"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica.
Um me distingue, o outro me designa.
É por este sobrenome que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos".
São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, ano 375 D.C.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Refutando o "jogo dos 7 erros" entre Bento e Francisco.

ou "por que não vendem tudo e dão o dinheiro aos pobres?" parte 2 (final)

Como anteriormente já havíamos avisado, publicamos agora nosso pequeno artigo que trata da comparação absurda que alguns (inclusive "católicos") estão compartilhando  nas redes sociais. Trata-se de uma foto-montagem comparando o Papa - agora emérito - Bento XVI e seu sucessor, Papa Francisco onde... bem, antes de tentar explicar as intenções do autor e de quem compartilha é ver diretamente essa "obra genial":

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REPARE NAS 7 DIFERENÇAS:

1. Mudou o trono dourado por uma cadeira de madeira... Algo mais apropriado para o discípulo de um carpinteiro (O Sr. Jesus).
2. Ele não aceitou a estola vermelha bordada a ouro roubada do herdeiro do Império Roman...o, ou a capa vermelha.
3. Usa os mesmos sapatos pretos velhos, não pediu o vermelho clássico.
4. Usa a mesma cruz de metal, nenhuma de rubis e diamantes.
5. Seu anel papal é de prata, não de ouro.
6. Usa sob a batina as mesmas calças pretas, para lembrar-se de que é apenas um sacerdote. Você já descobriu a sétima diferença?

(Retirou o tapete vermelho, Parece que não se interessa tanto pela fama e aplausos.)

EXEMPLO DE HUMILDADE!!!
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A montagem e o texto que a acompanha retratam apenas o ponto de vista de alguém que, no mínimo, desconhece o catolicismo, ponto de vista esse que infelizmente é assimilado e compartilhado por muitos desatentos. Também é evidente que seu autor não refletiu muito bem sobre o que estava a fazer, já que não se faz necessário grande esforço intelectual para perceber o quão frágeis e ridículos são os argumentos e a intenção dessa postagem. Aliás, a comparação tentando mostrar as diferenças entre as fotos como algo positivo acaba por mostrar - para um católico que conheça sua religião - algo na verdade negativo. A explicação principal será suficiente para responder a grande parte das "observações" aí levantadas, sendo necessários apenas pequenos complementos direcionados a pontos específicos. Comecemos por entender o porquê da simbologia na Igreja Católica.

Como sabemos, o ser humano é extremamente visual: sua compreensão é sempre maior quando uma imagem é associada aquilo que se busca compreender apenas por palavras. Por isso, desde criança as imagens se fazem presentes em nosso processo de aprendizagem. Enquanto que precisamos fazer um esforço muito maior para construirmos em nossa mente a imagem daquilo que ouvimos (e essa construção nem sempre é fiel aquilo que as palavras quiseram transmitir), ao observarmos uma imagem podemos dizer que "metade do trabalho está feito": tanto por já estarmos vendo a representação daquilo que deveríamos imaginar como pela fidelidade dessa representação.

Além da facilidade que as imagens proporcionam ao nosso entendimento, muitas vezes elas podem ser não apenas úteis como até mesmo necessárias para a compreensão. Exemplo: os números ou as letras do alfabeto. Imagine como seria difícil (talvez impossível) ordenar quantidades se não existisse esse sistema de símbolos - cada qual com seu significado - para nos ajudar? Sabemos que as imagens (algarismos) em si nada importam... o que realmente importa é o que elas representam. Por isso que muito nos revoltaria, por exemplo, se estivermos falando em dinheiro, merecer 300 e receber 003. Nesse exemplo, importa tanto o símbolo utilizado (poderia estar o algarismo 1 em lugar do 3) como também a ordem em que eles estão dispostos. Também sabemos que para se formar uma palavra é preciso associar as letras de maneira ordenada e pré-estabelecida para que assim adquira significado e represente algo. De nada adiantaria agrupar letras de qualquer maneira e sem seguir regra alguma pois esse aglomerado de letras nada significaria. Resumindo, pouco importa o elemento visual em si (os traços que formam os números ou as letras) mas sim aquilo que eles significam, o que eles representam.

Entendido este princípio, podemos aplicá-lo a praticamente tudo: R$10,00 não é a mesma coisa que R$ 10.000,00 (aqui acrescentamos apenas alguns algarismos), 90.001 não é o mesmo que 10.009 (apenas invertemos a ordem dos algarismos), cocó e cocô são palavras quase idênticas, no entanto, a representação gráfica sobre a última letra o (acento agudo em uma, acento circunflexo em outra) faz com que a primeira palavra represente algo muuuuuiiiiito diferente da outra. Assim também acontece com os símbolos e sinais: são importantes não em si mesmos mas sim pelo que representam.

Uma bandeira, por exemplo, representa um país, uma nação. Se um chefe de estado pisoteia ou queima a bandeira de um outro país, certamente estará dando motivos para que se inicie uma guerra. Literalmente, não fez mal algum a ninguém (apenas a um pedaço de tecido), mas, ao pisotear aquela bandeira, simbolicamente pisoteou a toda uma nação por ela representada. Um policial é tão policial fardado quanto nu, no entanto a farda representa sua dignidade como tal. Um médico não é menos médico nem se torna menos competente por não trajar seu jaleco branco, mesmo assim tal vestimenta o distingue dos demais e - mesmo que de maneira inconsciente - infunde mais confiança em seus pacientes.

Mesma utilidade possuem os troféus e as medalhas. Os participantes de uma competição são reconhecidos por seu desempenho e suas habilidades e como símbolo deste reconhecimento recebem medalhas, também elas distintas entre si, cada qual simbolizando um nível de reconhecimento: do quarto lugar em diante, apenas os cumprimentos. Ao 3º lugar, bronze. Ao 2º, prata. Ao 1º lugar, o tão emblemático ouro. Também entre os militares existem diversos tipos de medalhas onde cada uma simboliza a dignidade e os méritos de quem as ostenta.

