"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica.
Um me distingue, o outro me designa.
É por este sobrenome que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos".
São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, ano 375 D.C.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Devemos viver a Quaresma ou a "Campanha da Fraternidade"?

Caros  leitores, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


Ontem, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos a santa Quaresma de 2017, período de 40 dias em que  - a exemplo de Nosso Senhor que ficou 40 dias no deserto - os cristãos buscam por meio da oração, do jejum e da caridade,  a conversão e a santificação pessoal em preparação para a Grande Páscoa da Ressurreição do Senhor. 


Na igreja do Brasil este período também é marcado pelo início da "Campanha da Fraternidade". Mas afinal, o católico é realmente obrigado a "aderir" a essa Campanha em plena Quaresma? Será mesmo tal Campanha necessária ou ao menos útil para vivermos bem a Quaresma?


Abaixo um texto publicado no ano passado onde o Reverendo Padre Cleber Dias nos apresenta algumas reflexões sobre a Campanha da Fraternidade e a Quaresma. Embora escrito em 2016, essas reflexões são plenamente válidas para o ano em que estamos (e para os anos futuros, enquanto houver "Campanhas da Fraternidade" em tempo quaresmal). Boa leitura!


José Santiago Lima  



Campanha da Fraternidade, um desabafo sacerdotal.

