"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica.
Um me distingue, o outro me designa.
É por este sobrenome que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos".
São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, ano 375 D.C.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

CRISTIADA - parte 5 - A Igreja e a Guerra


Fonte:ECWiki

Tradução: Morro por Cristo

Aprovações eclesiais quanto à luta armada

O Santo Padre Papa Pio XI
Antes de fazer a crônica desta guerra martirial, devemos nos deter a analizar com cuidado, por tratar-se de uma questão muito delicada: a atitude da hierarquia eclesiástica contemporânea diante dos cristeros. Prestemos atenção nas datas.
 
18 de outubro de 1926 - Em Roma Pio XI recebe uma Comissão de Bispos mexicanos, que lhe informa sobre a situação de perseguição e de resistência armada. Poucos dias depois, havendo proposto ao Cardeal Gasparri a questão de se os prelados poderiam dispor dos bens da Igreja para a defesa armada, responde que "ele, o secretário de Estado de Sua Santidada, se fosse Bispo mexicano, venderia suas jóias para o caso" (Ríus 138).
 

Pio XI e a Encíclica Iniquis afflictisque

 
18 de novembro de 1926 - Um mês depois o Papa publica sua encíclica Iniquis afflictisque, em que denuncia as perseguições sofridas pela Igreja no México:
"Já quase não sobra liberdade alguma à Igreja [no México], e o exercício do ministério sagrado se vê de tal maneira impedido que se castiga, como se fosse um delito capital, com penas severíssimas". O Papa louva com entusiasmo a Liga Nacional Defensora da Liberdade Religiosa, espalhada "por toda a República, onde seus sócios trabalham concordes e assiduamente, com a finalidade de organizar e instruir a todos os católicos, para opor aos adversários uma frente única e sólida". E comove-se diante do heroísmo dos católicos mexicanos: "Alguns destes adolescentes, destes jovens - como conter as lágrimas ao imaginá-lo - têm se lançado à morte, com o rosário em mãos, ao grito de ¡Viva Cristo Rey! Ininarável espectáculo que se oferece ao mundo, aos anjos e aos homens".

Membros da LNDR com faixas do Boicote à economia, uma das ações tomadas pelos católicos antes do levante armado 

30 de novembro de 1926 - Os dirigentes da Liga Nacional, antes de assumir a fundo a direção do movimento cristero, quiseram assegurar-se do apoio do Episcopado, e para isso, dirigiram aos Bispos um Documento em que solicitavam:
 
1- Uma ação negativa, que consista em não condenar o movimento.
2- Uma ação positiva que consista em: a) Sustentar a unidade de ação, pela conformidade de um mesmo plano e um mesmo líder. b) Formar a consciência coletiva, no sentido de que se trata de uma ação lícita, louvável, meritória, de legítima defesa armada. c) Habilitar canônicamente vigários castrenses (vigários gerais para os exércitos) d) Obrigar e patrocinar uma arrecadação em meio aos católicos ricos, para que forneçam fundos que se destinem à luta e que, ao menos uma vez na vida, compreendan a obrigação que têm de contribuir».
Em 30 de novembro os líderes da Liga são recebidos por Dom Ruiz y Flores e por Dom Díaz y Barreto. O primeiro lhes comunica jovialmente que, "como de costume, "se salieron con la suya""; ou seja, que tendo as propostas analisadas pelos Bispos reunidos na Comissão, "os diversos pontos do Documento haviam sido aprovados por unanimidade", menos os dois últimos, isso é, o dos vigários gerais e o dos ricos, não convenientes ou mesmo irrealizáveis.
 
15 de janeiro de 1927 - O Comitê Episcopal, respondendo à declarações incriminatórias do Chefe de Estado Maior de Calles, afirma que o Episcopado é alheio ao levante armado; porém, declara ao mesmo tempo "que há circunstâncias na vida dos povos em que é lícito aos cidadãos defender com armas os direitos legítimos que em vão procuraram defender por meios pacíficos"; e recorda todos os meios pacíficos empreendidos pelos Bispos e pelo povo, e desprezados pelo Governo. "Foi dessa forma que os prelados da hierarquia católica deram sua plena aprovação aos católicos mexicanos para que exercessem seu direito à defesa armada, no qual a Santa Sé previu que aconteceria, como único caminho que lhes sobrava para não ter que se sujeitar à tirania anti-religiosa" (Ríus 135).
 

Dom Pascual Díaz y Barreto
16 de janeiro de 1927 - No início de 1927, no entanto, chegam à Roma notícias da imprensa, em que se informa que Dom Pascual Díaz y Barreto, jesuita, bispo de Tabasco, que havia sido desterrado do México, em diversas declarações feitas no exílio se mostra reservado sobre os cristeros: "Como Bispo e como cidadão, Dom Díaz reprova a Revolução, independente de sua causa ou do que a motive" (Lpz. Beltrán 108).
Imediatamente, em 16 de janeiro, a Comissão de Bispos mexicanos envia uma dura carta a Dom Díaz y Barreto, então residente em Nova York, lamentando com profunda tristeza suas declarações públicas feitas "contra os generosos defensores da liberdade religiosa e algumas favoráveis ao perseguidor, Calles".
Os combatentes "dão o sangue e a vida para cumprir um santo dever, o de conquistar a liberdade da Igreja". Diante do grave e injusto abuso de poder, "existe o direito de resistir e de se defender, já que em vão  foram empregados todos os meios pacíficos possíveis, portanto é justo e devido recorrer à resistência e à defesa armada".
Pe. Arthur Vermeersch, sj
Os Bispos também recordam que "é nisso que crêem a maioria de nossos Irmãos [Bispos] do México", e também o "dos Padres da Companhia, não só no México, mas também na Europa e especialmente aqui em Roma". A propósito lhe citam as declarações feitas alguns dias antes (3-2-1927) pelo famoso moralista da Universidade Gregoriana, Padre Vermeersch, jesuita: "Agem mal aqueles que, pensando defender a doutrina cristã, desaprovam os movimentos armados dos católicos mexicanos. Para a defesa da moral cristã não é necessário recorrer a falsas doutrinas pacifistas. Os católicos mexicanos estão exercendo um direito e cumprindo um dever". Pouco depois chega um telegrama com a resposta de Dom Díaz y Barreto: "Autorizo honorável Comissão negar aquilo que se asegura dito por mim, contrário ao determinado todos nós, aprovado, Bendito Santa Sé. Autorizo honorável Comissão publicar este telegrama, se conveniente" (Lpz. Beltrán 109-110).
 
22 de fevereiro de 1927 - Em Roma, o presidente da Comissão de Bispos mexicanos declara à imprensa: "Os católicos agem bem ou mal pegando em armas? Até agora não haviamos querido falar, para não precipitar os acontecimentos. Mas uma vez que Calles mesmo empurra os cidadãos à defesa armada, devemos dizer: que os católicos do México, como todo ser humano, gozam em toda sua amplitude do direito natural e inalienável de legítima defesa" (107).
 
Alguns membros do Comitê Episcopal e da Liga Nacional de Defesa Religiosa
 
 
CONTINUA...
 
 
                       CRISTIADA - parte 2 - Continuam as perseguições à Igreja
                       CRISTIADA - parte 4 - Levantamentos dos Cristeros
 
 


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