E por falar em ouro, sabemos que desde a antiguidade, em diferentes civilizações e culturas este metal precioso foi utilizado como símbolo, tanto de riqueza e poder, como de dignidade e veneração: quanto mais alto fosse um posto - hierarquicamente falando - como mais nobre ou digno fosse algo ou alguém, mais ouro era utilizado para honra-lo ou representa-lo. E como vimos no primeiro artigo deste tema, o próprio Deus sancionou essa prática ao ordenar a construção de objetos e locais sagrados, a exemplo da Arca da Aliança a do Templo de Jerusalém, utilizando ouro.

Também útil é observarmos os Sacramentos. Podemos definir resumidamente um Sacramento como um "sinal visível da graça invisível". Embora a matéria de cada Sacramento não seja apenas um símbolo, eles podem muito bem ilustrar este nosso raciocínio. Se falarmos do batismo: Deus poderia muito bem nos introduzir em sua Igreja infundindo o Espírito Santo e nos purificando de nossos pecados sem recorrer à qualquer símbolo, no entanto estabeleceu que fosse empregada a matéria (água) e as palavras da fórmula batismal para que melhor compreendêssemos o momento em que isso ocorre. Assim acontece com todos os outros Sacramentos.

Até mesmo os pagãos compreendiam a importância e necessidade dos símbolos, tanto os deles como os dos cristãos. Nas grandes perseguições romanas os inimigos da Igreja muitas vezes exigiam aos cristãos por eles aprisionados que cuspissem na cruz de Cristo e queimassem incenso aos ídolos romanos. Cuspindo na cruz, símbolo máximo para o cristão, estaria este comprovando sua apostasia. Queimando incenso ao ídolo, estaria demonstrando sua aderência ao novo "deus" posto no lugar que antes era de Cristo.

A compreensão deste princípio lógico esclarece praticamente todo o restante. Poderíamos dar uma porção de outros exemplos (o símbolo dos times de futebol, as flores para a pessoa amada ou para um ente querido que se foi, etc.) mas acreditamos que o que escrevemos até aqui seja mais que suficiente para fazer entender que símbolos (sejam gestos, posturas ou objetos) são não somente úteis como muitas vezes necessários para expressar situações e sentimentos bem mais complexas como respeito, reconhecimento, aversão ou veneração.

Tendo isso bem entendido, é fácil compreender o porquê da Igreja Católica ir colecionando símbolos ao longo de seus dois mil anos de história. Sobre seus templos e o ouro neles empregado, acreditamos ter ficado esclarecido em nosso artigo anterior intitulado "O escândalo da pompa, do ouro e da riqueza da Igreja".

Se fossemos falar sobre os sacrários que guardam a Eucaristia ou sobre a Missa que proporciona essa mesma Eucaristia (gestos, postura, reverência, altar, paramentos, utensílios, etc) a explicação se torna ainda mais óbvia: se para a Fé Católica a Eucaristia É o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (veja bem, não apenas representa, verdadeiramente É) nada mais lógico do que utilizar aquilo que há de mais nobre, valioso, puro e digno no contato com Aquilo que é o centro da Fé Católica.

Agora... e quanto ao papa? Bem, para responder à essa pergunta utilizaremos o próprio texto do "jogo dos sete erros". Manteremos nosso texto nas cores normais enquanto que o texto maldosamente compartilhado estará destacado em vermelho. Vamos lá:

1. Mudou o trono dourado por uma cadeira de madeira... Algo mais apropriado para o discípulo de um carpinteiro (O Sr. Jesus).

Resposta: A questão do trono já foi introduzida em nosso artigo acima recordado (vide link acima). E qual a razão para o papa utilizar um trono como aquele e não uma cadeira comum? Ora, porque o papa não é um homem comum. Biologicamente o papa é um homem como qualquer outro, sujeito à doenças, a sentir fome, sede e demais necessidades fisiológicas de todo ser humano. Também, por ser homem, como qualquer outro está sujeito a cometer falhas, pecados, a se equivocar, a sentir medo, etc. Mas - repetimos - não é um homem comum, posto que recebeu do próprio Deus o mandato de governar a cristandade, de confirmar na Fé aos seus irmãos. Isso se deu quando Nosso Senhor Jesus Cristo entregou a Pedro essa missão, que se perpetuaria em seus sucessores até o fim dos tempos. Sendo assim, o trono presenteado ao papa há séculos (provavelmente à Alexandre VII por volta de 1660) e usado por todos os seus sucessores desde então se trata de um símbolo que apenas evidencia que o homem ali sentado tem um mandato especial dentre todos os homens, portanto hierarquicamente é sim superior a todos eles. Esse símbolo é semelhante ao de um pai de família, que geralmente senta à ponta da mesa simbolizando sua autoridade sobre a família da qual é o chefe.

2 - Ele não aceitou a estola vermelha bordada a ouro roubada do herdeiro do Império Roman...o, ou a capa vermelha.

Resposta: Essa é uma das afirmações mais ridículas da "grande obra" caluniosa: "Estola vermelha roubada do herdeiro do Império Romano"? Não creio que o autor saiba sequer do que está falando... ou sua intenção foi inventar uma grossa mentira sem fundamento para dar ares de importância à frase que escreveu ou se trata de puro e simples delírio. Além disso, o autor da frase faz questão de mencionar que a estola é bordada a ouro como se isso fosse um escândalo. Ora, novamente nos deparamos com a velha hipocrisia, já que provavelmente nessa estola encontraremos menos ouro do que no dedo - caso use aliança - daquele que escreveu tamanha bobagem.  Abaixo traduzimos uma explicação do porquê do uso da estola papal:

A estola é um ornamento litúrgico utilizado pelos ministros consagrados durante a celebração do culto a Deus e demais ações litúrgicas. É símbolo dos poderes sagrados recebidos de Deus, como pastor que leva suas ovelhas sobre os ombros, como mestre que ensina a seus discípulos, como guia que conduz as almas à vida eterna.

Ao coloca-la sobre os ombros, o sacerdote recita a seguinte oração: "Devolvei-me ó Senhor, a túnica da imortalidade, que perdi pelo pecado de meus primeiros pais; e ainda que me aproxime indignamente de vossos Sagrados Mistérios, fazei com que mereça, não obstante, o gozo eterno".

Pois bem, o sumo pontífice como ministro e pastor universal, usa como corresponde esse paramento que como tal é adornado com diversos motivos que fazem referência a episódios e personagens que são parte da história da salvação, constituindo-se assim mais do que uma simples peça de vestuário mas antes um instrumento de catequese silenciosa. Portanto, que passemos a ver no pontífice cada detalhe, cada ornamento e cada peça que veste não apenas como simples vestimentas mas antes como símbolos que nos remetem a Deus.