Um texto longo, mas necessário. Peço que ninguém o mutile, nem o altere:Algumas notas sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016: “Casa comum nossa responsabilidade”.
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Este texto está assegurado pela a Constituição Federal, Artigo 5º ” IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; ” e também pelo Código de Direito Canônico, cânon 212 § 2: “Os fiéis têm o direito de manifestar aos Pastores da Igreja as próprias necessidades, principalmente espirituais, e os próprios anseios.” e § 3: “De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, tem o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos Pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência para com os Pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, dêem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis.”
Portanto, escrevo aos leitores, certo de que entre eles, alguns de nossos bispos também o lerão. Já aviso de antemão que qualquer comentário pejorativo aos Senhores Bispos será sumariamente apagado, não porque alguns não o mereçam, mas porque o meu perfil não é um lugar para bate-bocas de comadres de vila. Uma coisa é discordar, outra fazer estrepolias de moleques. Quem discorda do que escrevo ou vê de forma diferente tenha a hombridade de o fazê-lo dentro da educação e polidez de gente civilizada e de usar seu nome próprio. Se discorda, coloque seus argumentos e iniciemos um debate.
Centenas de católicos escrevem-me diariamente sobre sua inquietação e perplexidade com mais uma Campanha da Fraternidade (CF). Discutir saneamento básico, esgoto e políticas da água dentro das igrejas parece-lhes – e parece-me – totalmente fora da realidade. Dentre as dezenas de razões para o rechaço a mais ouvida é que a CF tem o intuito de desviar o espírito da Quaresma para ocupar cátedras e púlpitos para uma pregação meramente social e política, quase sempre alinhada ao bom-mocismo do politicamente correto transformando a Igreja Católica em mais um ONG “engajada”. Atitude esta condenada pelo Papa Francisco….
Dizem os perplexos e inquietos que, para os promotores da CF 2016, é mais importante discutir sobre esgoto e água que tratar sobre a proteção da vida nascente e o pecado hediondo do aborto, mais importante cuidar do córrego sujo que do manancial de sangue dos milhares de cristãos, católicos ou não, perseguidos não só na Síria pelos muçulmanos, mais importante que banir e entregar à justiça canônica e civil sacerdotes pedófilos, mais importante que cuidar dos inúmeros casos e denúncias sobre a péssima formação sacerdotal e a corrompida doutrina instilada nalguns seminários e servida à mão-cheia nos púlpitos, mais importante que suspender sacerdotes que não temem desfilar com bandeiras partidárias e bonezinhos de sindicatos, partidos políticos e do MST, mais importante que se levantar contra a eugenia que se instala contra os prováveis e futuros microcéfalos, mais importante que limpar e sanear a PJ de todo a doutrina marxista que está às claras.
Quando um padre se levanta contra estas questões candentes ele é tachado de “não está em comunhão com a Igreja” ou, “não está em comunhão com a Diocese” ou “não está em comunhão com o presbitério”. Conversa fiada de que detêm o poder, mas não detêm a razão. Senhores… o mal e o pecado continuam ser mal e pecado mesmo que todos digam que não.
Cartaz da Campanha de 2017
O que ocorre com tal padre, na melhor das hipóteses é ostracizado pelos colegas, na pior é suspenso do uso de ordens. VEREMOS o que lá vem para mim. Só não sei porque tantas pessoas falam dos padres e bispos bons que se calam… terão medo de quais represálias os assim chamados “bons” bispos? A não promoção à uma diocese “melhor”, à não promoção a algum arcebispado, um título cardinalício? Consultando minha consciência e os ditames da Santa Igreja a quem sirvo vejo-me na obrigação de esclarecer aos fiéis algumas coisas:
– Há uma dezena de anos atrás constatou-se que quem comandava as cordinhas da CNBB eram seus assessores, todos sem exceção alinhados ao socialismo- comuno-psolista-petista.
– Nos dias atuais já não se pode culpar os assessores uma vez que, com a clareza do sol do meio dia, até um cego vê o alinhamento majoritário dos bispos a todo esquerdismo militante. Basta recordar o episódio no ano de 2014 da morte do líder do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, pranteado na página da CNBB pelo então Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo U. Steiner, como “Exemplo de cristão na política”. Para quem acompanhou o desenrolar do caso nas redes sociais viu as milhares de mensagens condenando tal pranto por defunto tão vil. Era muita vela pra pouco defunto. Plínio de Arruda Sampaio era defensor aguerrido do Aborto, do coletivismo, do estatismo comunista e de todas as mazelas intrínsecas ao comunismo já condenado pela Igreja. Para Dom Steiner era um modelo de cristão. Para os demais bispos… ficaram todos caladinhos e acovardados ou compactuaram com o cristianíssimo Dom Steiner, cuja noção de cristão deve ser algo sui generis. Dom Steiner, como todo bom democrata socialista mandou apagar das redes sociais todos as centenas de comentários que o denunciavam….A título de exemplo, a nota pranteadora de Dom Steiner ainda está lá no site da CNBB, limpinha de comentários (http://www.cnbb.org.br/index.php…).
Em a grande maioria das paróquias os católicos ouvirão disparates na Oração dos Fiéis como: “Rezemos para que o poder público dê os devidos cuidados ao saneamento… etc… etc”. Ora, ora, ora…os dirigentes da CNBB sabem muito bem que os atuais mandatários e a mandatária maior do país só foi eleita com sua ajuda…. se não se recordam, refresco-lhes a memória… quando da necessidade da fundação do partido no poder usou-se o povo católico como massa de manobra para colher assinaturas, sabem muito bem que têm um canal privilegiado junto ao famoso Gilberto de Carvalho direto com a Presidência da República, vulgo “seminarista”. Bastaria agora, na questão do saneamento público, do acesso à agua, da situação calamitosa e indigna dos hospitais e da roubalheira generalizada, colher assinaturas citando e cobrando quais inicitivas e entregar aos poderes públicos. Não creio que um só católico que seja não aceitaria assinar. o próprio volume de assinaturas poderia ser levado ao Congresso para propor e agilizar pautas verdadeiramente sociais.
Quando foi pra conseguir assinaturas para a Reforma Política proposta por entidades de esquerda e ONGS esquerdistas patrocinadas com dinheiro público a CNBB não teve vergonha nenhuma de fazer correr nas paróquias as listas para as assinatura e em quantas missas os senhores párocos fizeram verdadeira campanha pela tal Reforma Política. Baste o gesto lacaio e subserviente da visita da presidência da CNBB à Presidente num sinal de “estamos juntos, companheira!”. Da mesma CNBB não se vê uma linha de apóio explícto ao Judiciário que tenta desmantelar a quadrilha que se instalou e só lá está por apoio implícito e explícito de tal entidade.
Voltemos ao nosso… quais os limites da acção da CNBB e de aceitação da CF?
Recordo a todos que:
1) A CF é uma iniciativa anual da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB).
2) A CNBB como qualquer Conferência de Bispos no mundo inteiro não é orgão da Igreja Católica, não a dirige. Os dirigentes da Igreja Católica são respectivamente cada um dos Bispos diocesanos em suas dioceses. O Arcebispo Primaz do Brasil que é o Arcebispo de São Salvador da Bahia detêm o título honorífico e pode sim convocar um Concílio Plenário para sanar as mazelas, incluindo as da CNBB. Em cada Província Eclesiástica o arcebispo detêm o poder de convocar os bispos das dioceses sufragâneas e presidir o Concílio Regional para sanar as mazelas locais. Por os senhores Primazes e Arcebispos faltarem com seu papel é que a CNBB tomou para si suas funções.
3) A CF é uma proposta, não uma imposição. Para que algo que ela tenha decidido se torne obrigatório a todos os católicos é necessário que todos estes pontos sejam observados: a) Aconteça uma Assembléia Geral na qual a questão é decidida e não seja a decisão de uma comissão delegada, b) haja o consentimento de todos os bispos (não tem nenhum valor a decisão de uma comissão ou de um grupo restrito, c) sejaredigida uma Ata na qual conste o conteúdo e o consentimento de todos os bispos, d) Tal Ata seja enviada ao Papa que a aprova ou não, e) Somente então a decisão passa ter valor de lei.
4) Portanto nenhum presbítero (padre), diácono, leigo e até mesmo bispo, se não concorda, tem de dar seu assentimento e implantação em sua paróquia ou diocese da CF se antes ela não seguiu os trâmites para se tornar lei geral e comum. E isto não significa que não se está em comunhão com a Igreja, apenas que não se concorda com uma proposta da CNBB que é um orgão de reunião de bispos, não da Igreja.
5) Minha opinião particular, resguarda pela Constituição Federal e pelo Código de Direito canônico: Qualquer bispo com o mínimo de noção e conhecimento deveria dizer “aqui em minha diocese não haverá CF este ano”. Qualquer padre, com as mesmas condições, também. Os leigos já não suportam mais tal situação e dizem: “CNBB: Devolva-nos a nossa Quaresma”. Se os pastores não ouvem e não cuidam do rebanho vão acabar por perdê-lo… CNBB..Senhores Bispos, Senhores padres… não dá mais! Até quando irão tapar o sol com a peneira? Até quando iremos fazer de conta que a CF está aí e só afasta cada vez mais os fiéis? Vamos ficar ainda mais em cima do muro? Digamos as coisas às claras, sejamos homens não subservientes e rastejantes ao erro.
6) Os católicos deveriam também pedir uma auditoria de todas as entradas financeiras às coletas nacionais e, maximamente, do chamado Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) cujos próprios relatórios demonstram que o dinheiro dos fiéis, salvo honrosas e diminutas somas, é injetado em ONGs e sindicatos. Não se trata de algo interno, o FNS recebe uma contrapartida do BNDES… portanto passível de uma séria investigação do Ministério Público.
7) Por último, cuidar sim da nossa casa comum, cuidar do meio ambiente, sim, lutar por vida digna e qualidade de vida dos mais pobres, sim; mas não antepôr questões temporais àquelas que dizem respeito à salvação. A figura deste mundo passa (1Cor 7, 31) e o que vale ao homem ganhar o mundo e perder a sua vida? (Marcos 8, 36). Não devemos nos conformar com este mundo, mas renovarmo-nos pela conversão a Deus e não às criaturas (Romanos 12, 2), pois são os pagãos que se preocupam com as coisas deste mundo: ” Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.” (Mateus 6, 31-32)
Padre Cléber

