! as pessoas pareciam mais piedosas e o pastor
pregou enfim sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor e a santa ceia foi
celebrada de forma muito bela. infelizmente poucos gostaram e isso atentou
contra mim, até o fim. Depois deste culto senti que não era o mesmo. Claro que
ainda lia os “mestres da Reforma’, mas minha mente e meu coração já haviam
mudado significativamente.
Até então eu não me referi em momento algum a questões pessoais e nem vou fazê-lo, mesmo porque minha saída da Igreja Presbiteriana não se deu por questões deste porte e muito menos minha conversão ao Catolicismo. Digo isto porque alguns pensam e muitos pensaram à época, que tudo se deu por conta de desavenças pessoais, o que , diante de Deus eu nego, pois simplesmente não foi. Além do que eu poderia ter ido para outra denominação e, bem, vamos continuar: voltando à reunião do Conselho, acabaram, sabe-se lá porque concordando com que eu fizesse a prova e me deram o dinheiro da matrícula no “vestibular”. Sinceramente eu não esperava isso, o clima frio e nada cordial que me cercava na igreja não prenunciava uma decisão como essa, no entanto dei graças a Deus e decidi esperar.
Trabalho aqui no centro do Rio de Janeiro. Um lugar tumultuado e cheio de gente, mas se também muito belo e muito rico em obras de arte.monumentos, museus. Nem preciso dizer o quanto aprecio essas coisas. As igrejas então… Sempre as achei belíssimas ( e de fato são, belíssimas, lindas! mas evitava entrar nelas mas não posso negar que me atraíam.
Ainda nesta época a questão das imagens me incomodava muito, bastante, embora eu já houvesse lido muitos argumentos à favor como por exemplo este, do papa Gregório Magno: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).
Ora, eu havia
aprendido no meio evangélico (não só na presbiteriana, mas em todas as igrejas)
que o Catolicismo promovia a idolatria e que adoravam imagens e principalmente
a Virgem Maria. Resolvi então descobrir por mim mesmo, se assim fosse, isso
seria abominável e mesmo satânico. Pois bem, este texto que transcrevi acima é
apenas uma pequena amostra dos muitos outros que pouco a pouco foram me fazendo
mudar de idéia. Resolvi ler o CIC (Catecismo da Igreja Católica), ensino
oficial da mesma sobre o assunto.
Claro que hoje
compreendo bem o porquê e o para que das imagens, mas não pense que foi fácil,
na verdade, foi uma luta terrível, eu queria – e quero – fazer a vontade de
Deus e por isso buscava-O intensamente, precisava saber o que fazer! em relação
á este assunto, uma das descobertas mais formidáveis que fiz foi a de que os
cristãos, ainda no tempo das grandes perseguições, já utilizavam imagens!
Nossa! Isso caiu como uma bomba sobre minha cabeça já um tanto atordoada. Foi
uma descoberta que me desconcertou e então resolvi deixar de lutar contra a
minha consciência. Claro que não sai correndo e enchi minha casa de imagens de
tudo o que é santo, não era essa a questão e isso nem era importante, ter ou
não as imagens, mesmo para a Igreja Católica é algo secundário e não
fundamental. O que se precisa deixar claro, isso sim, é a finalidade que damos
à elas, como a utilizamos. Ah! Aqui está o link com as imagens da Igreja
primitiva:
http://praelio.blogspot.com/2009/02/igreja-primitiva-x-protestantismo.html
Pois bem, a questão das imagens estava superada.
Depois descobri que nem mesmo Lutero dava muita importância para elas, além do
que, inúmeras igrejas protestantes possuem imagens em seus templos. Fiquei
feliz ao perceber que havia superado esta questão, mas ao mesmo tempo me via
cada vez mais desafiado pela Igreja, tantas descobertas feitas e eu ainda sem
saber ao certo o que fazer ou como agir, afinal eu tinha uma convicção plena de
que queria ser pastor, eu não me imaginava fazendo outra coisa, não me via em
outro ofício senão o de cuidar das pessoas e ensinar à elas o caminho para
Deus.
MINHA ESPOSA E A MISSA.
Ainda não havia
falado sobre minha esposa! Bem, ela me acompanhou em todos os momentos, desde
minha crise inicial até a nossa recepção “oficial” na Igreja Católica. Também
ela via em mim um potencial, sabia de minha “vocação”, de meu “chamado” e me
dava muita força, embora andasse um tanto quanto descontente com a forma como
era conduzida a nossa igreja. Eu sempre conversei franca e abertamente com ela
e nunca, em momento algum lhe escondi minhas hesitações, ela, no entanto
ponderava e pedia que eu refletisse, tivesse muita calma e, sobretudo orasse
com sinceridade por uma resposta. Até então a sua opinião acerca da Igreja
Católica não diferia em nada da maioria dos evangélicos: idolatria e heresias,
adoração à Maria etc.