*(AQUI em espanhol o original deste trecho em destaque, assim como fotos dos Sumos Pontífices usando suas estolas papais).

Quanto à "capa vermelha", chamada mozzeta, embora poderia resumir os porquês de seu uso em poucas linhas, prefiro deixar aqui o link de um pequeno artigo mais completo e detalhado que explica sua origem e utilização, fazendo com que o leitor tenha uma melhor compreensão deste símbolo.

3 - Usa os mesmos sapatos pretos velhos, não pediu o vermelho clássico.

Resposta: Os sapatos "vermelhos clássicos" são os chamados múleos. A cor vermelha dos múleos papais representa o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e de seus mártires: usá-la no corpo significa estar disposto ao sacrifício. Também representa a completa submissão do papa à autoridade de Jesus Cristo e, novamente, indica que aquele que os usa não é um homem qualquer, mas sim o vigário de Cristo na Terra. Vemos que rica simbologia a cor desses sapatos carrega. Agora, uma pergunta: a tinta vermelha (ou o couro vermelho) são assim tão mais caros que a tinta ou o couro preto dos sapatos que o Papa usa atualmente? É óbvio que não! Além disso, vale lembrar que quando o Santo Padre o Papa Francisco foi eleito já haviam múleos prontos a espera de que ele os calçasse, portanto ele apenas deixa de usar algo que já estava pronto e que agora se encontra sem uso, inutilizado.

4 - Usa a mesma cruz de metal, nenhuma de rubis e diamantes.

Resposta: A cruz peitoral também representa a dignidade de quem a ostenta. No pescoço, podemos usar terço, cruz, medalha, crucifixo, etc. Mas como representantes da Igreja nem os leigos, nem diáconos ou sequer os sacerdotes podem ostentar uma cruz peitoral, essa reservada apenas aos bispos e a algumas posições específicas na hierarquia eclesiática (como o abade de um mosteiro, por exemplo). Quanto ao Santo Padre o Papa, por ser o primeiro entre os pastores, o chefe visível da Igreja, nada mais óbvio que fazer uso de uma cruz peitoral que simbolize essa dignidade. O hipócrita que escreveu esse texto se escandaliza caso o papa use uma cruz banhada em ouro mas certamente acharia a coisa mais normal do mundo presentear a sua amada com um colar de diamantes. É certo que o Santo Padre poderia optar por uma simples cruz de metal, embora seus antecessores sempre tenham utilizado douradas. O que de certa forma soou um pouco sem sentido foi continuar usando sua cruz de arcebispo, uma vez que já não é apenas mais um arcebispo, mas sim o Sumo Pontífice da Igreja Universal. Além disso, novamente se repete o mesmo ocorrido com os múleos: quando o Santo Padre Francisco foi eleito já havia uma cruz peitoral a espera do novo papa, pronta para ser usada, e que agora certamente se encontra sem uso dentro de alguma gaveta vaticana.

5 - Seu anel papal é de prata, não de ouro.

Resposta: Tudo o que foi dito sobre a cruz peitoral pode ser aplicado ao anel do pescador (tanto sobre a dignidade de quem o utiliza, a saber, Pedro, pescador de homens, e apenas seus sucessores, quanto sobre o fato de o Santo Padre se recusar a usar o anel que já havia sido confeccionado para o próximo papa).

6 - Usa sob a batina as mesmas calças pretas, para lembrar-se de que é apenas um sacerdote.

Resposta: Novamente o equívoco em se afirmar que o papa é apenas um sacerdote. Segundo o autor dessas palavras o papa é apenas mais um dentre tantos. De fato, como sacerdote, o papa e o pároco da comunidade onde moro oferecem o mesmo Sacrifício a Deus Nosso Senhor. A eucaristia consagrada por suas mãos na imponente Basílica de São Pedro é o mesmo Corpo de Cristo presente na Eucaristia consagrada na pequena capela localizada em nossa comunidade carente. No entanto, o papa não é apenas mais um... o papa é Pedro, a pedra sobre a qual Nosso Senhor Jesus Cristo edificou sua Igreja. Isso é mais do que suficiente para afastar todos os argumentos que buscam destituir o papado daquilo que ele realmente é.

Por fim o autor apresenta a sétima diferença como:

7 - "retirou o tapete vermelho, parece que não se interessa tanto pela fama e aplausos".

E finaliza sugerindo que tudo isso significa um "exemplo de humildade".

Resposta: Primeiramente, creio que a "essa altura do campeonato" já seja desnecessário explicar que também o tapete vermelho (assim como o degrau sobre o qual estava assentado o trono papal) sirva para simbolizar a dignidade do sucessor de Pedro presente entre os demais. Agora, dizer que isso significa que "não se interessa por fama e aplausos" resume e traduz toda a tentativa do autor no que ela realmente é: uma reflexão infantil. Ora, estamos falando do Papa ou de um participante do Big Brother? Como assim não se interessa por fama e aplausos? Desde quando seja missão ou característica de um papa se interessar por fama e aplausos? Acredito que quem se interesse por fama e aplausos geralmente procure outros meios mais eficazes de obtê-los.

Um papa deve se interessar por seguir à Cristo, confirmar os irmãos na Fé, governar a Igreja, conduzir o rebanho, apascentar as ovelhas, converter o homem à Cristo, denunciar a mentira, carregar a verdade, mesmo que com isso seja odiado pelo mundo e colecione inimigos. Em suma, o papa é amado pelos seus, mas odiado pelos inimigos de Cristo, odiado pelo mundo.

Agora me diga, a não ser entre os verdadeiramente católicos, geralmente qual o sentimento que os demais mantém com relação aos papas? Será de amor, de aplausos, de fama?

E entre os dois últimos papas, Bento XVI e Francisco I... qual dos dois conta com mais "fama" (no sentido popular deste termo)? Qual dos dois obeteve mais aplausos? Qual dos dois foi mais odiado?

A resposta é obvia.