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

BEATO LUIS MAGAÑA SERVIN, rogai por nós!

Hoje é dia do Beato Luis Magaña Servín, mártir Cristero.

Arandas, povoado localizado na região de "Los Altos" de Jalisco, é uma terra que, como quase todas as terras de nossa nação mexicana, tem um legado histórico interessante.
Em seu tempo, pertenceu à Diocese de Valladolid, hoje Arquidiocese de Morelia, Michoacán, cujas terras pertenciam a um cavalheiro espanhol chamado Andrés de Villanueva, quem em meados do século XVII, fundou a primeira comunidade não precisamente indígena, mas sim miscigenada entre nativos, espanhóis e alguns franceses. Por essa razão, as pessoas dessa região de "Los Altos" de Jalisco mantém alguns traços  europeus: pele clara, cabelo loiro, estatura alta e - em geral - olhos claros.
Luis foi uma criança tranquila. Não gostava de se envolver em confusões, ainda que adorasse as brincadeiras infantis daquele tempo: bolinhas de gude, rodar pião, yo-yo, "las ramitas". Mais tarde, se apaixonou pelo jogo de beisebol.

Já um pouco mais crescido, passou a ajudar a seu pai Raymundo na "tenería" (n.d.t. local onde se curtem e preparam peles, "curtume"); com empenho e espírito de sacrifício, levantava-se bem cedo e ia à Missa das 5 da manhã, juntamente com seu pai, em seguida tomava café e ia à escola. Pela tarde, ajudava nas atividades de curtume, rezava o rosário em família, jantava e então ia para a cama.

Assim eram todos os dias, seguindo um horário fixo e disciplinado; duas vezes por semana ia aprender o catecismo, ensinado por uma catequista, onde aprendia palavra por palavra as respostas do livro do padre Ripalda.

