
É o dia de celebrar o Sacrifício Redentor de Jesus Cristo pela salvação de
nossas almas. Por isso mesmo, é triste observar certas comunidades católicas que
caem na monotonia, que celebram seus momentos e datas mais importantes sem
emoção, sem entrega verdadeira e sem entrar no espírito da celebração. Isso é
válido para todos os momentos do Calendário Litúrgico, e mais ainda na ocasião
das vésperas da Páscoa do Senhor, o momento máximo da Igreja, quando ela inteira
vem celebrando a Semana Santa. É uma ocasião simplesmente maravilhosa para
renovarmos a nossa espiritualidade e a nossa fé em Jesus Cristo! É uma semana
que começa contemplativa, segue introspectiva e se encerra em festa.
Na
expectativa do Domingo da Páscoa e da Ressurreição do Senhor, vivemos quarenta
dias de contrição, interiorização e penitência, para comemorar enfim a grande
Vitória sobre o pecado e a morte. Vencendo as forças das trevas, Jesus ressurgiu
triunfal, para nos garantir a vida eterna! Mas antes do momento de celebrar a
nossa alegria cristã, por sermos católicos e por termos sido feitos filhos de
Deus, precisamos viver a Sexta-Feira da Paixão do Senhor.

Este
é ainda o primeiro dia do Tríduo Pascal. O que Jesus realizou ontem nos ritos da
Santa Ceia, Ele hoje realiza na dureza e angústia da Cruz: entregou-se
totalmente por nós, consumou por nós a sua vida, numa total entrega ao Pai, para
nos reconciliar com Deus. Hoje não é dia de reuniões festivas nem de se
empanturrar com bacalhoadas e se entregar ao consumo das bebidas alcoólicas.
Hoje, o verdadeiro cristão católico jejua e se abstém de carne. Hoje não se
celebra a Eucaristia, mas, às 15 h, os cristãos se reúnem em santa assembléia
para fazer memória da Paixão e Morte do Senhor, exaltando a Santa Cruz. Que o
dia de hoje seja de silêncio, oração e penitência. São as leituras do
dia:
# Is 52,13 – 53,12
# Sl 30
# Hb 4,14-16;
5,7-9
Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a
Deus por aquilo que sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de
salvação eterna para todos os que lhe obedecem. A Liturgia de hoje é solene e
dramática. O Altar é desnudo; nenhum ornamento... Quase não há palavras para
exprimir o Imenso Mistério que celebramos: o eterno Filho, Deus Santo, Vivo e
Verdadeiro, nesta tarde sacratíssima, por nós se entregou ao Pai, em total
obediência, até à morte, - e morte de cruz! Para contemplar o Mistério hoje
celebrado, tomemos, então, com temor e tremor, as palavras da Epístola aos
Hebreus, que escutamos.

Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que sofreu.
Eis aqui uma realidade que jamais poderemos compreender totalmente! O Filho
Eterno, o Filho que viveu sempre na intimidade do Pai, o Filho infinitamente
amado pelo Pai no seu caminho neste mundo, aprendeu a descobrir, a cada dia, a
vontade do Pai Celeste e a ela obedecer! Mais ainda: esta obediência lhe custou
lágrimas, angústias, humilhação, dores e sofrimento extremo! Toda a existência
do Senhor Jesus foi uma total dedicação ao Pai, uma absoluta entrega, no
dia-a-dia, nas pequenas coisas... Jesus foi procurando e descobrindo a vontade
do Pai nos acontecimentos, nas pessoas, nas Escrituras... E pouco a pouco foi
percebendo que esta Vontade ia levá-lo à cruz. E Ele, nosso Deus Salvador,
Poderoso e Forte, e ao mesmo tempo doce, manso e humilde de coração, foi se
entregando, se esvaziando, se abandonando por Amor a cada um de
nós...
“Abba! Pai! Tudo é possível para Ti: afasta de mim este cálice;
porém não o que eu quero, mas o que Tu queres!” (Mc 14, 36). Para o Senhor Jesus
Cristo, como para nós, a Vontade do Pai muitas vezes pareceu enigmática, e Ele
teve que discerni-la e descobri-la entre trevas densas e dolorosas. Mas, ao fim,
como nos comove a entrega total do Cristo: “Pai, em tuas Mãos entrego o meu
Espírito!” (Lc 23, 46). Em tuas Mãos, amado Pai, eu me abandono! Para nós, o
Filho é modelo e caminho de amor ao Pai. Ser cristão é entregar-se ao Senhor
Deus como ele se entregou. E esta entrega total foi por nós: “Cristo, por nós,
fez-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8).
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Quantos traidores Cristo tem hoje, entre aqueles que
"comem do mesmo prato" que Ele? |
“Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de
salvação eterna para todos os que lhe obedecem”. Isto é, tornado
perfeito na obediência, consumando toda a sua existência humana de modo amoroso
e total, entregando-se ao Pai por nós, ele se tornou causa da nossa salvação!
Vede, irmãos: não se oferece mais ao Pai sacrifícios de vítimas irracionais e
impessoais! Agora é o próprio Cordeiro santo e imaculado que, com todo amor do
seu coração, com toda dedicação de sua alma, se oferece livremente por nós
todos! Por isso ele “tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe
obedecem”, isto é, desde que nós entremos na sua obediência e dela participemos
na nossa vida. Entremos nessa obediência bendita e amorosa do nosso Senhor:
façamos de nossa vida uma entrega total ao Pai com Jesus: entrega de nossos
atos, de nossos pensamentos, de nossos afetos, de nossos negócios, de nossa vida
familiar e profissional, de nossas decisões e escolhas, de nossas relações
humanas... Tudo, absolutamente tudo, ofereçamos ao Pai com Jesus e por Jesus e
entraremos na salvação que nos trouxe por sua cruz! Nesta santíssima Sexta-Feira
da Paixão, somos convidados a não somente contemplar, admirados, a entrega total
do Filho ao Pai amado, mas também somos chamados a participar dessa mesma
entrega. É assim que Cristo é causa de salvação para nós!
Senhor Jesus,
que o teu sublime exemplo de amor ao Pai e a nós, nos comova e converta o
coração, tire-nos da preguiça espiritual e de uma vida cristã morna e falsa!
Senhor, obrigados por tão grande prova de amor a nós e ao mundo todo! Obrigados
por tuas dores, obrigados por tua cruz, obrigados por tua morte e por tua
sepultura!

Nós vos
adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz
remistes o mundo!
Com o exercício da Via Sacra,
recordamos as dores que nosso Redentor sofreu no caminho, do Pretório de
Pilatos, onde foi condenado à morte, até o Monte Calvário, onde, por amor a nós,
foi sacrificado na Cruz. Quando rezamos a Via Sacra, percorremos o caminho
doloroso do Calvário, que Jesus enfrentou em silêncio, até a morte tenebrosa,
por nossa salvação.
Na Via Sacra, Cristo carregou as culpas das pessoas
de todos os tempos e lugares. Mas Jesus ainda continua sendo torturado e
crucificado por homens que se deixam guiar por suas paixões, pela ignorância,
pela ganância desmedida, que se deixam seduzir por falsos profetas que adoram o
dinheiro como único deus e ensinam que o Evangelho se resume a uma espécie de
manual para alcançar prosperidade.
Porém, se sobre os ombros do Senhor
pesou a Cruz do sofrimento de toda a humanidade, ela também representa a nossa
vitória final. Sua Cruz deve se refletir em nossas vidas e em todas as nossas
obras, seja em nível pessoal ou profissional, sejamos nós ricos ou pobres. Os
homens que prendem, amarram, escarnecem e espancam Jesus simbolizam todas as
nações, classes e raças do mundo, quando não o ouvem. São a nossa imagem, quando
não procuramos fazer a nossa parte como cristãos.
A Vida Eterna, porém,
não nos é imposta: se Cristo não é acolhido, não dá fruto em nós, nesse caso seu
Sangue foi derramado inutilmente. Jesus tomou tudo a Si e em Si, pelo bem de
todos. Nossa parte é acolhê-lo verdadeiramente, profundamente, em nossos
corações e almas. É este o meio de morrermos com Ele para as dores e frustrações
deste mundo e renascermos para uma Eternidade de Amor e Luz.