Nos últimos anos, o que assistimos foi algo bem diferente daquilo que o autor da postagem insinuou. O papa que ostentava símbolos criticados pelo autor da montagem e tão caros à Religião Católica jamais obteve "fama", nunca recebia aplausos do mundo, era sempre criticado, caluniado, bombardeado, odiado. Amado por poucos... bem poucos...

Agora, quem se rejubila com as novas atitudes do Papa, com a retirada dos símbolos, com as mudanças de comportamento? Os inimigos da Igreja, os mesmos que sempre a combateram, estes são os que se felicitam com as mudanças operadas em tão pouco tempo.

O católico, aquele que verdadeiramente ama a Igreja e sabe ser ela a única fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, este se preocupa, se angustia, sofre.

Alguns dirão: Mas isso é o mais importante, os símbolos, os gestos? Lógico que não! Devemos ter em mente que, embora extremamente importantes, estes símbolos são acidentais, secundários, se comparados ao fim primário do primado de Pedro... Vale mais que o Santo Padre, mesmo que não fazendo uso deles, consiga tomar uma firme direção da Barca de Pedro conseguindo levá-la por bons mares, afastando-a da tempestade em que se encontra, do que ainda que mantendo toda a simbologia papal, afunda-la ainda mais na crise atual.

Também vale lembrar aos católicos desatentos que a crise a que me refiro não está relacionada aos "escândalos do banco vaticano", aos "vatileaks" ou coisas do tipo... a crise a que me refiro é a crise de fé, crise de identidade, ao modernismo, mazelas que fazem com que a Igreja se encontre na que é talvez a pior crise de seus 2 mil anos.

Portanto, mais do que nunca é hora de orar e jejuar... Oremus pro pontifice nostro, rezemos pelo nosso Santo Padre o Papa Francisco, para que o Divino Espírito Santo o conduza e o fortaleça no governo da Santa Igreja de Deus.

Viva Cristo Rey!
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

3º PAPA: Santo Anacleto (ou Cleto) - ano 79 a 92

Papa Santo Anacleto (3º Papa)
Pontificado: do ano 79 ao ano 92




Santo Anacleto, também conhecido por São Cleto, foi o terceiro Papa da Igreja Católica, portanto, o segundo sucessor de São Pedro na Sé apostólica.

Era de origem romana, da família dos pretorianos. Convertido à fé, fez-se discípulo de São Pedro, se bem que por pouco tempo, mas o suficiente para absorver as virtudes angélicas na escola de seu mestre, de forma que destacou-se por seu grande fervor e admirável devoção. Com sua afabilidade, conquistou o coração de todos, tendo especial simpatia mesmo entre os pagãos. São Pedro tanto apreciou Santo Anacleto que, assim como São Lino, o designou para importantes trabalhos apostólicos em Roma e lugares circunvizinhos.

Assumiu o trono pontifício logo após o martírio de seu predecessor, São Lino, no ano 79. Da mesma forma, enfrentou as dificuldades, perseguições e constantes investidas, defendendo com muita coragem as causas da Igreja de Cristo. Em todo o império romano, não havia província tão remota e nem rincão tão escondido, que não sentisse os efeitos da sua caridade e preocupação com as necessidades dos cristãos. A uns, socorria com esmolas, a outros, alentava com cartas, e a todos consolava e dirigia com paternais instruções. Ainda que seu rebanho fosse extremamente numeroso, pastoreava os cristãos com extrema vigilância.
Ao completar doze anos no governo da Igreja, o imperador Domiciano, inimigo mortal dos cristãos, moveu contra a Igreja uma das mais horríveis e atrozes perseguições. Foram usadas todas as formas de crueldades contra os servos de Cristo. Deflagrou uma verdadeira tempestade que simultaneamente atingiu todos os cantos do império. Tão fulminante foi a ordem de extermínio que, somente em um dia, tombaram milhares de mártires cristãos, cujo sangue correu desde a parte central até às regiões mais longínquas do império. Mas pouco caso o tirano fazia da exterminação do rebanho, pois tomou conhecimento que o Pastor ainda vivia e por isto, concentrou contra ele toda a sua ira. Ordenou aos guardas que fosse encontrado o Pontífice romano, o qual não cessava de percorrer, de dia e de noite, todas as cidades e lugarejos, campinas, grutas e mesmo cavernas, usadas como esconderijo cristão.
Na sua peregrinação, Santo Anacleto procurava consolar e assistir os cristãos, durante este duro período. Acabou sendo encontrado e foi arrastado e metido num cárcere, amarrado por cadeias. Grande alegria demonstrou, para admiração de todos, pois nutria o desejo de poder derramar seu sangue por Cristo. O tirano, ainda que impaciente em acabar com a vida do Pontífice, submeteu-lhe a diversos tormentos. Foi, pois, finalmente martirizado no dia 26 de abril de 92. Seus restos mortais encontram-se na Igreja de São Pedro, no Vaticano.

Santo Anacleto Papa, rogai por nós! Rogai pela Igreja da qual fostes o pastor!

domingo, 15 de setembro de 2013

Vídeo do funeral dos 3 mártires católicos de Maaloula - SÍRIA

Funeral dos 3 mártires cristãos mortos pela Fé

Reproduzo abaixo o link do vídeo que traz notícias sobre o funeral dos 3 mártires cristãos mortos em Maaloula - Síria. O vídeo está em italiano, no entanto ao assisti-lo conseguimos ter uma ideia da situação pela qual estão passando nossos irmãos de fé. A cerimônia foi celebrada pelo Patriarca Católico Greco-Melquita, Sua Beatitude Gregório III Laham, a quem tive o prazer de conhecer e assistir a Divina Liturgia por ele celebrada quando de sua visita ao Brasil em 2010.
 
 
Para aqueles não fazem ideia do que está acontecendo nesse país ou a que se refere esta postagem, também reproduzo o artigo publicado no site Fratres in Unum que conta um  pouco sobre o martírio destes católicos e o sofrimento dos nossos irmãos cristãos sírios.
 
Oremos pelos nossos irmãos da Síria!
 
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Foto da semana.