"Cresceu muito parecido ao seu pai - recorda Ignacio González López - sendo seu braço direito em tudo, chegando inclusive a ficar à frente da "teneria". Ainda que Luis trabalhasse em meio aos couros malcheirosos, estava sempre alegre e bem-humorado".
Várias testemunhas afirmaram ser Luis muito conhecido e apreciado pelo seu interesse nas questões sociais, impulsionado pela leitura da encíclica Rerum Novarum que Sua Santidade o Papa Leão XIII publicou em 1891. Juan Camarena Vázquez assegurou que ele pertencia à Associação de Santa María de Guadalupe, que reunia os obreiros, camponeses e artesãos.

O ancião Sr. Salvador Navarrete Navarro, recorda que Luis Magaña gostava de conversar sobre os problemas sociais, sobre a política do governo e das coisas referentes ao povo. Em sua casa se reuniam e se planejavam todos os movimentos. Luis era apaixonado pelas causas sociais e colocava em prática a justiça social no trato humano e amigável com seus trabalhadores. Em sua pequena empresa, tratava generosamente a seus ajudantes e trabalhadores e, frequentemente lhes emprestava dinheiro.

Leigo Mártir de Arandas - Jalisco - 1902-1928

"Luis era fiel ao seu turno da noite - afirma seu primo irmão, o Sr. José Magaña López. Luis tirava daí toda sua força e entusiasmo para a defesa da Igreja. Luis se levantava às cinco da manhã para estar na Paróquia já na primeira Missa". Todas as testemunhas de então afirmaram que Luis Magaña era de Missa e comunhão diária. Primeiro cumprir com Deus e depois com todos os demais.

Envolvido com tantas atividades na paróquia, era de se esperar que Luis fosse muito amigo dos párocos e vigários de Arandas. O Sr. Ignacio González López, seu amigo desde a infância, diz que: "Luis dava palestras aos companheiros, era o braço direito do pároco Padre Amando J. de Alba, além de ser totalmente entregue às coisas de Deus. Como organizava tudo de maneira excelente! Juntava grupos de jovens para ajudar aos mais pobre".

Ainda assim, Luis não descuidava seu trabalho nem sua família. Recorda dom Maximiliano Navarrete Navarro, empregado por mais de 20 anos nos Correios de então, no trajeto Arandas-Atotonilco, Jalisco: "Os Magaña saíam a vender os couros curtidos. Eu os levava ao correio para Atotonilco e conversava com Seu Raymundo e seu filho. Luis sempre foi bom com vendas  desde bem pequeno. Me lembro que rezava durante o caminho. Logo após, me contava como ia o negócio, em quê e como trabalhava... Mas ao que me lembre nunca o ouvi queixar-se de alguém ou que estivesse inconformado com alguém. As vezes me contava, durante a viagem, os sermões que havia ouvido no domingo"...

"Muito gentis e sinceros em tudo, eram também generosos comigo. Sempre me pagavam a comida. Em seguida, Luis ia sozinho e nunca regressava com mercadoria, porque era um ótimo comerciante. Ainda assim, nada "pão duro". Eu mesmo o vi ajudar aos pobres que lhe pediam dinheiro".



Grande era sua devoção à Virgem Maria. Em 27 de novembro de 1921, Luis esteve presente no  ato de desagravo que se realizou em Arandas pelo ataque explosivo diante a imagem da Virgem de Guadalupe em sua Basílica na Vila de Guadalupe na Cidade do México.

Sendo Arandas centro de inumeráveis associações religiosas, Luis Magaña desde bem jovem se inscreveu na Associação Católica da Juventude Mexicana, sendo um dos que fundaram a ACJM naquela localidade.

Em 7 de janeiro de 1922, visitou Arandas o líder da ACJM (também Beato e Mártir) Anacleto Gonzáles Flores em uma espécie de "turnê" de propaganda católica.

Luis pôde ver, escutar e admirar de perto o "Mestre", grande defensor da liberdade religiosa dos católicos, o guerreiro de Cristo que com a palavra e a caneta queria renovar a sociedade mexicana.