Lembro bem de quando tive a primeira noção do que
era a Santa Missa, a Divina Eucaristia. Até então, tudo o que eu sabia sobre
isso era fruto de minhas leituras de Lutero, Calvino e demais autores
protestantes: John Stott, Martin Lloyd-Jones e outros não tão conhecidos. Claro
que, devido a esta formação eu pensava ser a Santa missa uma blasfêmia, uma
sacrílega “repetição” do Sacrifício Único do Calvário, obviamente era uma noção
errada ao extremo, mas infelizmente eu não tinha quem me esclarecesse, até
então…
Aqui no Centro do
Rio de Janeiro, existe uma igreja belíssima dedicada à São Basílio Magno que é
um dos chamados “Santos Padres”, primeiros teólogos da Igreja – aqui você pode
conhecer um pouco mais sobre eles: http://cocp.veritatis.com.br/
Bem, não sei se você sabe, mas a Igreja Católica
possui diversos ritos diferentes e esta pequena igreja adota o rito melquita,
que é um rito oriental por isso sua arquitetura é toda ela “orientalizada”,
cheia de ícones, turíbulos e um altar belíssimo. Pois bem, certa vez, indo para
o meu trabalho resolvi passar por esta igreja para ver se ela estava aberta, já
que sempre que eu passava estava fechada, por ser ainda muito cedo. Neste dia,
porém – providencialmente – ela estava aberta e dentro havia um padre de batina
preta, barba longa, que me olhou curioso ao ver que eu havia entrado na Igreja
àquela hora como se procurasse por algo (e bem que eu procurava!). Ele veio
então falar comigo, perguntou se eu era católico e eu disse que não, que era
presbiteriano e expliquei à ele onde ficava a nossa “catedral”, aliás ali bem
perto. Ele me disse já ter entrado lá para apreciar a arquitetura (a catedral
presbiteriana é em estilo gótico). Eu confesso que fiquei sem graça, meio sem
jeito para conversar com ele até que ele me perguntou se eu não gostaria de ir
um dia à Missa ali na sua igreja. Eu fiquei sem reação e disse que sim, que
iria sim e ele me disse assim: Venha sim, mas infelizmente você não poderá
participar da comunhão. Eu não tinha idéia do quanto aquilo significava mas
consenti e fui embora, não sem antes ser abraçado fortemente por este sacerdote
e ( devido aos seus costumes orientais – ele não era brasileiro) ter ganho dois
beijos no rosto! Achei engraçado e acolhedor, além do que suas palavras mexeram
comigo. Pronto: aguçada minha curiosidade e tocado pela Graça de Nosso Senhor
fui atrás de uma melhor explicação:
Afinal, o que é a Missa, o que
é Eucaristia?
Pode-se dizer que a
“santa ceia” celebrada pela grande maioria dos evangélicos e protestantes é na
verdade fruto do entendimento daquilo que Lutero ( e ainda mais Calvino)
entendiam ter sido a última Ceia de N.S.J.C. com seus apóstolos. Lutero passou
boa parte de sua vida tentando “destruir” a Missa e Calvino dizia ser esta um
sacrilégio, uma blasfêmia. Veja esta frase de Lutero: “Sim, eu digo: todas as
casas de tolerância, que, entretanto Deus condenou severamente, todos os
homicídios, mortes, roubos e adultérios, são menos prejudiciais que a
abominação da missa papista.” (Werke, t. XV, 773-774)” Pois é, este era o nível
de argumentação de Lutero que nunca fez questão de esconder o seu ódio.
Entretanto Lutero manteve a “sua missa” que depois ficou comumente conhecida
como “santa ceia”. entretanto já não havia a crença no Sacrifício
Propiciatório, não havia mais a Presença Real e Substancial de Cristo nas
espécies consagradas sob a aparência do pão e do vinho mas sim uma espécie de
“empanação”: sim, Cristo estaria presente, mas somente de forma espiritual,
junto com o pão e o vinho e assim sendo não se poderia mais adorar a Hóstia
Santa. Lutero também suprimiu todas as orações do ofertório ( tudo aquilo que
demonstrava claramente ser a Santa Missa um verdadeiro sacrifício) apesar de
ter conservado o termo “sacrifício de louvor” , que contudo, não abrange toda a
extensão e essência da Santa Missa.
Tudo isso que
escrevi acerca da Missa e da Eucaristia era uma novidade para mim. Sempre
procurei participar da “santa ceia” da maneira mais digna possível e de
preferência tendo “confessado” os meus pecados à Deus. ( sim! vou falar também
sobre a Confissão).
Nesta altura dos
acontecimentos eu já não me contentava em ler só livros
evangélico-protestantes, afinal eu estava prestes a dar um passo importante na
minha vida e que seria de certa forma definitivo. Eu não queria aventuras e
muito menos justificar tudo como sendo pura e simplesmente “vontade de Deus”
apenas para esconder ou disfarçar meu “conformismo”. Claro que eu confio na
Providência, claro que sei que é Deus Nosso Senhor que guia as nossas vidas e
nos aponta o Caminho certo, afinal de Si mesmo disse Nosso Senhor Jesus: “Ego
Sum, Via, Veritas et Vita” , Eu Sou o Caminho, A Verdade e a Vida Jo 14,6. Ora,
Ele sendo o próprio Caminho, não haveria de me deixar sem respostas, muito
menos desorientado.