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 “Sou cristão e se querem matar-me porque sou cristão podem fazê-lo”

 
 
Por Rádio Vaticano - Para os cristãos sírios de Maalula, o vilarejo cristão ao norte de Damasco onde ainda se fala aramaico – e atacado nos dias passados por grupos armados islâmicos -, é considerado “terra de mártires”. Graças a uma testemunha ocular internada em um hospital de Damasco e que não quer identificar-se por motivos de segurança, foi possível reconstruir em detalhes o destino de três cristãos mortos na pequena localidade encravada nas montanhas. Os funerais foram realizados sob forte comoção, na Catedral Greco-melquita em Damasco, no dia 10 de setembro, em cerimônia presidida pelo Patriarca Melquita Gregório III Laham, na presença de Bispos e sacerdotes de outras confissões.
 
Segundo a testemunha contou à Agência Fides, os grupos armados entraram no dia 7 de setembro em várias casas de Maalula, destruindo, saqueando e aterrorizando, mas sobretudo golpeando imagens sacras. Em uma casa estavam três homens greco-católicos: Mikhael Taalab, seu sobrinho Sarkis el Zakhm e seu primo Antoun Taalab, além da testemunha do episódio. Os islamitas intimaram todos os presentes a converterem-se ao Islã. Sarkis respondeu com clareza: “Sou cristão e se querem matar-me porque sou cristão podem fazê-lo”. O jovem então foi morto a sangue frio, junto aos outros dois homens. A mulher ficou ferida, sendo conduzida em seguida para um hospital em Damasco. Na ação dos grupos armados, outros seis cristãos foram seqüestrados e levados para a região de Yabrud, na montanha de Qalamoun.
 
“Aquele de Sarkis é um verdadeiro martírio, uma morte por odium fidei”, afirmou a Irmã Carmel, que presta assistência aos cristão des Maalula. Muitos fugitivos da cidade estão em Damasco e só pedem para “poder retornar às próprias casas, em paz e segurança”.
 
As religiosas greco-ortodoxas do Convento de Santa Tecla foram ameaçadas e permaneceram vários dias sob tensão, enquanto os grupos armados ameaçavam invadir o Convento. Da estrutura foram removidos os crucifixos.
 
Nesta quarta-feira, soldados do exército regular sírio entraram em Maalula, sob o fogo de franco-atiradores escondidos nas casas e nas montanhas que circundam o vilarejo.
 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ex-protestante se converte à Igreja de Cristo!

Testemunho do ex-protestante Marcos J. Siqueira



Eu era presbiteriano, até me converter ao Catolicismo em 2004. Claro que esta é uma longa história… Não sei se conseguiria contar tudo aqui. Na verdade meu interesse pelo Catolicismo começou quase na mesma época em que comecei a considerar a hipótese de entrar para o seminário (presbiteriano). Sempre gostei muito de teologia, de estudar as Sagradas Escrituras, a História da Igreja e via nisso um sinal, uma espécie de chamado/vocação. Amava com sinceridade minha denominação e lá eu tive contato com muita literatura teológica e a cada dia eu tomava mais gosto pelo estudo, pelo conhecimento e é claro, pela oração.
O Presbiterianismo é basicamente nas doutrinas formuladas por João Calvino, que junto com Martinho Lutero é um dos maiores expoentes da chamada Reforma Protestante. Calvino era virulentamente anti-católico e seus escritos são quase todos voltados ao ataque à Igreja Católica. Eu gostava muito desses escritos, principalmente pelo fato de que, a príncipio, eram todos fielmente baseados na Bíblia, o que mais tarde descobri não ser verdade. Apesar de gostar muito destas leituras, o ataque quase obsessivo ao Catolicismo me incomodava embora nesta época eu ainda nem sonhasse em um dia me tornar católico. Incomodava-me mais, pela obsessão, pela tentativa contumaz de (tentar) destruir as bases sob as quais se assentam a Igreja Católica.
 
Lembro que mais ou menos nesta época (2002/2003) recebi, vindos da Espanha, dezenas de livros para a formação de pastores, todos obviamente escritos em espanhol, o que de certa forma foi ótimo, pois neste período pude aperfeiçoar meus estudos desta língua o que me é extremamente útil hoje em dia. Fiquei encantado, comecei a ler muito e a cada dia crescia em mim a vontade de servir mais e melhor a Deus. Sempre que podia eu dirigia os cultos, pregava, ensinava e tudo isso convencido de que fazia a vontade de Deus. Confesso que eu diferia um pouco dos demais membros do chamado “Conselho de presbíteros”, primeiro porque eu era um simples leigo, nem diácono, nem “presbítero’, era apenas um aspirante ao seminário que estudava muito e que na verdade, modéstia a parte, se interessava mais do que o próprio pastor pelo bem-estar da igreja. Nem preciso dizer que isso começou a gerar um certo desconforto, ciúmes talvez ou talvez inveja, na verdade não sei, nem posso afirmar, já que intenção só quem pode julgar é Deus Nosso Senhor. De qualquer forma dei uma recuada e tentei passar mais desapercebido, mas não consegui. Fomos convidados ( eu e minha família) a ocuparmos o apartamento pertencente à igreja e como na época eu tinha que arcar comas despesas de um aluguel nada barato eu acabei concordando e nos mudamos em seguida. Creio que este episódio foi o começo da grande reviravolta que minha vida sofreria, em todos os aspectos.
No começo tudo correu bem e eu tinha pedido muito a Deus que isso acontecesse, era m novo começo e uma ótima oportunidade de conseguir o que eu mais queria:ingressar no seminário.
Mas as coisas não correram bem como eu esperava, eu faço os planos, mas a palavra final pertence à Deus certo?
Posso afirmar que meus primeiros contatos, ainda muito tímidos, com o Catolicismo começaram depois da Semana Santa do ano de 2003, aliás, o ano de 2003 foi um tanto conturbado para mim em todos os sentidos.
Aos poucos fui percebendo o que não posso deixar de qualificar como certa “má-vontade” por parte do Conselho em relação à minha entrada para o seminário, a alegação era que a igreja não podia arcar com as despesas ( de fato muito altas), mas a verdade era outra e eu a descobriria posteriormente.
Provavelmente não deve haver alguém mais aficcionado em livros e em feiras de livros e “sebos’ do que eu. Na verdade, uma das minhas diversões prediletas é fazer aquilo que eu apelidei de “garimpo literário”, ou seja, procurar exaustivamente, em meio à dezenas, centenas de livros, algo que me interesse. no ano de 2003 minha ‘garimpagem” foi particularmente imensa, já que eu estava de certa forma “de pés e mãos amarrados” aguardando a resposta do “Conselho” quanto à minha ida ou não ao seminário. Aos poucos, fui perdendo a paciência e comecei a ponderar sobre a possibilidade de estudar em outro seminário, não necessariamente ligado à Igreja Presbiteriana, embora eu soubesse que não conseguiria ir muito longe, já que a mesma só aceita (ou pelo menos só aceitava) pastores formados em seu seminário. De qualquer forma, minhas leituras estavam me dando uma visão mais aberta, mais livre do pensamento fechado de Calvino e isso se revelou à mim como uma verdadeira primaverUM
CALVINISTA ECUMÊNICO?