Mais tarde, em 7 de novembro daquele mesmo ano, Luis Magaña foi uno dos fundadores da Adoração Noturna em Arandas, associação que tinha como objetivo fazer a guarda e oração diante de Jesus Sacramentado durante as horas da noite.
Luis era um homem pacífico. No entanto, quando se instalou o conflito cristeio na região de "los Altos", entre 10 e 14 de janeiro de 1927, Luiz não se alistou nas filas de combatentes cristeros (como fez a maioria), mas antes permaneceu em Arandas para organizar o apoio aos que estavam no acampamento de Cerro Gordo. Assim nos conta o  Sr. José magaña Lópes, primo de Luis: "Viram como meu primo era bom para convencer as pessoas... Ele juntava de tudo, até mesmo armas e munição, e depois nos mandava com o correio de seu grande amigo Pancho. Carregava de pães o lombo de burros que tinha e também punha munição e outras necessidades para os que estávamos armados. Todos os dias nos chegavam coisas de uma forma ou outra. Luis sabia o risco que estava correndo e ainda assim resolveu corrê-lo".
Em 1927, para impedir a ajuda que era prestada aos cristeros, a autoridade militar ordenou que quando terminasse a colheita de milho, todas as famílias que vivessem nos pequenos povoados e nos ranchos, deviam se concentrar em algum centro importante que estivesse sob a autoridade do Governo.

Deste modo, qualquer pessoa que se encontrasse fora, isolada, seria considerada rebelde e fora da lei, podendo ser fuzilada sem maiores explicações. Tal procedimento obrigava os camponeses pacíficos a abandonar suas colheitas e suas casas.
Tal problema não demorou a alcança-lo. Luis era muito esperto e bom para se esconder. Ainda assim, o general Zenón Martínez não o encontrando, por infelicidade, deu de cara com seu irmão Delfino, a quem tomou por refém. Era a manhã do dia 9 de fevereiro de 1928 quando  soldados se apresentaram na casa de dom Raymundo Magaña trazendo a ordem do general para prender Luis.

Como não o encontraram, detiveram seu irmão Delfino que era dois anos mais novo que Luis, e disseram ao sr. Raymundo seu pai, que se Luis não se apresentasse naquele mesmo dia, fuzilariam a Delfino, que era solteiro. Luis, por outro lado, era casado, tendo um filho pequenino e esperando outro que logo nasceria. Isso muito preocupou a seu Raymundo.

Quando  ao meio dia chegou Luis em sua casa, encontrou seus pais e sua esposa chorando. Lhe contaram o ocorrido e Luis, como sempre tranquilo e sereno, compreendendo perfeitamente a angústia de seu pai, interveio com sagacidade, dizendo-lhes:
"Fiquem tranquilos. Vou falar com o general Martínez para averiguar o que acontece e lhes prometo trazer de volta a Delfino. No mais, provavelmente me enviarão a Guadalajara, onde tudo se resolverá".
Tomou seu banho, se barbeou e saiu de seus aposentos com seu resplandecente terno escuro, que havia comprado em Guadalajara para seu casamento e que havia guardado para o dia do triunfo. Sentou-se à mesa com sua família e comeu tranquilamente. Era sua última refeição. Ao terminar, levantou-se, se pôs de joelhos diante de seus pais e lhes pediu a benção. Em seguido os confortou dizendo-lhes que logo voltaria.

Ao se recompor, estendeu os braços e os abraçou a todos, um a um. Pegou em seus braços seu filho pequeno, Gilberto, de apenas dez meses, o apertou junto ao peito e o beijou; deu um forte abraço em sua esposa Elvira que chorando soluçava, e se foi. Era por volta de três horas da tarde, hora en que Luis seguiu pela Rua Juárez, a que sempre tomava para descer à praça ou à paróquia. Naquele tempo, a Sra. María Alvizo e seus familiares estavam concentrados numa casa da Rua Juárez. Ela lembra que viu Luis descer, e como se conheciam de muitos anos porque seu pai, Benito Alvizo, havia sido padrinho de casamento de Luis, lhe perguntou aonde ia vestido tão elegante, como se fosse à alguma festa. Após saber do que se tratava, lhe disse:
"Não vá, porque vão te fuzilar!"

Então Luis, abrindo os braços e olhando para o céu, respondeu:


"Que felicidade, dentro de uma hora estarei nos braços de Deus"

Luis foi direto ao antigo escritório paroquial, onde agora se encontrava o escritório do quartel militar. Ao chegar à porta, perguntou aos soldados que a guardavam se poderia falar com o general Martínez. De imediato um oficial o prendeu e o conduziu escoltado ao Hotel Centenário onde estava hospedado o general.

"- Quem é você?" - perguntou de forma autoritária o general Zenón Martínez.
" - Meu general, eu sou Luis Magaña, a quem o senhor procura" - disse sem tremer, olhando nos olhos do militar - aquele que foi preso é meu irmão, e ele nada deve. Os senhores procuravam a mim, assim que deixem-no livre".

O general Martínez, ao se encontrar diante deste valente rapaz, se pôs a observa-lo. Deve ter sido uma cena suprema aquele momento: Luis, um jovem magro, de rosto fino, vestido como que para uma festa, valente, generoso, calmo, encarando de frente, com os olhos fixos no homem rude, sem sequer piscar.

