Missa na Quaresma: Paramentos roxos (penitência, contrição) |
Hoje iniciamos a Santa Quaresma, tempo litúrgico que se inicia com a Quarta-feira de Cinzas.
Embora muitos sejam dispensados do trabalho, colégio e demais atividades por conta desse dia (outros o "aproveitam" com farras e bebedeiras em extensão ao carnaval) a grande maioria não compreende o que de fato é a Quaresma assim como o dia santo que nela nos introduz: a Quarta-feira de Cinzas.
Primeiramente, vamos compreender melhor o que é o tempo litúrgico denominado QUARESMA.
Quaresma é o período de 40 dias de jejum e penitência que precedem à festa da Páscoa (a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo). Esse período é observado desde os tempos apostólicos e está relacionado aos 40 dias em que Nosso Senhor Jesus Cristo passou no deserto, orando e jejuando.
Observação aos leitores do blog: Após finalizar o artigo que tratava deste tema, enquanto o revisava minutos antes de publica-lo, ocorreu um erro que acabou por apagar tudo o que eu havia escrito (infelizmente não adquiri o hábito de ir salvando o que escrevo). Infelizmente só sobrou a introdução acima e, por não ter tempo disponível para reescreve-lo, reproduzo abaixo o excelente artigo do apostolado O Fiel Católico que trata do mesmo tema. Boa leitura:
Quarta-feira de Cinzas e início da Quaresma
NESTE INÍCIO de Quaresma, procuremos, mais
ainda do que a mortificação corporal, aceitar o convite que a Liturgia
sabiamente nos faz, de combater o amor próprio com todas as nossas forças.
"Procurai o mérito, procurai a causa, procurai a justiça; e vede se
encontrais outra coisa que não seja a Graça de Deus" (Santo.
Agostinho).
Ao receber, daqui a pouco, as cinzas sobre a
cabeça, ouviremos mais uma vez um claro convite à conversão que pode
expressar-se numa fórmula dupla: "Convertei-vos e crede no Evangelho"; ou:
"Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar".
Precisamente devido à riqueza dos símbolos e
dos textos bíblicos, a Quarta-Feira de Cinzas é considerada a porta de entrada
da Quaresma. De fato, a Liturgia e os gestos que a distinguem formam um conjunto
que antecipa resumidamente as características próprias de todo o período
quaresmal. Na sua tradição, a Igreja não se limita a oferecer-nos a temática
litúrgica e espiritual do itinerário quaresmal, mas indica-nos também os
instrumentos ascéticos e práticos para o percorrer frutuosamente.
"Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração,
com jejuns, com lágrimas, com gemidos!" (Jl 2,12). Os sofrimentos e calamidades
que afligiam naquele tempo a terra de Judá estimulam o autor sagrado a encorajar
o povo eleito à conversão, isto é, a voltar com confiança filial ao Senhor
dilacerando o seu coração e não as vestes. De fato, recorda o profeta, Ele "é
clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia e se compadece da
desgraça" (2,13). O convite que Joel dirige aos seus ouvintes também é válido
para nós.
Não hesitemos em reencontrar a Amizade de Deus
perdida com o pecado; encontrando o Senhor, experimentamos a alegria do seu
Perdão. E assim, quase respondendo às palavras do Profeta, fazemos nossa a
invocação do refrão do Salmo 50: "Perdoai-nos Senhor, porque pecamos!".
Proclamando o grande Salmo penitencial, apelamos à Misericórdia Divina; pedimos
ao Senhor que o poder do seu Amor nos volte a dar a alegria de sermos
salvos.
Com este espírito, iniciamos o tempo favorável
da Quaresma, como nos recordou São Paulo: "Aquele que não havia conhecido o
pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, n'Ele, justiça de
Deus" (2Cor 5, 21), para nos deixarmos reconciliar com Deus em Cristo Jesus. O
Apóstolo apresenta-se como embaixador de Cristo e mostra como precisamente
através d'Ele é oferecida ao pecador, isto é, a cada um de nós, a possibilidade
de uma reconciliação autêntica.
Só Cristo pode transformar qualquer situação de
pecado em novidade de Graça. Eis porque assume um forte impacto espiritual a
exortação que Paulo dirige aos cristãos de Corinto: "Em nome de Cristo
suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus"; e ainda: "Este é o tempo favorável,
é este o dia da salvação" (5,20; 6,2).
Enquanto Joel falava do futuro Dia do Senhor como quem fala de um dia de terrível juízo, São Paulo fala de um tempo favorável, do Dia da Salvação. O futuro Dia do Senhor tornou-se o "Hoje". O dia terrível transformou-se na Cruz e na Ressurreição de Cristo, no Dia da Salvação. E este dia é agora, como diz o Canto ao Evangelho: "Hoje não endureçais os vossos corações, mas ouvi a Voz do Senhor". O apelo à conversão, à penitência, ressoa hoje com toda a sua força, para que o seu eco nos acompanhe em cada momento da vida.