Posso dizer, sem medo de errar, que eu era um verdadeiro presbiteriano e que admirava e aderia com toda a sinceridade às suas doutrinas, tanto que acabava me aborrecendo constantemente na igreja que eu freqüentava, já que a mesma caminhava a passos largos para o que eu posso definir como um “processo de pentecostalização”. eu já freqüentei – por pouco tempo – a Assembléia de Deus e a Igreja Pentecostal de Nova Vida, nas duas passei pouco tempo, não me acostumava com tantos “dons” e para ser sincero não acreditava que todas aquelas manifestações pudessem suportar uma crítica mais profunda, baseada nas Escrituras. Na verdade minha ida para uma “igreja histórica” se deu justamente por estas razões. Eu procurava algo mais fiel às Escrituras e não um festival de pirotecnia pseudo-espiritual. Não era a toa que eu estava me aborrecendo com os rumos que minha igreja ia tomando. Conversava com o pastor, mas este pouco me ouvia, não me censurava, mas também não coibia os abusos que iam cada vez mais se multiplicando. Aos poucos fui amadurecendo a idéia de entrar em outro seminário. A inércia do “Conselho” e a minha sede de conhecimento de Deus me fizeram tomar uma decisão e acabei me matriculando no seminário Peniel que na época (não sei agora) era um seminário interdenominacional, ou seja, poderia ser cursado por “crentes’ de qualquer denominação. Me empolguei mas fiquei um dia só. Meu pastor interveio, primeiro mandou que eu desistisse ( deste e do nosso seminário!) e me sugeriu que fizesse História já que eu havia manifesto à ele este antigo desejo que eu nutria desde minha infância. nossa! que decepção! foi terrível para mim, foi uma espécie de resposta não oficial do conselho e caiu como um balde de água fria sobre a minha cabeça. chorei muito, muitos dias.

Chegou enfim o dia da reunião do Conselho. Aqueles senhores sentados diante de mim e eu meio chateado, meio esperançoso aguardando uma resposta que fosse ela qual fosse, seria para mim um grande alívio. Pois bem, chegou à hora, dentre os presentes: cinco ou seis quase todos se posicionaram contrários à minha reivindicação, sendo que um deles alegou que eu era “muito católico”. Ah! E sabe por que ele disse isso? Bem, é justamente ai que entra a Semana Santa de 2003. na sexta-feira santa deste ano, eu propus ao nosso pastor que realizássemos um culto com “santa ceia” e que fizéssemos uma ‘liturgia’ mais sóbria,sem músicas agitadas e só com o coral e pedi à ele que me deixasse dirigir o culto. ele á princípio titubeou um pouco mas acabei convencendo-o. fiz isso por dois motivos, em primeiro lugar para levar o povo à uma meditação mais profunda na dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e em segundo lugar porque lendo um livro antiqüíssimo chamado “Peregrinação de Etéria”, descobri que a comemoração da chamada Sexta-Feira da Paixão é uma prática que remonta aos primitivos cristãos: séculos III e IV!!! Então, percebi que não era uma ‘invenção” da Igreja Católica mas uma prática bi-milenar! Quem quiser conhecer este livro, aqui está: http://www.veritatis.com.br/article/3805. pois bem, o culto foi realizado. fiquei muito feliz! as pessoas pareciam mais piedosas e o pastor pregou enfim sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor e a santa ceia foi celebrada de forma muito bela. infelizmente poucos gostaram e isso atentou contra mim, até o fim. Depois deste culto senti que não era o mesmo. Claro que ainda lia os “mestres da Reforma’, mas minha mente e meu coração já haviam mudado significativamente.

Até então eu não me referi em momento algum a questões pessoais e nem vou fazê-lo, mesmo porque minha saída da Igreja Presbiteriana não se deu por questões deste porte e muito menos minha conversão ao Catolicismo. Digo isto porque alguns pensam e muitos pensaram à época, que tudo se deu por conta de desavenças pessoais, o que , diante de Deus eu nego, pois simplesmente não foi. Além do que eu poderia ter ido para outra denominação e, bem, vamos continuar: voltando à reunião do Conselho, acabaram, sabe-se lá porque concordando com que eu fizesse a prova e me deram o dinheiro da matrícula no “vestibular”. Sinceramente eu não esperava isso, o clima frio e nada cordial que me cercava na igreja não prenunciava uma decisão como essa, no entanto dei graças a Deus e decidi esperar.

Trabalho aqui no centro do Rio de Janeiro. Um lugar tumultuado e cheio de gente, mas se também muito belo e muito rico em obras de arte.monumentos, museus. Nem preciso dizer o quanto aprecio essas coisas. As igrejas então… Sempre as achei belíssimas ( e de fato são, belíssimas, lindas! mas evitava entrar nelas mas não posso negar que me atraíam.

Ainda nesta época a questão das imagens me incomodava muito, bastante, embora eu já houvesse lido muitos argumentos à favor como por exemplo este, do papa Gregório Magno: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).

Ora, eu havia aprendido no meio evangélico (não só na presbiteriana, mas em todas as igrejas) que o Catolicismo promovia a idolatria e que adoravam imagens e principalmente a Virgem Maria. Resolvi então descobrir por mim mesmo, se assim fosse, isso seria abominável e mesmo satânico. Pois bem, este texto que transcrevi acima é apenas uma pequena amostra dos muitos outros que pouco a pouco foram me fazendo mudar de idéia. Resolvi ler o CIC (Catecismo da Igreja Católica), ensino oficial da mesma sobre o assunto.