O militar se levantou de sua poltrona, trocou algumas palavras com seu tenente e, dirigindo-se a Luis, lhe disse em tom um tanto desconcertado:

"- Bem, jovenzinho. Vamos ver se você é mesmo tão valente como parece."
E dirigindo-se ao oficial, lhe ordenou:

-"Soltem ao outro e fuzilem a este aqui, imediatamente, no pátio da igreja".
Eram cerca de quatro da tarde. As ruas estavam quase desertas. Era uma hora "preguiçosa" para o povo que, talvez sonolento com o peso da comida ingerida no almoço, dormia a "siesta", sendo que apenas umas poucas mulheres apuradas de trabalho e obrigações, se concentravam em seus trabalhos domésticos.



O pelotón de oito soldados e o tenente saíram do hotel atrás dos presos: Luis Magaña e "Pancho la Muerte", seu fiel mensageiro a quem haviam capturado anteriormente. Cruzaram a praça pequena, entraram no átrio da paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe de Arandas e os colocaram à esquerda do portal. O tenente tentou lhe vendar os olhos, porém Luis não quis.
O militar lhe perguntou qual seria sua última vontade. Luis Magaña tinha suas mãos atadas às costas. Levantou seus olhos as céus e, diante do grupo de soldados e curiosos que haviam se reunido para presenciar a execução, Luis expressou suas últimas palavras.

A Sra. María Mercedes Torres assegura ter escutado as palavras de Luis e sua solene declaração:


"Nunca fui cristero (soldado) nem rebelde, como vocês me acusam. Agora, se é de cristão que me acusam, sim o sou! Soldados que vão me fuzilar: Quero lhes dizer que desde este momento vocês estão perdoados, e lhes prometo que ao chegar na presença de Deus, serão os primeiros por quem vou pedir.
Viva Cristo Rey!
Viva Santa Maria de Guadalupe!"

O padre J. Guadalupe Navarro, então seminarista de dezoito anos, estava naquele momento no posto na esquina do pequeno portal, próximo ao escritório atual e ouviu perfeitamente as palavras de ordem:

- "Preparar as armas... Apontar... FOGO!".
Ressoou por todo o povo uma forte detonação em meio ao trágico silêncio dessa tarde. Encerrada em sua casa, a mãe do mártir, Conchita, desmaiou quando ouviu os disparos, como  conta sua neta, Esperanza Magaña. No átrio da igreja ficaram dois corpos inertes. Era a tarde do dia 9 de fevereiro de 1928.



BEATO LUIS MAGAÑA SERVÍN, Rogai por nós!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

SÃO MATEO CORREA MAGALLANES, rogai por nós!

Hoje é dia de San Mateo Correa Magallanes, mártir Cristero.



O Padre, Sacerdote de Cristo, Mateo Correa Magallanes
Nasceu em uma família bastante pobre e humilde. Recebeu a educação primária em uma escola de Jerez - estado de Zacatecas - e em seguida na cidade de Guadalajara, onde viveu durante três anos.

Logo depois, se inscreveu no Seminário de Zacatecas, onde foi admitido gratuitamente, desempenhando a função de porteiro do edifício que abrigava a instituição.

Passado esse período, por sua boa conduta e aplicação nos estudos, lhe foi concedida uma bolsa para ser aluno interno e assim concluir seus estudos.

Foi ordenado sacerdote no dia 20 de agosto de 1893 e celebrou sua primeira missa cantada na paróquia de Fresnillo - Zacatecas, quando tinha vinte sete anos de idade.

Durante os 34 anos de sua vida sacerdotal percorreu todos os rincões da diocese, pois sempre estava disposto a trabalhar onde quer que lhe enviasse seu bispo, mesmo nos locais onde outros não  haviam aceitado; por isso seus companheiros o apelidaram "O Andarilho", pois percorreu praticamente toda a diocese de Zacatecas.

Após vários anos de ministério, foi nomeado pároco de Concepción del Oro - Zacatecas, onde  administrou o sacramento da comunhão ao Beato Miguel Agustín Pro S.J., além de administrar o batismo ao irmão deste, Humberto, ambos também mortos durante a perseguição religiosa.




Retornou a Colotlán - Jalisco, onde viveu três anos e, em fevereiro de 1926 foi destinado a Valparaíso - Zacatecas, onde esteve durante o último ano de sua vida e teve que suportar a perseguição constante e implacável dos militares, comandados pelo general Eulogio Ortiz, que era cruel, sanguinário e tinha ódio mortal aos sacerdotes.