Enquanto Joel falava do futuro Dia do Senhor como quem fala de um dia de terrível juízo, São Paulo fala de um tempo favorável, do Dia da Salvação. O futuro Dia do Senhor tornou-se o "Hoje". O dia terrível transformou-se na Cruz e na Ressurreição de Cristo, no Dia da Salvação. E este dia é agora, como diz o Canto ao Evangelho: "Hoje não endureçais os vossos corações, mas ouvi a Voz do Senhor". O apelo à conversão, à penitência, ressoa hoje com toda a sua força, para que o seu eco nos acompanhe em cada momento da vida.
A Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas indica
assim, na conversão do coração a Deus, a dimensão fundamental do tempo
quaresmal. Esta é a chamada muito sugestiva que nos vem do tradicional rito da
imposição das cinzas. Rito que assume um duplo significado: o primeiro é
relativo à mudança interior, à conversão e à penitência; o segundo recorda a
precariedade da condição humana, como é fácil compreender das fórmulas que
acompanham o gesto.
Amados irmãos e irmãs, temos quarenta dias para
aprofundar essa extraordinária experiência ascética e espiritual. No Evangelho
(cf. Mt 6,1-6.16-18), Jesus indica quais são os instrumentos úteis para
realizar a autêntica renovação interior e comunitária: as obras de caridade, a
oração e a penitência. São três práticas fundamentais queridas também à
tradição hebraica, porque contribuem para purificar o homem aos Olhos de
Deus.
Estes gestos exteriores, que devem ser
realizados para agradar a Deus e não para obter a aprovação dos homens, são por
Ele aceitas se expressarem a determinação do coração em servi-lO com
simplicidade e generosidade. Recorda-nos isto também um dos Prefácios quaresmais
onde, em relação ao jejum, lemos esta singular expressão: "Ieiunio... mentem
elevas", ou "com o jejum elevas o espírito" (Prefácio IV).
O jejum, ao qual a Igreja nos convida neste
tempo forte, certamente não nasce de motivações de ordem física ou estética, mas
brota da exigência que o homem tem de uma purificação interior que o
desintoxique da poluição do pecado e do mal; que o eduque para aquelas renúncias
saudáveis que libertam o crente da escravidão do próprio eu; que o torne mais
atento e disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. Por esta razão o
jejum e as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã como
armas espirituais eficientes para combater o mal, as paixões negativas e os
vícios.
"Como no findar do inverno volta a estação do Verão e o navegante arrasta para o mar o barco, o soldado limpa as armas e treina o cavalo para a luta, o agricultor lima a foice, o viajante revigorado prepara-se para outra longa jornada e o atleta depõe as vestes e prepara-se para as competições; assim também nós, no início deste jejum, quase no regresso de uma Primavera espiritual, forjamos as armas como os soldados, limamos a foice como os agricultores, e como timoneiros reorganizamos a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Como viajantes retomamos a jornada rumo ao Céu e como atletas preparamo-nos para a luta, com o despojamento de tudo."
(São João Crisóstomo- Homilias ao povo antioqueno, 3)
A Quaresma é também, assim como não poderia
deixar de ser, um tempo de profundo ardor eucarístico. Buscando naquela Fonte
inexaurível de Amor que é a Eucaristia, na qual Cristo renova o Sacrifício
Redentor da Cruz, cada cristão pode perseverar no itinerário que hoje
empreendemos solenemente. As obras de caridade, a oração, o jejum, - juntamente
com qualquer outro esforço sincero de conversão, - encontram o seu significado e
seu valor mais alto na Eucaristia, centro e ápice da vida da Igreja e da
história da salvação. "Este Sacramento que recebemos, ó Pai", - assim rezamos no
final da Santa Missa, - "ampare-nos no caminho quaresmal, santifique o nosso
jejum e o torne eficaz para a cura do nosso espírito".
Pedimos a Maria Santíssima que nos acompanhe
para que, no final da Quaresma, possamos contemplar o Senhor ressuscitado,
interiormente renovados e reconciliados com Deus e com os irmãos. Amém!
Significado da Cerimônia de Cinzas
A Igreja nos indica, nas orações recitadas por
seus ministros, o significado da cerimônia das Cinzas:
"Ó Deus, que não quereis a morte do pecador mas a sua conversão, escutai com bondade as nossas preces e dignai-vos abençoar estas cinzas que vamos colocar sobre as nossas cabeças. E assim reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova à semelhança do Cristo ressuscitado."