Claro que hoje compreendo bem o porquê e o para que das imagens, mas não pense que foi fácil, na verdade, foi uma luta terrível, eu queria – e quero – fazer a vontade de Deus e por isso buscava-O intensamente, precisava saber o que fazer! em relação á este assunto, uma das descobertas mais formidáveis que fiz foi a de que os cristãos, ainda no tempo das grandes perseguições, já utilizavam imagens! Nossa! Isso caiu como uma bomba sobre minha cabeça já um tanto atordoada. Foi uma descoberta que me desconcertou e então resolvi deixar de lutar contra a minha consciência. Claro que não sai correndo e enchi minha casa de imagens de tudo o que é santo, não era essa a questão e isso nem era importante, ter ou não as imagens, mesmo para a Igreja Católica é algo secundário e não fundamental. O que se precisa deixar claro, isso sim, é a finalidade que damos à elas, como a utilizamos. Ah! Aqui está o link com as imagens da Igreja primitiva: http://praelio.blogspot.com/2009/02/igreja-primitiva-x-protestantismo.html

Pois bem, a questão das imagens estava superada. Depois descobri que nem mesmo Lutero dava muita importância para elas, além do que, inúmeras igrejas protestantes possuem imagens em seus templos. Fiquei feliz ao perceber que havia superado esta questão, mas ao mesmo tempo me via cada vez mais desafiado pela Igreja, tantas descobertas feitas e eu ainda sem saber ao certo o que fazer ou como agir, afinal eu tinha uma convicção plena de que queria ser pastor, eu não me imaginava fazendo outra coisa, não me via em outro ofício senão o de cuidar das pessoas e ensinar à elas o caminho para Deus.

MINHA ESPOSA E A MISSA.

Ainda não havia falado sobre minha esposa! Bem, ela me acompanhou em todos os momentos, desde minha crise inicial até a nossa recepção “oficial” na Igreja Católica. Também ela via em mim um potencial, sabia de minha “vocação”, de meu “chamado” e me dava muita força, embora andasse um tanto quanto descontente com a forma como era conduzida a nossa igreja. Eu sempre conversei franca e abertamente com ela e nunca, em momento algum lhe escondi minhas hesitações, ela, no entanto ponderava e pedia que eu refletisse, tivesse muita calma e, sobretudo orasse com sinceridade por uma resposta. Até então a sua opinião acerca da Igreja Católica não diferia em nada da maioria dos evangélicos: idolatria e heresias, adoração à Maria etc.

Lembro bem de quando tive a primeira noção do que era a Santa Missa, a Divina Eucaristia. Até então, tudo o que eu sabia sobre isso era fruto de minhas leituras de Lutero, Calvino e demais autores protestantes: John Stott, Martin Lloyd-Jones e outros não tão conhecidos. Claro que, devido a esta formação eu pensava ser a Santa missa uma blasfêmia, uma sacrílega “repetição” do Sacrifício Único do Calvário, obviamente era uma noção errada ao extremo, mas infelizmente eu não tinha quem me esclarecesse, até então…

Aqui no Centro do Rio de Janeiro, existe uma igreja belíssima dedicada à São Basílio Magno que é um dos chamados “Santos Padres”, primeiros teólogos da Igreja – aqui você pode conhecer um pouco mais sobre eles: http://cocp.veritatis.com.br/

Bem, não sei se você sabe, mas a Igreja Católica possui diversos ritos diferentes e esta pequena igreja adota o rito melquita, que é um rito oriental por isso sua arquitetura é toda ela “orientalizada”, cheia de ícones, turíbulos e um altar belíssimo. Pois bem, certa vez, indo para o meu trabalho resolvi passar por esta igreja para ver se ela estava aberta, já que sempre que eu passava estava fechada, por ser ainda muito cedo. Neste dia, porém – providencialmente – ela estava aberta e dentro havia um padre de batina preta, barba longa, que me olhou curioso ao ver que eu havia entrado na Igreja àquela hora como se procurasse por algo (e bem que eu procurava!). Ele veio então falar comigo, perguntou se eu era católico e eu disse que não, que era presbiteriano e expliquei à ele onde ficava a nossa “catedral”, aliás ali bem perto. Ele me disse já ter entrado lá para apreciar a arquitetura (a catedral presbiteriana é em estilo gótico). Eu confesso que fiquei sem graça, meio sem jeito para conversar com ele até que ele me perguntou se eu não gostaria de ir um dia à Missa ali na sua igreja. Eu fiquei sem reação e disse que sim, que iria sim e ele me disse assim: Venha sim, mas infelizmente você não poderá participar da comunhão. Eu não tinha idéia do quanto aquilo significava mas consenti e fui embora, não sem antes ser abraçado fortemente por este sacerdote e ( devido aos seus costumes orientais – ele não era brasileiro) ter ganho dois beijos no rosto! Achei engraçado e acolhedor, além do que suas palavras mexeram comigo. Pronto: aguçada minha curiosidade e tocado pela Graça de Nosso Senhor fui atrás de uma melhor explicação:

Afinal, o que é a Missa, o que é Eucaristia?

Pode-se dizer que a “santa ceia” celebrada pela grande maioria dos evangélicos e protestantes é na verdade fruto do entendimento daquilo que Lutero ( e ainda mais Calvino) entendiam ter sido a última Ceia de N.S.J.C. com seus apóstolos. Lutero passou boa parte de sua vida tentando “destruir” a Missa e Calvino dizia ser esta um sacrilégio, uma blasfêmia. Veja esta frase de Lutero: “Sim, eu digo: todas as casas de tolerância, que, entretanto Deus condenou severamente, todos os homicídios, mortes, roubos e adultérios, são menos prejudiciais que a abominação da missa papista.” (Werke, t. XV, 773-774)” Pois é, este era o nível de argumentação de Lutero que nunca fez questão de esconder o seu ódio. Entretanto Lutero manteve a “sua missa” que depois ficou comumente conhecida como “santa ceia”. entretanto já não havia a crença no Sacrifício Propiciatório, não havia mais a Presença Real e Substancial de Cristo nas espécies consagradas sob a aparência do pão e do vinho mas sim uma espécie de “empanação”: sim, Cristo estaria presente, mas somente de forma espiritual, junto com o pão e o vinho e assim sendo não se poderia mais adorar a Hóstia Santa. Lutero também suprimiu todas as orações do ofertório ( tudo aquilo que demonstrava claramente ser a Santa Missa um verdadeiro sacrifício) apesar de ter conservado o termo “sacrifício de louvor” , que contudo, não abrange toda a extensão e essência da Santa Missa.