São Mateo Correa Magallanes quando jovem seminarista




Em 2 de março de 1926 chegou a Valparaíso o general Eulogio "O Cruel" Ortiz que tomou conhecimento que nessa região os jóvens da Ação Católica divulgavam o manifesto do comitê central que expresava o sentimento dos católicos diante das leis injustas da Constituição, além de juntarem assinaturas pedindo ao Congresso da União para que derrogassem tais leis.
De imediato mandou encarcerar aos jóvens Vicente Rodarte, Pascual E. Padilla e Lucilo J. Caldera, que pertenciam ao grupo da Ação Católica da Juventude Mexicana (ACJM), os quais só ficaram em liberdade no dia 16 seguinte porque o juiz do distrito não havia encontrado delito que justificasse a prisão deles.
Tal sentença, com já era de se esperar, converteu-se em um episódio ridículo para o general Ortiz que, furioso, jurou publicamente vingar-se no Reverendo Padre Mateo Correa, por quem nutria ódio verdadeiramente irracional e perverso.

Enquanto mantinham detidos os jóvens católicos da ACJM, o general Ortiz exigiu a presença dos padres J. Rodolfo Arroyo e do recem chegado Padre Mateo Correa.


O militar diante dos dois clérigos, lhes mostrou o manifesto da ACJM e a lista de assinaturas, perguntando-lhes o que era aquilo. o Padre Correa disse: "Trabalho de paz", ao que Ortiz replicou furioso: "Isso é trabalho de paz?".

Interveio o Padre Arroyo explicando que o Reverendo Padre Mateo não sabia nada sobre o manifesto, porque havia acabado de chegar. O general no entanto ordenou que fossem presos acusando-os de rebeldes e ordenando que fossem enviados à Zacatecas.





O povo estava exaltado, porém os dois sacerdotes tentavam acalmá-lo. O general Ortiz e seus quinze soldados se retiraram de Valparaíso no dia 3 bem cedo, porém o general ordenou ao prefeito municipal que enviasse a Zacatecas os dois padres e os jóvens da ACJM.




Padre Correa não quis deixar sua paróquia sendo que passou a esconder-se em casas e fazendas, mantendo tal procedimento ao longo de onze meses, foi por quatro vezes  encarcerado, inclusive tendo sido ameaçado de morte por Ortiz caso retornasse à paróquia.



O Senhor Bispo de Zacatecas Don Ignacio Plascencia (bispo que no ano 1908 havia levado por alguns meses ao jovem seminarista José María Robles em sua missão pela diocese de Tehuantepec) foi avisado pelo Padre Mateo quanto à ameaça, sendo que o bispo o autorizou - com as devidas precauções - a atender aos fiéis.


O dono da Fazenda de San José de Yanetes, Senhor José María Miranda, convidou ao Reverendo Padre Correa para passar ulguns dias em sua casa em meados de dezembro de 1926 e a partir deste local atendia aos fiéis.

Em 30 de janeiro de 1927, Eleuterio García, do rancho "Las Mangas", próximo à fazenda de San José de la Sauceda, pediu aoPadre Correa que fosse dar auxílio espiritual à sua mãe que estava doente, o que ele prontamente atendeu sendo acompanhado do Senhor José Miranda.

No caminho foi interceptado pela tropa. Eram cerca de oitenta soldados federais e mais o agrarista Encarnación Salas, que acabou por reconhecer o Padre mateo Correa, denunciando-o para o major José Contreras, que comandava aquele grupo militar.





São Mateo Correa Magallanes e à direita, interior da Igreja e o púlpito onde por vezes pregou São Mateo Correa aos fiéis.

Já detidos, Padre Mateo entregou rapidamente a Cuca, filha do Senhor Miranda, o relicário que continha o Santíssimo Sacramento que ele portava, para que o entregasse na capela de São José.

O Padre Mateo foi colocado no carro do Senhor José María Miranda, no qual também colocaram sua mãe e sua irmã Lupe. Dois soldados seguiam escoltando-os, sobretudo o clérigo.

Os levaram a Fresnillo - Zacatecas, e alí os encarceraram a todos, porém deixaram livres as mulheres e a outros, mantendo na prisão apenas o Senhor José María e o Padre Mateo, a quem os demais presos ofendiam e lhes diziam injúrias, ofensas essas que Padre Correa suportava pacientemente.

Nesse dia conseguiu enviar uma carta a suas irmãs onde lhes dizia:

"É tempo de padecer por Cristo Jesus, Aquele que morreu por nós".