Uma coisa
importante, aprendi nesta época: a recorrer sempre aos antigos escritores
eclesiásticos, àqueles “Pais da Igreja” do qual eu lhe falei em um dos meus
últimos e-mails. Ora, tendo muitos deles convivido com os próprios apóstolos,
seriam sem dúvida uma fonte fidedigna de informação, mas sinceramente, dentro
do meu íntimo eu tinha receio do que encontraria nestes escritos, era como se
eu estivesse passando por uma lenta metamorfose. Resolvi então procurar em
sebos e mesmo na internet alguma coisa sobre a Missa. Afinal, era uma
“invenção” romanista ou uma Verdade maravilhosa que remonta aos primeiros
cristãos.
Bem, a resposta que tive não poderia mesmo ser
outra: TODA a estrutura da Santa Missa já é encontrada em documentos do I
século! Veja por exemplo este breve texto, escrito por São justino, que depois
foi morto por causa de sua fé em Cristo Nosso Senhor:
“No chamado dia do
Sol,( domingo ) reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou
nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na
medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a
palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes
ensinamentos.
Depois,
levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima,
ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água. Então o que preside
eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama:
Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos
alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por
meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada.
O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. “Este socorre os
órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em
dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa
palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados” (Justino – I
Apologia Cap. 66-67 : PG 6,427 – 431).
Depois de
descobertas como esta, resolvi “abrir o jogo” com minha esposa sobre a questão
da Eucaristia e tive então uma das maiores surpresas de minha vida. Já era
tarde da noite e conversávamos sobre amenidades até que tomei coragem e resolvi
falar-lhe sobre o assunto. Não precisei de muito tempo até que ela tomasse a
palavra e me confidenciasse que nunca conseguiu se satisfazer plenamente com
aquilo que sempre lhe ensinaram ser a “santa ceia’, ela sempre esperou mais,
sempre acreditou em algo mais do que aquilo e isso sem que ela NUNCA houvesse
estudado uma únical linha do Catecismo Católico e desconhecesse completamente a
doutrina Católica da Missa. Obviamente eu perguntei se ela havia lido algo em
algum livro meu, mas ela negou, disse apenas que não concordava com “tão
pouco”. Eu entendi bem aonde ela queria chegar e então conversamos durante
longas horas sobre a Igreja, os sacramentos, sobre Maria Ssmª , o Papa e etc.
Claro que não dormimos protestantes e acordamos católicos, mas resolvemos ir à
Santa Missa no domingo, mesmo tendo que participar do culto pela manhã.
Esqueci de dizer que
pedi dipensa das aulas da EBD, não me sentia mais a vontade ensinando aquilo
que eu já não cria mais. No princípio, eu aproveitava as aulas para tentar me
convencer que estava errado, que a “Reforma” foi “gloriosa” e que o verdadeiro
Cristianismo estava na “igreja evangélica” mas minha resistência foi um
verdadeiro fiasco, então para ser coerente e honesto comigo mesmo desisti das
aulas.
Passamos então a ir
às Missas de 18:00 h numa pequena capela que ficava perto de nossa igreja, Como
trabalhávamos ainda na igreja não podíamos ir juntos então minha esposa ia uma
semana com minha filha ( então com 04 anos) e eu ia na outra. Foi um período de
grandes descobertas e profundas modificações. Confesso que não compreendíamos
muita coisa, mas sabíamos que estávamos em casa e pouco a pouco todas as
dúvidas foram se dissipando.
Chegou o dia da
prova do seminário e eu simplesmente não fui. Achei justo devolver o dinheiro
mas não quiseram aceitar, o que para mim foi uma humilhação mas dei graças a
Deus, afinal eu já não me importava muito com isso. Nesta época minha esposa
descobriu uma gravíssima lesão na coluna cervical e por conta disso ficou em
licença médica durante mais ou menos dois meses, justamente quando nossa igreja
sediou um congresso de pastores. Até hoje agradeço a Deus pelo seu modo de agir
tão paternal, nos livrando de mais constrangimentos.
Neste período em que
minha esposa ficou doente, resolvemos pedir demissão, mas eles se anteciparam,
já não havia clima para nossa permanência e aqui – infelizmente – preciso falar
de algo pessoal, o pastor simplesmente sumiu, se negou a conversar, não quis
ouvir nossas razões e simplesmente, até o dia em que fomos embora ele nunca
mias se dirigiu a mim. Fiquei muito triste é verdade, mas de certa forma já
esperava por isso.
Alugamos uma casa e
fomos embora sem maiores satisfações. Sentimos um grande alívio e graças a
misericórdia infinda de Nosso Deus estamos até hoje E PELA MISERICÓRDIA DE DEUS
NOSSO SENHOR,ESPERAMOS ESTAR ATÉ O DIA DE NOSSA MORTE, na Única Igreja fundada
por Cristo onde eu fui batizado aos 29 anos, onde recebemos o Corpo e o Sangue
de Cristo, onde batizamos nossa filha e nos unimos verdadeiramente pelo
Sacramento do Matrimônio.
Marcos J. Siqueira
FONTE
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