Tudo isso que escrevi acerca da Missa e da Eucaristia era uma novidade para mim. Sempre procurei participar da “santa ceia” da maneira mais digna possível e de preferência tendo “confessado” os meus pecados à Deus. ( sim! vou falar também sobre a Confissão).

Nesta altura dos acontecimentos eu já não me contentava em ler só livros evangélico-protestantes, afinal eu estava prestes a dar um passo importante na minha vida e que seria de certa forma definitivo. Eu não queria aventuras e muito menos justificar tudo como sendo pura e simplesmente “vontade de Deus” apenas para esconder ou disfarçar meu “conformismo”. Claro que eu confio na Providência, claro que sei que é Deus Nosso Senhor que guia as nossas vidas e nos aponta o Caminho certo, afinal de Si mesmo disse Nosso Senhor Jesus: “Ego Sum, Via, Veritas et Vita” , Eu Sou o Caminho, A Verdade e a Vida Jo 14,6. Ora, Ele sendo o próprio Caminho, não haveria de me deixar sem respostas, muito menos desorientado.

Uma coisa importante, aprendi nesta época: a recorrer sempre aos antigos escritores eclesiásticos, àqueles “Pais da Igreja” do qual eu lhe falei em um dos meus últimos e-mails. Ora, tendo muitos deles convivido com os próprios apóstolos, seriam sem dúvida uma fonte fidedigna de informação, mas sinceramente, dentro do meu íntimo eu tinha receio do que encontraria nestes escritos, era como se eu estivesse passando por uma lenta metamorfose. Resolvi então procurar em sebos e mesmo na internet alguma coisa sobre a Missa. Afinal, era uma “invenção” romanista ou uma Verdade maravilhosa que remonta aos primeiros cristãos.

Bem, a resposta que tive não poderia mesmo ser outra: TODA a estrutura da Santa Missa já é encontrada em documentos do I século! Veja por exemplo este breve texto, escrito por São justino, que depois foi morto por causa de sua fé em Cristo Nosso Senhor:

“No chamado dia do Sol,( domingo ) reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos.

Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima, ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água. Então o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. “Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados” (Justino – I Apologia Cap. 66-67 : PG 6,427 – 431).

Depois de descobertas como esta, resolvi “abrir o jogo” com minha esposa sobre a questão da Eucaristia e tive então uma das maiores surpresas de minha vida. Já era tarde da noite e conversávamos sobre amenidades até que tomei coragem e resolvi falar-lhe sobre o assunto. Não precisei de muito tempo até que ela tomasse a palavra e me confidenciasse que nunca conseguiu se satisfazer plenamente com aquilo que sempre lhe ensinaram ser a “santa ceia’, ela sempre esperou mais, sempre acreditou em algo mais do que aquilo e isso sem que ela NUNCA houvesse estudado uma únical linha do Catecismo Católico e desconhecesse completamente a doutrina Católica da Missa. Obviamente eu perguntei se ela havia lido algo em algum livro meu, mas ela negou, disse apenas que não concordava com “tão pouco”. Eu entendi bem aonde ela queria chegar e então conversamos durante longas horas sobre a Igreja, os sacramentos, sobre Maria Ssmª , o Papa e etc. Claro que não dormimos protestantes e acordamos católicos, mas resolvemos ir à Santa Missa no domingo, mesmo tendo que participar do culto pela manhã.

Esqueci de dizer que pedi dipensa das aulas da EBD, não me sentia mais a vontade ensinando aquilo que eu já não cria mais. No princípio, eu aproveitava as aulas para tentar me convencer que estava errado, que a “Reforma” foi “gloriosa” e que o verdadeiro Cristianismo estava na “igreja evangélica” mas minha resistência foi um verdadeiro fiasco, então para ser coerente e honesto comigo mesmo desisti das aulas.

Passamos então a ir às Missas de 18:00 h numa pequena capela que ficava perto de nossa igreja, Como trabalhávamos ainda na igreja não podíamos ir juntos então minha esposa ia uma semana com minha filha ( então com 04 anos) e eu ia na outra. Foi um período de grandes descobertas e profundas modificações. Confesso que não compreendíamos muita coisa, mas sabíamos que estávamos em casa e pouco a pouco todas as dúvidas foram se dissipando.

Chegou o dia da prova do seminário e eu simplesmente não fui. Achei justo devolver o dinheiro mas não quiseram aceitar, o que para mim foi uma humilhação mas dei graças a Deus, afinal eu já não me importava muito com isso. Nesta época minha esposa descobriu uma gravíssima lesão na coluna cervical e por conta disso ficou em licença médica durante mais ou menos dois meses, justamente quando nossa igreja sediou um congresso de pastores. Até hoje agradeço a Deus pelo seu modo de agir tão paternal, nos livrando de mais constrangimentos.

Neste período em que minha esposa ficou doente, resolvemos pedir demissão, mas eles se anteciparam, já não havia clima para nossa permanência e aqui – infelizmente – preciso falar de algo pessoal, o pastor simplesmente sumiu, se negou a conversar, não quis ouvir nossas razões e simplesmente, até o dia em que fomos embora ele nunca mias se dirigiu a mim. Fiquei muito triste é verdade, mas de certa forma já esperava por isso.

Alugamos uma casa e fomos embora sem maiores satisfações. Sentimos um grande alívio e graças a misericórdia infinda de Nosso Deus estamos até hoje E PELA MISERICÓRDIA DE DEUS NOSSO SENHOR,ESPERAMOS ESTAR ATÉ O DIA DE NOSSA MORTE, na Única Igreja fundada por Cristo onde eu fui batizado aos 29 anos, onde recebemos o Corpo e o Sangue de Cristo, onde batizamos nossa filha e nos unimos verdadeiramente pelo Sacramento do Matrimônio.

Marcos J. Siqueira
FONTE