Eulogio Ortiz, que estava a par de tudo, ordenou que no dia 1 de fevereiro os presos fossem trasportados por trem até o estado de Durango, onde desembarcaram no dia 3, diretamente para uma cela na prisão, onde o Reverendo Padre Mateo Correa consolava aos demais prisioneiros rezando o rosário e os incentivava a viver com fé e esperança cristãs.

No dia 5 de fevereiro, depois do jantar, o general Ortiz ordenou que se apresentasse em seu escritório o Padre Correa e lhe disse:


"Primeiro vá confessar esses bandidos rebeldes (alguns cristeros alí mantidos) que você está vendo e que serão fusilados brevemente, depois veremos o que faremos com você".

Padre Mateo atendeu as confissões dos sentenciados à morte e os preparou para bem morrer. Terminada sua atividade pastoral, o general lhe disse:


 "Agora me diga o que esses bandidos te disseram em confissão".


Natural foi a atitude do General ao encolerizar-se quando o Reverendo Padre Mateo Correa Magallanes se negou a fazer o que ele lhe pediu, dizendo:
"Jamais farei tal coisa".

-"Como assim jamais?" Replicou o general, e lhe gritou:

-"Vou mandar que te fusilem imediatamente!"

Padre Correa respondeu ao general:

"Pode mandar que me fuzilem, General... ignora o senhor que um sacerdote deve guardar o segredo de confissão. Estou disposto a morrer".

-"Padre, disse o general, já lhe havia dito que não voltasse a pôr os pés em Valparaíso, e não me destes ouvido. Não se lembra? Vou mandá-lo pra aquele lugar..."

Respondeu o Reverendo Padre Mateo:
"Faça de mim o que bem entender, eu estava apenas cumprindo com minha obrigação, porém peço que tenha piedade e misericórdia para com meu amigo, por favor, é pai de família e tem vários filhos".

Ao que respondeu o general:

- "Também a ele o mandarei pros quinto dos..."

Padre Mateo novamente o interrompeu:
"Eu chegarei primeiro diante de Deus e nada acontecerá ao meu amigo".


Com efeito, nada passou com o Senhor José María Miranda, que acabou livre.

No dia seguente, 6 de fevereiro de 1927, pela madrugada, os soldados levaram o Padre Mateo Correa Magallanes para um lugar solitário, próximo ao Cemitério oriente de Durango e lá o assassinaram. Padre Mateo entregou sua vida a Deus, crivado de balas de uma pistola calibre quarenta e cinco, arma pertencente ao própio general Eulogio Ortiz.

Tempos depois, o general Eulogio Ortiz, chamado "O Cruel", morreu no estado de Querétaro, quando por conta da epidemia de febre aftosa recebeu o encargo de obrigar os fazendeiros a sacrificar o gado para evitar a propagação da febre. Em uma de suas blitz tentou parar uma caminhonete que passava em alta velocidade, quando atravessou repentinamente diante da mesma e devido à sua imprudência foi atropelado.
Alí permaneceu inconsciente e com muitos ossos quebrados; após alguns dias acabou falecendo no hospital.



´Traslado das Relíquias de São Mateo Correa Magallanes
O corpo de Padre Mateo permaneceu oculto em meio aos arbustos. Foi encontrado somente três dias depois pelo Sr. José María Martínez, que retornava de seu trabalho diário e encontrando-o avisou as autoridades civís e militares.

Vários vizinhos se dirigiram ao local, porém se depararam com o lugar vazio: os mesmos soldados que o mataram já o haviam enterrado; eles, no entanto, viram o rastro de que haviam arrastado o corpo vários metros, deixando entre as pedras cabelos ensanguentados e o chapéu do sacerdote.

O Servo de Deus Mateo Correa Magallanes foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 22 de novembro de 1992, junto con seus 24 companheiros Mártires Mexicanos, na cerimônia realizada dentro da Basílica de São Pedro no Vaticano.

O  Beato Mateo Correa Magallanes foi canonizado por Sua Santidade João Paulo II no dia 21 de maio do Ano Santo 2000, durante a Missa de Canonização que se realizou na praça de São Pedro em Roma; data dedicada exclusivamente ao México dentro das cerimônias do Jubileo da Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.



 
Hoje em dia os restos mortais de São Mateo Correa Magallanes são venerados na capela de São Jorge Mártir, da catedral de Durango - Durango.

SÃO MATEO CORREA MAGALLANES, cristero mártir do segredo da confissão, rogai por nós!


Fonte: Santoral Latino

Tradução e adaptação: Morro por Cristo