É, pois, a penitência que a Igreja nos quer ensinar pela cerimônia deste dia. Já no Antigo Testamento os homens se cobriam de cinzas para exprimir sua dor e humilhação, como se pode ler no livro de Jó e em tantas outras passagens da Escritura. Nos primeiros séculos da Igreja, os penitentes públicos apresentavam-se nesse dia ao bispo: pediam perdão revestidos de um saco, e, como sinal de sua contrição, cobriam a cabeça de cinzas. Mas como todos os homens são pecadores, relata Santo Agostinho, essa cerimônia estendeu-se a todos os fiéis, para lhes recordar o preceito da penitência. Não havia exceção alguma: pontífices, bispos, sacerdotes, reis, almas inocentes, todos se submetiam a essa humilde expressão de arrependimento.
Tenhamos os mesmos sentimentos: deploremos
nossas faltas ao recebermos das mãos do ministro de Deus as cinzas abençoadas
pelas orações da Igreja. Quando o sacerdote nos disser "lembra-te que és pó, e
ao pó hás de tornar", ou "convertei-vos e crede no Evangelho", enquanto impõe as
cinzas, humilhemos o nosso espírito pelo pensamento da morte que, reduzindo-nos
ao pó, nos porá sob os pés de todos. Assim dispostos, longe de lisonjearmos o
nosso corpo destinado à dissolução, tomemos a decisão de tratá-lo com dureza,
refrear o nosso paladar, os nossos olhos, os nossos ouvidos, a nossa língua e
todos os sentidos; a observar, o mais possível, o jejum e a abstinência que a
Igreja nos prescreve. Rezemos juntos:
Ó Deus, inspirai-me verdadeiros sentimentos de humildade, pela consideração do meu nada, ignorância e corrupção. Dai-me o mais vivo arrependimento das minhas iniquidades que feriram vossas Perfeições infinitas, contristaram vosso Coração de Pai, crucificaram vosso Filho dileto e me causaram um mal maior do que a perda da vida do corpo, pois que o pecado mortal é a morte da alma e nos expõe a uma morte eterna. Pelo mesmo Cristo, Vosso Filho. Amém!
A Igreja sempre admoestou os fiéis a não nos se
contentarem com os sinais externos de penitência, mas a lhe beberem o espírito e
os sentimentos. Jejuemos, diz ela, como o Senhor deseja, mas acompanhemos o
jejum com lágrimas de arrependimento, prosternando-nos diante de Deus e
deplorando a nossa ingratidão na amargura dos nossos corações. Mas essa
contrição, para ser proveitosa, deve ser acompanhada de confiança. Por isso a
Igreja sempre nos lembra que nosso Deus é cheio de bondade e misericórdia,
sempre pronto a perdoar-nos, o que é um forte motivo para esperarmos firmemente
a remissão das nossas faltas, se delas nos arrependermos. Deus não despreza
jamais um coração contrito e humilhado.
O pensamento da morte convida-nos ainda a viver
mais santamente, e quão eficaz é essa recordação! A Liturgia termina
exortando-nos a tomarmos generosas resoluções confiando plenamente em Deus. À
borda do túmulo e à porta do Tribunal Supremo, quem ousaria enfrentar o seu
Juiz, ofendendo-o e recusando o arrependimento ou vivendo na negligência,
tibieza e relaxamento?
Coloquemo-nos, em espírito, em nosso leito de morte, e armemo-nos dos sentimentos de arrependimento e contrição que nesse caso teríamos. Depositemos nossa confiança na Misericórdia Divina, nos méritos de Jesus e na intercessão da Mãe da Igreja. Prometamos ainda ao Senhor:
Coloquemo-nos, em espírito, em nosso leito de morte, e armemo-nos dos sentimentos de arrependimento e contrição que nesse caso teríamos. Depositemos nossa confiança na Misericórdia Divina, nos méritos de Jesus e na intercessão da Mãe da Igreja. Prometamos ainda ao Senhor:
** Cortar dos nossos pensamentos tudo o
que desagrada a Deus;
*** Viver, durante esse período, no
recolhimento interior que favorece em nosso espírito a oração e nos separa de
tudo o que não é Deus.
___________
Adaptação da Homilia de Quarta-feira de Cinzas (21/2/2007) do Papa Bento XVI, na Basílica de Santa Sabina no Aventino
Ref. bibliográfica:
• KEELER, Helen; GRIMBLY, Susan. 101 Coisas que Todos Deveriam Saber Sobre o Catolicismo. São Paulo: Pensamento- Cultrix, 2007
Fonte do artigo: O Fiel Católico
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